Uma década de 'Ghost'

 


Passam dez anos do segundo EP de Sky Ferreira, o primeiro rasgo autoral da luso-americana que havia de marcar a década passada e que a firmou como promessa da pop mais alternativa da época. Daqui, a sua carreira podia ir praticamente para qualquer lado - e isso tornava tudo tão mais entusiasmante e imprevisível. 

A romper com as heranças dance pop e electropop do anterior As If! (2011), Ghost apresentou uma miríade de géneros que iam desde inclinações folk, new wave, grunge, synthpop, alt country ou alt pop, vindos de uma jovem Sky de apenas vinte anos apoiada criativamente pelos contributos de estetas como Blood Orange, Jon Brion, Greg Kurstin ou Ariel Rechtshaid. 

"Sad Dream" ainda nos desarma com a sua toada confessional e desoladora, acerca da sua relação tumultuosa com o progenitor. Ainda nos banhamos na luxúria synthpop de um "Lost in My Bedroom" hedonista e cintilante que evoca Madonna dos anos 80. O tema-título revolve num loop de slowcore e alt country incapaz de ultrapassar uma desilusão amorosa, cantado como se Kacey Musgraves tivesse trocado as paisagens do Texas pelas de Los Angeles. "Red Lips" é ainda a melhor canção que Shirley Manson entregou fora dos Garbage, mistura de sensualidade e perigo com electricidade e distorção a rodos. E "Everything Is Embarrassing" é ainda a melhor canção pop dos anos 10, hino maior das quase relações/paixões platónicas da era digital que acabam por não dar em nada, numa para-lá-de-estilosa combinação de dance pop, funk e new wave orquestrada por Rechtshaid e uma vocalização demasiado cool de Miss Ferreira. 

Para todos os efeitos, Sky acabou por fazer a sua carreira à imagem daquilo que canta neste tema imortal: uma promessa não concretizada, um potencial ilimitado que (ainda) não chegou a cumprir, a recordação nostálgica daquilo que poderia ter sido e não foi. Continuamos à espera dela. Por mais anos e anos que passem. Porque Sky ainda pode vir a ser tudo aquilo que quiser - e nós ainda queremos tudo dela. 


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