MTV Video Music Awards 2014: Beyoncé e os outros


A versão resumida da 31ª edição dos VMAs será qualquer coisa como isto: Ariana Grande impõe-se definitivamente como a nova sensação da pop, Nicki Minaj sofre convulsões no traseiro e de uma vontade indomável de se despir, Jessie J é apanhada no rebuliço, Taylor Swift aponta a mira para Las Vegas, Sam Smith agiganta-se e dá uma lição de humildade, Usher sua as estopinhas e resiste às investidas de Minaj, Lorde triunfa no panteão rock sem saber muito bem como, os One Direction agora vêm da Austrália, usam piercings e tocam guitarra, Iggy Azalea sai de mãos vazias mas com o respeito da nação revigorado, os Maroon 5 continuam agarrados ao manual dos Police, Miley Cyrus cumpre penitência auto-imposta pelas blasfémias do ano passado, trucidando a concorrência com aquele vídeo tutorial de demolição de paredes e equilíbrio em estruturas esféricas e depois... depois houve Beyoncé a fazer aquilo que melhor sabe - a ser a maior performer da sua geração, numa noite que foi inteiramente sua e de mais ninguém.

Conheçam agora a versão demorada destes VMAs, um pouco mais detalhada e sem tanta malícia intencional. Primeiro, a lista completa dos vencedores:

Video of the Year- Miley Cyrus- "Wrecking Ball"

Best Male Video- Ed Sheeran- "Sing"

Best Female Video- Katy Perry feat. Juicy J- "Dark Horse"

Artist to Watch- Fifth Harmony- "Miss Movin' On"

Best Pop Video- Ariana Grande feat. Iggy Azalea- "Problem"

Best Rock Video- Lorde- "Royals"

Best Hip-Hop Video- Drake feat. Majid Jordan- "Hold On, We're Going Home"

MTV Clubland Award- Zedd feat. Hayley Williams- "Stay the Night"

Best Collaboration- Beyoncé feat. Jay-Z- "Drunk in Love"

Best Direction- DJ Snake and Lil Jon- "Turn Down for What"

Best Choreography- Sia- "Chandelier"

Best Visual Effects- OK Go- "The Writing's on the Wall"

Best Art Direction- Arcade Fire- "Reflektor"

Best Editing- Eminem- "Rap God"

Best Cinematogrophy- Beyoncé- "Pretty Hurts"

Best Video with a Social Message- Beyoncé- "Pretty Hurts"

Best Lyric Video- 5 Seconds of Summer- "Don't Stop"

Michael Jackson Video Vanguard Award- Beyoncé

Segue-se a minha opinião acerca dos performers e vencedores:


Directamente do planeta Zaircón para o Fórum de Inglewood, Ariana Grande desce da sua nave espacial para interpretar o papel de bonequinha do DJ galáctico (neste caso o ausente Zedd) que se apoia no seu ar de Lolita - tem ar de quem acabou de fazer 16 anos mas o B.I acusa 21 - e nas benditas cordas vocais dignas de uma jovem Mariah Carey à espera de florescer. Na verdade, "Break Free" não foi tão bom quanto deveria ter sido: faltou-lhe genica e pujança vocal nos momentos de maior sobriedade. De qualquer forma, não saiu lesada de modo algum: basta-lhe esvoaçar o cabelo, sorrir e soltar uma ocasional nota potente para ficarmos conquistados.


"Oh-my-gosh, look-at-her-butt!" As palavras são retiradas desse fantástico êxito viral que é "Anaconda" - vídeo com que Nicki Minaj atinge níveis históricos de decadência e prostituição artística alguma vez registados nos canônes do panorama musical - e que resumem esta sua actuação: 2 minutos de diarreia oral, twerks insuflados e auto-depreciação em prol de sabe-se lá bem o quê. E eu que pensei que depois de "Starships" era-lhe impossível descer ainda mais baixo...


O grande final do acto introdutório dá-se ao som de "Bang Bang", esse portento hit que reúne as artistas anteriormente referidas a Jessie J, que quase se vê ofuscada na sua própria canção. Talvez ao início tenha estado demasiado apagada, mas depois foi vê-la num despique vocal com Ariana, já mais confortável e melodiosa. Quanto a Miss Minaj, viu-se à rasca para debitar os versos e segurar o vestido matreiro que a ia deixando totalmente descascada em palco. A canção teria resultado muito melhor se lhe fosse conferido um tratamento cénico decente. Merecia mais, sem dúvida.


