À espera de Normani

 

Assim, sentados. Se há coisa que a observação da indústria pop nos ensina, é que é mais fácil esperar por um eclipse solar do que pelo próximo álbum de Rihanna e pela estreia a solo de Normani, que aprendemos a estimar como o valor mais seguro das Fifth Harmony. 

Ninguém a bate a nível de activação de marca: soltou-se da antiga banda num ápice ao editar uma sucessão de singles bem-sucedidos em parceria com nomes maiores do mainstream, e chegou mesmo a largar as muletas e a causar estrondo com um single a solo que deveria ter trazido o álbum de arrasto.

Há um ano que não temos desenvolvimentos musicais seus, apenas a vemos enquanto embaixadora de marcas, capa de revista, em cameos de videoclips ou em teasings vazios. É certo que a pandemia veio adiar os planos de toda a gente, mas não acreditamos que o objectivo da RCA Records ao assiná-la fosse mantê-la numa incubadora durante três anos, traçar um plano de branding exímio e depois deitar tudo pelo cano abaixo só porque sim.

Ninguém esquece o arranque fantástico ao som de "Love Lies". Estávamos em Fevereiro de 2018 e o hiato oficial das 5H ainda nem havia sido anunciado. A canção tornou-se num marco desse ano e caso sério de longevidade nas tabelas, alimentando-se da alquimia artística entre dois novos valores do R&B que mal haviam passado a casa dos 20, a versar sobre amor como gente madura.

Dali, Normani partiu para outras latitudes e vimo-la editar um EP conjunto com Calvin Harris. De um lado, o tempero afrobeat/dancehall fogoso de "Checklist" abençoado pelo featuring de Wizkid. Do outro, a sensibilidade clubby e mais melódica de "Slow Down", numa produção mais típica do esteta escocês. Quase em simultâneo, lançou uma outra investida R&B em parceria com 6lack, a pender para o lado mais alternativo da equação, mas que cimentou a sua declaração de intenções. O ambicioso vídeo de "Waves" chegaria meses mais tarde, e ainda lhe valeu um VMA na categoria de Melhor Vídeo R&B. 

2019 amanheceu fortíssimo com "Dancing with a Stranger", ladeada por Sam Smith, num recorte disco-pop assertivo mas de olhos marejados. A canção teve um êxito massivo e serviu de passadeira à introdução oficial de Miss Kordei, em Agosto desse ano. "Motivation" foi o seu primeiro momento de grandeza: um dinâmico pedaço de pop-R&B ilustrado por um vídeo incrível que prestava homenagem às artistas que vieram antes de si e que foram referências suas pelo caminho. O tema não foi um hit considerável, mas virou uma série de pescoços e colocou-a na linha directa de sucessão a Beyoncé. 

Tudo o que tivemos desde então foram migalhas. Uma discreta participação num "Bad to You" com Ariana e Nicki Minaj numa banda-sonora do reboot de Charlie's Angel que foi francamente decepcionante. Outra mais entusiasmante na de Birds of Prey, já no início de 2020, num híbrido pop-rap assistido por Megan Thee Stallion que poderia ter causado mais impacto. Um cameo de breves segundos no vídeo de "WAP". E o mais completo silêncio.

A expectativa e (também) a frustração cresceram desde então. É preciso voltar a causar tracção e acreditar que a espera tenha valido a pena. Não lhe pedimos um Dangerously in Love, apenas que dê continuidade ao que veio iniciar. A lenda de Normani segue dentro de momentos. Que assim seja.

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