'Confetti' das Little Mix: Pop em Maiúsculas

 


Há quase uma década que andamos nisto: o mundo não valoriza suficientemente as Little Mix. Há nove anos que são consideradas um tesouro nacional britânico, mas sem expressão significativa no resto do globo. Sobreviveram à passagem das Fifth Harmony, do estabelecimento das Blackpink enquanto nova potência mundial e até à alçada de Simon Cowell - tanto que se mantêm como o último nome de relevo das quinze edições do The X Factor.

Mais impressionante ainda, vieram desafiar o prazo de validade de uma típica girlsband. Nove anos espelhados em seis álbuns, todos eles com o mesmo alinhamento de integrantes. Sem mudanças de elementos. Sem dramas. Sem egos. Ou líderes destacadas. Não é apenas raro, é inédito nos meandros de um grupo feminino. São incansáveis, coesas, aliadas. E por isso subsistiram, onde todas as outras falharam. 


Se o anterior LM5 (2018) as apanhou na complicada transição da Syco para a RCA Records, abafando o arrojo e a maturidade de um álbum que continha rasgos de génio como "Strip", "Joan of Arc" ou "Wasabi", este seu sexto disco teve uma caminhada promocional bem mais longa e dedicada, complementada por um trio de singles impecáveis. 

"Break Up Song" foi um bem-sucedido throwback ao campeonato da synthpop oitentista que já haviam pisado em 2015 com "Black Magic", desta vez no ano em que a pop decidiu recuar no tempo e recuperar ecos da década de 80. "Holiday" chegou com o mercúrio dos termómetros a subir, sonho pop-EDM de uma noite quente de Verão com o mar do Pacífico a perder de vista, munido de um refrão bradado a plenos pulmões. "Sweet Melody", por seu lado, foi bem guardado para as vésperas da edição do álbum: acesa construção electropop com elementos de reggaeton trazida à vida pelos préstimos de MNEK e Tayla Parx, é o ponto alto de Confetti e uma das canções mais estrondosas da discografia do quarteto.


Talvez em consequência do ano duríssimo que vivemos ou como sinal de alívio por estarem sob um novo contrato que lhes dá maior liberdade artística, Confetti soa a uma enorme celebração com provas de vida e proficiência pop dentro: é bem capaz de ser o álbum mais sólido do percurso das Little Mix. O tema-título alude bem a esse estado de alma no seu background hipnótico de electro-R&B no mesmo molde de "Me & U" de Cassie, encontrando-as triunfantes na ressaca de uma separação. "Happiness" verte purpurinas no manual de amor-próprio, com influências UK garage reminiscentes de "No Tears Left to Cry", enquanto "Not a Pop Song" é um valente kiss-off a Simon Cowell ("I don't do what Simon says") e um dedo do meio espetado aos estigmas que acompanham a vida de uma girlsband

Em "Nothing But My Feelings" aproximam-se do universo lírico e sónico de Ariana Grande, com um bop pop-R&B que anuncia liberdade e emancipação sexual, para depois entrarmos no ringue com um aguerrido hino R&B que combina "Salute" e "Power" com o exotismo dos trejeitos vocais de Rihanna em modo caribenho, num "Gloves Up" que coloca Perrie e Leigh-Anne na linha da frente. "A Mess (Happy 4 U)" é a sua contribuição para o campeonato de canções upbeat de lágrima no rosto, ginga pop bamboleante que versa sobre ficarem felizes pela nova conquista de um ex, ainda que devastadas por dentro. 


"My Love Won't Let You Down" entra no território gospel pop/balada ao piano que assenta melhor a um Sam Smith ou Emeli Sandé, por exemplo, não sendo uma contribuição particularmente memorável ao filão baladeiro do grupo. O ambiente de cabaret instala-se ao som de "Rendezvous", uma sensualona composição R&B de liga de cetim e meia de rede embalada nos ensinamentos das Pussycat Dolls, a que não será alheio a utilização de um sample de "Sway", por elas popularizado em 2004. "If You Want My Love" é forte na recuperação de heranças pop do final da década de 90 e início do novo milénio, com versos que incitam à ala masculina a aprimorar o seu jogo de romance, e "Breathe" é um closer extremamente deslumbrante, acerca da incapacidade de prosseguirem a vida sem a sua antiga cara metade, entregue num ginasticado molde pop/R&B que traz à memória o cancioneiro de Leona Lewis. 

Lá está, enunciem-nos uma outra girlsband capaz de chegar ao seu sexto disco com tamanha vitalidade? As notícias recentes que dão conta do afastamento temporário de Jesy da banda por motivos de saúde poderão enviesar a promoção de futuros singles do trabalho, mas 2021 está já à esquina e com ele chegará também a comemoração dos dez anos de Little Mix, e só poderemos aguardar que seja assinalado com a devida pompa e circunstância. Depois disso será interessante ver o que mais nos poderão oferecer, ou se experimentarão também caminhos a solo. Até lá, a chuva de papelinhos continua.


1. Break Up Song (8/10)
2. Holiday (7/10)
3. Sweet Melody (9/10)
4. Confetti (8/10)
5. Happiness (6/10)
6. Not a Pop Song (6/10)
7. Nothing But My Feelings (7/10)
8. Gloves Up (7/10)
9. A Mess (Happy 4 U) (8/10)
10. My Love Won't Let You Down (6/10)
11. Rendezvous (8/10)
12. If You Want My Love (8/10)
13. Breathe (8/10)

Classificação: 7,4/10

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