É anunciado o primeiro prémio da noite, o de Best Female Video, que foi parar às mãos de Katy Perry - com uma fatiota em homenagem à vestimenta de Britney Spears na edição de 2001 - e ao seu risível "Dark Horse", possivelmente o pior vídeo feminino a receber tal distinção no séc. XXI, apenas equiparável ao ano em que "Starships" triunfou injustamente nessa categoria. É então tempo para Taylor Swift, a namoradinha da América, tomar conta do palco - e é seguro dizer que o ocupou bem - com o novíssimo e apetitoso "Shake It Off", que teve direito a um batalhão de dançarinos e a um sketch quase humorístico. Foi a sua quarta performance nos VMAs e foi seguramente a vez em que mais gostei de a ver. 


Segue-se a entrega do Best Male Video a - quem diria?! - Ed Sheeran, que assim vence o seu primeiro Moonman e deixa para trás nomes de peso como Eminem e Pharrell Williams. Inesperado, mas completamente merecido. Pouco depois é altura de revelar que o Best Pop Video fica nas mãos de Ariana Grande e do inescapável "Problem", o que só vem confirmar a crescenta rota de sucesso para que esta rapariga se encaminha. Posto isto, o jovem Sam Smith sobe ao palco para uma belíssima actuação de "Stay with Me" a fazer lembrar o momento intimista e igualmente humilde de Adele em 2011 quando arrebatou a plateia com o lacrimejante "Someone Like You". A meu ver, a segunda melhor actuação da noite.


Segue-se o anúncio do depositário de Best Hip-Hop Video: Drake e o seu incrível "Hold On, We're Going Home", que triunfou, tal como previ, sobre os supremos Eminem e Kanye West. Já era tempo do rapaz ganhar qualquer coisinha. Chega então o momento de Usher apresentar o seu "She Came to Give It to You", que não é mais do que o "Blurred Lines" Outono/Inverno 2014 ao qual nem falta Pharrell aos comandos da produção. O signor Usher é conhecida por ser um tremendo performer, mas creio que ontem não esteve ao seu melhor nível, acusando alguma falta de energia. E não, não foi certamente o traseiro de Nicki Minaj - uma vez mais, completamente desnecessária - que lhe fez tirar o fôlego. Talvez tenha sido do combo entra a coreografia complexa - ao menos aí nunca falha, foi irrepreensível - e a maior exigência vocal do tema.


Nunca me passou pela cabeça que Lorde conseguisse arrebatar o troféu de Best Rock Video, talvez porque já me parecia um perfeito disparate estar nomeada nesta categoria, algo que aparentemente se explica pelo facto de "Royals" ter liderado a tabela Hot Rock Songs da Billboard nada mais nada menos do que 19 semanas. Pareceu-me que até a própria ficou um bocado acanhada por ser alvo de tal distinção, mas com Ella nunca se sabe. De qualquer forma, a miúda continua ser um assombro.


Há pouco fui bastante mauzinho para os 5 Seconds of Summer. Para começar não têm mão de Simon Cowell, o que já é de louvar, depois não merecem o epíteto de boysband já que, ao contrário destas, conseguem tocar os seus próprios instrumentos. Ei-los aqui em plena actuação de "Amnesia", canção demasiado morna para um evento desta envergadura. Aquele 1º single pegajoso teria sido uma melhor escolha. De qualquer forma acho que vale a pena acompanhar o percurso destes mini Blink-182. O concorrido prémio de Artist to Watch foi entregue de seguida às Fifth Harmony (essas sim com mão de Cowell), uma girlsband simpática mas ainda à procura do seu espaço. E acho que carregam nos ombros o peso de terem que se tornar na próxima grande girlsband americana, um título extinto desde que as Pussycat Dolls foram afiar as unhas para outras paragens. Portanto, este prémio é um incentivo para que as coisas resultem.


Desfia-se em palco a teia das "viúvas negras" Iggy Azalea e Rita Ora - outra que vem à boleia, tal como Jessie J - naquele que foi o dueto mais bem conseguido da noite. Iggy foi implacável nos versos e na postura de palco - nunca vi uma rapper com tanto apelo de estrela pop - enquanto Miss Ora foi competente no refrão que fica a pairar na cabeça. Gostei do momento, mas confesso que preferia ter visto e ouvido o descarado "Fancy", com a espevitada Charli XCX ao lado da rapper australiana. Aliás, tal como preferia ter ouvido "Problem" em vez de "Break Free". Mas nestes casos são sempre os singles actuais a serem interpretados ao vivo.


