A Epifania

Coldplay-"Fix You"

X&Y (2005)

Esta semana decidi fazer as pazes com o meu passado musical. Por isso as linhas que se seguem são o meu sincero pedido de desculpas à banda de Chris Martin e companhia:

Nascidos em 1998, os Coldplay editaram o seu álbum de estreia, Parachutes, no longínquo ano de 2000. O sucesso comercial bateu-lhes logo à porta e a crítica tecia um futuro bastante auspicioso para o quarteto londrino. Temas como "Yellow" e "Trouble" foram a rampa de lançamento e ainda hoje ressoam nos ouvidos de muito boa gente. Em 2002 chegaria A Rush of Blood to the Head, aquele que ainda hoje é considerado a verdadeira obra-prima da banda e cujas 15 milhões de cópias vendidas os elevaram de promessa a certeza.

Não sei ao certo quando ouvi falar deles pela primeira vez. Provavelmente terá sido na rádio, mas naquela altura não atribuía a mínima importância a temas como "In My Place" ou "The Scientist" e por isso, passaram-me completamente ao lado. Lembro-me, porém, dos tempos em que tive a noção que eram das maiores bandas do Mundo. Ou melhor, sabia que eram mas não compreendia o porquê.

Estavamos em 2005, na era de X&Y, o 3º álbum que se fazia anunciar por "Speed of Sound". Eu, que à época contava com uns ingénuos 13 anos, era devorador de tudo o que habitava os topes musicais mas não demonstrava interesse algum pelos Coldplay. Inclusivé, tinha uma amiga que os idolatrava e cheguei a ridicularizá-la por ouvir os temas deles. Nos dias que correm compreendo agora que lhe fiz uma espécie de bullying musical, por isso se estiveres a ler estas linhas, Sara, perdoa os meus actos irreflectidos.

Contudo, o meu desprezo viria a ser atenuado com o 2º single, o luminoso "Fix You". Fui apanhado desprevenido de tal maneira pelo falsetto de Chris Martin e pelo órgão angelical, que vi-me obrigado a reduzir as muralhas que em torno deles construira. Não fiquei convencido do dia para a noite, mas foi o suficiente para deixar de ter a tal animosidade que tinha acumulado. Seguiram-se então "Talk" e "The Hardest Part" pelos quais também demonstrei um certo afecto. Chegado a este ponto, já os tolerava, mas estava longe de imaginar que se tornariam na minha banda favorita.

Aquilo a que eu gosto de chamar uma epifania, deu-se em 2008, pouco tempo antes da edição de Viva la Vida or Death and All His Friends. Estava desanimado com a vida e senti que precisava de uma banda sonora para aquele estado de puro desalento. Foi então que começaram a ressoar na minha cabeça excertos do tema "The Scientist": "nobody said it was easy"... "I'm going back to the start"... e sem dar por isso, estava a ouvir alguns dos temas mais melancólicos dos Coldplay.

Foi um instante até começar a explorar o seu legado musical, tanto o que estava para trás como o que estava para vir. "Violet Hill" foi o 1º single extraído do 4º álbum e apesar da sua estranha essência, agradava ao meu ouvido. Escusado será dizer que quando escutei "Viva la Vida" entraram de vez no meu coração.

3 anos passaram desde essa epifania sagrada e o certo é que hoje posso afirmar com plena convicção que os Coldplay são a minha banda favorita. Foi por essa razão e como maneira de aliviar a minha consciência, que comprei Mylo Xyloto (sim, devo ser das últimas pessoas à face da Terra que ainda gasta o seu dinheiro em discos), o fascinante novo álbum: uma explosão de sonoridades e cor, resultando em mais um triunfo para o quarteto que ousou sonhar e ir mais além neste 5º álbum.

Para os momentos de dor, melancolia, êxtase e alegria, os Coldplay são a banda sonora da minha vida. Tenho pena de não lhes ter reconhecido o valor logo desde o início mas agora percebo que só aos 16 anos fui capaz de compreender a magnitude das suas letras e o encanto das suas melodias. Obrigado, Coldplay, por colorirem a minha vida.