Querida Taylor,
Escrevo-te esta carta porque hoje seria o dia em que nos encontraríamos pela primeira vez, num mundo de possibilidades fantásticas e não-pandémicas, mas também em sinal de profunda gratidão pelo que tens significado para mim ao longo dos últimos seis anos.
Andámos muito para aqui chegar, sabes? Nunca fui muito à bola com aquela country mascarada de pop bem escovadinha, nem com todo aquele ar de rapariga sulista imaculada que não partia um prato. Andámos uns bons oito anos nisto. Quando pensava que não me podias desagradar mais, "I Knew You Were Trouble" - aquele drop de dubstep ainda é tão chocante quanto piroso - elevou o ódio a níveis recorde. Disco após disco, tornavas-te maior e mais insuportável, sem aparente explicação - como é que tinhas o desplante de competir com as minhas divas da pop sem pertencer à mesma afiliação?
Tudo mudou no dia em que decidiste juntar-te à causa e entregar-nos o teu primeiro trabalho declaradamente pop. Talvez fizesse tudo parte de um plano tremendamente bem engendrado, sim, mas assim que "Shake It Off" rompeu o éter, aclamei-te como o bom patrono que sou e fiz figas para que aquela fosse a reviravolta na nossa complicada relação.
Não sucumbi a 1989 mais cedo porque na altura ainda eras a pedra no sapato do Spotify, mas entre o despontar de um novo clássico e o estilhaçar dos juízos de valor que fui construíndo acerca de ti, converti-me enquanto Swiftie, pelo menos tanto quanto a condição de melómano saudável permite. "Blank Space". "Style". "Bad Blood". "Wildest Dreams". "Out of the Woods". "New Romantics". O meu afecto por ti floresceu a cada novo single. Deste-nos uma era maravilhosa, repleta de conquistas e marcos assinaláveis: aquele álbum habita em cada um dos nossos corações.
Tive receio que me desapontasses com o álbum seguinte, mas se Reputation veio provar algo, foi que a tua versão arrojada e obscura é a que mais me enche as medidas. Fizeste blackout e submeteste-te a um jejum mediático, mas o meu mundo tremia com a trepidação industrial de "Ready for It", com a ginga urbana de "End Game", a pulsação acelerada de "Getaway Car", a cadência hipnótica de "So It Goes...", ou a ternura confessional de "New Year's Day", assim uma de três canções no universo que me conseguem pôr a chorar. E eu até nem apoiava muito a chegada de "Delicate" a single, mas hoje sou capaz de mandar ao tapete quem ousar conspirar sobre ela.
Lover é o meu menos favorito do tríptico - alto louvor a "Cruel Summer", "Paper Rings" ou "Afterglow", contudo - mas a nossa relação já estava tão consolidada que não sofreu sequer um único beliscão. Menos de um mês da sua edição - a 17 de Setembro de 2019, concretamente - davas-me um dos maiores presentes que alguma vez recebi: a oportunidade de te ver ao vivo no meu país, em concerto, na realização de um sonho que julgava impossível. Teria a companhia da minha melhor amiga e a certeza de que iria viver um dos melhores dias da minha vida. E pelo menos durante seis meses alimentei-me dessa crença.
Muito antes de confirmares o cancelamento do concerto, já me tinha conformado com a perspectiva de termos que adiar o nosso encontro. Não derramei uma lágrima que fosse, porque entre o tanto que perdemos, havia coisas bem mais prementes para recuperar. No meio dessa madura constatação, nasceu uma clara certeza: que o que temos e aquilo que construímos é para a vida. E não há pandemia alguma que o possa travar.
Ao longo destes seis anos, assisti à tua emocionante expansão global e aprendi a respeitar-te enquanto exímia escritora de canções, e alguém que utiliza a sua gigantesca influência para combater as desigualdades de género na indústria, que luta pelos direitos dos intérpretes e compositores (impressionante a forma como vergaste dois gigantes do streaming), pela causa LGBTQ e, mais recentemente, pela maneira como vocalizaste as tuas crenças políticas, sem receio do que te poderia custar. Transformaste-te numa mulher admirável, com um catálogo de canções impressionante - e não poderia estar mais orgulhoso.
Que estas palavras possam mitigar de alguma forma as milhas que nos separam, no dia em que escassos metros ditariam a distância entre nós. Que não haja espaço para a tristeza, apenas para a alegre certeza do reencontro. Até breve, beloved TayTay.
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