Dez anos de Foxes em dez canções

 

Por estes dias estamos ancorados em The Kick, o fantástico terceiro longa-duração de Louisa Allen aka Foxes, no ano em que se assinala também uma década do lançamento dos seus primeiros inéditos. Razão de sobra para recordarmos os pontos altos de uma das discografias pop britânicas mais interessantes e distintivas dos últimos dez anos: 

1) "White Coats", Warrior EP (2012)- Porta de entrada para o universo pop alternativo de LouLou, permeado por apontamentos electrónicos, baixo insano e a ambiência grandiloquente que perseguiria ao longo do percurso - tudo ainda em tubo de ensaio, com possibilidades ilimitadas. Integraria também o seu primeiro longa-duração.

2) "Clarity", Clarity (2012)- Para muitos o primeiro contacto com Foxes, "Clarity" é um dos porta-estandartes da vaga EDM que atingiu o mainstream da década passada em cheio. Da feérica produção house progressiva de Zedd, passando pela lírica bem trabalhada à interpretação fulgorante de Louisa, poucas outras canções captam tão bem o zeitgeist da época como esta. Foi top 10 nos EUA e valeu-lhes o Grammy para Melhor Gravação de Dança.

3) "Youth", Glorious (2014)- Hey, big eyes. A canção já existia desde 2011, mas assim que a sua carreira descolou foi lançada oficialmente e serviu de cartão-de-visita do seu debute. Composto como resposta aos obstáculos que enfrentou no início da carreira e como lembrete para não abdicar dos seus sonhos, "Youth" é um memorial à jovialidade e nada menos do que uma canção extraordinária, repleta de nuances e levada à vida com um visual tão tumbleresco

4) "Let Go for Tonight", Glorious (2014)- Ainda o maior êxito a solo de Foxes, é outro caso de um tema que foi alvo de um revamp sonoro do EP para o primeiro disco. Mais uma vez, pop expansiva e multicolorida preenchida de cordas e sintetizadores caleidoscópicos, sobre sucumbir ao momento sem reservas - novamente o espírito jovial e poster girl ao alto. 

5) "Holding onto Heaven", Glorious (2014)- Na constelação de singles brilhantes que lançou nos anos inaugurais da carreira, paira também este encantador tema sobre alternar constantemente entre estados de espírito distintos, complementado com um vídeo alado que expressa bem essa dicotomia. Valeu-lhe o seu quarto single de top 20 no Reino Unido.

6) "Body Talk", All I Need (2016)- Não lhe demorou muito tempo a reagir ao bem-sucedido álbum de estreia: cerca de um ano após ter rematado a era, aí estava outro single formidável materializado na ginga synthpop catárctica de "Body Talk", quando se pede permissão ao corpo para esvazar o que a mente e as palavras não conseguem. Uma pop mais refinada se bem que menos distintiva, ainda da melhor colheita de 2015.

7) "Better Love", All I Need (2016)- O segundo single do segundo álbum deveria ter sido uma colaboração com os Bastille, com o vocalista Dan Smith a ocupar créditos na escrita e nos coros do tema - certamente teria impulsionado a sua trajectória nas tabelas. Prosa dance pop galopante recheada de arrependimentos ainda não superados de uma relação passada, é outro dos momentos mais memoráveis do álbum nº2.

8) "Love Not Loving You", Friends in the Corner (2021)- Depois de um longo hiato de quatro anos, Louisa voltou de forma estupenda, pela primeira vez a fazer as coisas nos seus próprios termos. Ginasticada prosa sobre a maravilhosa sensação de nos libertarmos dos sentimentos para com um ex, "Love Not Loving You" desenrola-se numa excêntrica passada funk pop com sintetizadores cósmicos e um quanto espírito devedor ao cancioneiro de Peter Gabriel. Um oásis ali à espreita no princípio da pandemia.

9) "Woman", Friends in the Corner (2021)- Muito do seu regresso entre 2020-2021 passou pela reclamação da sua independência enquanto artista, mas primeiro teve que existir uma emancipação enquanto mulher. É precisamente sobre isso que versa o segundo avanço do EP do ano passado, um grito de afirmação em tempos de agitação social, à luz da condição feminina. E que bonito é poder ouvir a robustez e emotividade da sua voz acompanhada de um singelo piano.

10) "Sister Ray", The Kick (2022)- O novo sopro de vida de Foxes trouxe consigo também o terceiro álbum, o recém-editado The Kick, uma exploração sónica em tons synthpop/disco que se fez anunciar com a disco vibrante e caleidoscópica de "Sister Ray", feita da mesma energia e matéria que tornam as noites inesquecíveis. Banhemo-nos nesse júbilo.


Venha de lá esse amor para com LouLou e, já sabem, deitem os ouvidos a The Kick o quanto antes. 

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