A actuação dos Maroon 5, em estreia no palco dos VMAs, leva-nos ao exterior do recinto onde Adam Levine e sus muchachos interpretam "Maps", sem dúvida um dos hits mais sobrevalorizados da temporada estival. Desde "Moves Like Jagger" que não os vejo a fazer nada de substancial nem sequer de enriquecedor ao campeonato pop para o qual agora concorrem, mas mesmo assim gostei mais do que estava à espera. O riff decalcado dos Police - uma cartilha que vêm a estudar desde o 2º álbum - bem como os ornamentos vocais de Adam Levine fizeram a diferença. Segue-se o último prémio da noite, e o mais aguardado também, o de Video of the Year que estupidamente vai parar às mãos de Miley Cyrus, este ano dedicada às causas sociais ao alertar para o milhão e seiscentos sem abrigo jovens espalhados pelas ruas de L.A., fazendo-se representar por um rapaz que supostamente tirou da rua. Gasto que está o filão de desavergonhada, agora tem que apostar na rota da filantropia. Bem, pelo menos desta vez sempre é algo educacional.


Como viram, muito há a dizer acerca dos VMAs deste ano, mas nada será tão importante ou memorável como a homenagem feita a Beyoncé - algo que poderia ter sido feito há pelo menos 3 anos, mas que parece ter acontecido no momento perfeito, na era em que a vimos editar o seu disco mais sublime de sempre e a reescrever as regras da indústria musical. Por essa mesma razão decidiu distanciar-se dos êxitos que lhe conferiram este estatuto de quase divindade e focar-se apenas no álbum em que passou a ocupar um patamar de grandeza inatingível a muitos outros contemporâneos seus. Daí ter escolhido um título falsamente provocador para este post, que não pretende ofender nem desvalorizar os demais: simplesmente o que ela fez foi tão superior ao que demais houve, que é potenciador de uma amnésia colectiva relativamente ao que ficou para trás. Assim é o poder de Beyoncé.


"MTV, welcome to my world"

Naquilo a que convém chamar de experiência inédita nos meandros televisivos, Beyoncé passou a pente fino o seu último disco num estupendo medley de 15 minutos. Começou com a tela vanguardista de "Mine" e a sua promessa de amor eterno, passou pelo espectral "Ghost" polvilhado pelo interlúdio de "Pretty Hurts", pelo ultra noir e semi-maléfico "Haunted", pela cadência sedutora e ofegante de "No Angel", paragem demorada no confessional "Jealous" que por certo alimentava as suspeitas de divórcio, pela disco tingida de funk do delicioso "Blow", o meu segmento favorito - porque raio ainda não o lançou como single?! - pela já incontornável "Drunk in Love" e a sua sofreguidão de amor e desejo carnal, levou-nos às estrelas com esse aprumado objecto de veludo e prazer que é "Rocket", deslizou no divã e no varão ao som do libidinoso "Partition", levou a plateia ao rubro com o groove dirty de "Flawless" e o seu mítico "I woke up like this!", com a filha Blue Ivy a imitar a coreografia e tudo, passou sub-repticiamente pelo alado "Superpower" e pelo thug anthem "Yoncé", seguiu para um ternurento "Blue", dedicado à filha, e terminou banhada em glória com o maravilhoso "XO", em sintonia com o público. 


No final recebeu das mãos do marido - calando assim os rumores de divórcio - e da filha - que há 3 anos atrás foi anunciada ao mundo em plenos VMAs no final de um formidável "Love on Top" - o Michael Jackson Video Vanguard Award, banhada em lágrimas pela presença dos dois, devido ao amor imenso que recebeu do público e verdadeiramente grata por ser a depositária de tão honroso prémio. E assim terminou mais uma edição dos VMAs que, à semelhança do que sucedeu no ano passado com Justin Timberlake, ficará para a história pelo magnífico contributo de Beyoncé. Acredito que um dia mais tarde será ela a dar o nome a um Prémio Carreira, pois o seu poder não se esgota nestes feitos e muito mais estará para vir no decorrer dos seus próximos 20 anos. Hail to the one and only, Queen B. 

Comentários

  1. Concordo com tudo o que dizes lol vi a repetição e realmente a Beyoncé rebentou com aquilo ahah. apenas um reparo a fazer. A Taylor Swift pode ter feito um espectáculo bonitinho mas a voz dela às vezes nem se ouvia...

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