Ben Howard e os reinos que hão-de vir


Já lá vão uns 6 meses desde a última vez que me converti a um artista após alguns anos de indiferença e incompreensão. Katy B, lembram-se? Agora a história repete-se desta feita com Ben Howard, um dos mais promissores talentos da nova geração a agraciar as fileiras da indie folk made in Britain. 

O disco de estreia de há 3 anos atrás, Every Kingdom, passou-me completamente ao lado por vontade própria. "O quê? Mais um Jack Johnson com canções à volta da fogueira a falar de surf e agarrado ao seu ukulele? Obrigado, mas acho que vou passar". Fui injusto com o rapaz, é verdade. Mas na altura não tinha um terço da tolerância e ecletismo que tenho hoje em dia. É um surfista nato, sim senhor, as suas canções têm pendor acústico e enquanto a cena da fogueira é discutível, uma coisa é certa - encosta o Jack Johnson a um canto. 

Diria mais que conserva a textura vocal de Ed Sheeran e uma certa brisa melódica de Bon Iver mas sem a cabana. É o que depreendo agora que escutei, por fim, o álbum e encontrei beleza em canções como "The Wolves" - muito interessante aquilo que faz com a voz - "Diamonds", "Only Love" ou "Promise". Mas isso ficou lá atrás, retrato artístico de um período em que possivelmente faria sentido expressar-se desta forma. Há mais, muito mais para descobrir na música de Ben Howard.



A começar pelo The Burgh Island EP, editado em Outubro de 2012, morada de "Esmerelda" ou deste sublime "Oats in the Water" que os seguidores de The Walking Dead - possivelmente a melhor série desta década - certamente reconhecerão (episódio 5 da última temporada), e que assinala um novo fulgor na carreira de Ben Howard, com canções mais encorpadas, sombrias e ambiciosas que se espraiam em diálogos com guitarra acústicas e eléctricas.

Mas a supresa e confirmação do seu talento, pelo menos aos meus olhos, chegou esta semana com o lançamento de "End of the Affair", novo tema que antecede o seu próximo álbum, e que é só uma das coisas mais espantosas que já ouvi este ano. Nos primeiros 4 minutos e 50 segundos ouvimo-lo a ressacar de uma dolorosa separação, entre o dedilhar de guitarra característico e o timbre aveludado de contador de histórias. Depois, a revolução. A fúria que chega depois da auto-comiseração. "What the hell, love?", como que bradado aos sete ventos e de joelhos no chão, soa incrivelmente poderoso. Por fim, o tema expande-se num segmento de guitarras picadas e velozes num estilo muito semelhante aos Foals, transformando-se então num portentoso pedaço de art rock. Assombroso é dizer pouco.



Subestimei Ben Howard seriamente. E de que maneira. Seguindo neste caminho evolutivo, dar-nos-á um dos discos mais incríveis do ano. E se pensarmos que Every Kingdom lhe valeu uma nomeação em 2012 para o Mercury Prize e dois BRIT Awards, este novo trabalho poderá catapultá-lo para outros reinos, maiores e entusiasmantes, jamais imaginados vindos de alguém como ele. Nada mal, mesmo, para um simples surfista de ukulele em riste, hein? Assim se quebram estereótipos e se constroiem laços de admiração que perduram para a vida. O primeiro nó está dado, venham os próximos.

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