Andava para escrever sobre isto #1
Fazemos muito pouco daquilo que queremos nos dias que correm. Em 2020, já perdi a conta aos rascunhos que abri e que ainda aguardam luz verde para avançar, ou de ideias que me ocorreram e às quais ainda nem sequer consegui dar continuidade. É tudo uma questão de timing, por vezes. E este ano em particular tem sido pródigo em estragar-nos os planos. Um rodízio de posts, pois, será a melhor solução encontrada, para que nada se perca ou fique por dizer:
Ainda não há muito tinha escrito sobre a fantástica sucessão de covers que Miley Cyrus nos vinha a entregar. Pois estava prestes a tornar-se um nadinha mais fantástica com a reactivação das suas Backyard Sessions no âmbito da série MTV Unplugged. Houve releituras de Pearl Jam, Velvet Underground ou Britney Spears. Mas é o cálice emocional que nos serve em "Communication", dos suecos Cardigans, que nos deixa a seus pés de olhos marejados. Deve ser a isto que chamam vestir uma canção com a própria pele.
Ai Sam, Sam. Dizer que Love Goes é uma das desilusões do ano, é pouco. Tanto tempo de maturação e hesitação resultaram num álbum fraco e disperso que só encontra pé em algumas baladas e na colecção de faixas bónus que o sustenta, que na verdade foram os singles avulso que foi lançando do Verão de 2018 até Abril último. Para isso, um EP resultava melhor. "Diamonds", uma acesa constelação disco-pop de Shellback e OzGo, salva-lhe o último trimestre do ano à risca.
Quantas vidas pode ter uma canção, mesmo? A releitura bedroom pop/lo-fi que o projecto do norte-americano Jack Rutter teceu para o single soul/pop que apresentou Corinne Bailey Rae ao mundo há catorze anos, é a prova de que a matriz está na composição incrível das mesmas. Toda ela é um sonho, mas o último minuto em particular é uma mini trip alucinogénica da qual não queremos acordar. Aposto que Corinne estará orgulhosa.
O ano musical de Zara Larsson tem sido tão confuso e intermitente quanto as nossas vidas em 2020. Originalmente lançado em Abril de 2019, "Wow" ganhou tratamento de single em Agosto último devido a um ressurgimento no TikTok, e até uma remistura com Sabrina Carpenter pouco depois. É claramente um single aquém das imensas possibilidades da sua intérprete, como ficou bem nítido com a sua arrasadora actuação nos EMAs pós-apocalípticos do passado dia 8. HOLY. MOTHER. OF. GOD.
Talvez não se tenham apercebido, mas Melanie C está a ter um terceiro fôlego de vida artística em pleno 2020. O seu oitavo álbum de estúdio homónimo deu-lhe a sua melhor posição na tabela britânica em mais de dezassete anos. Nem é preciso sublinhar o quão maravilhoso é isto estar a acontecer-lhe aos 46 de idade e cerca de um quarto de século depois de ter entrado para a formação da girlsband mais popular do universo. Além do mais, a música é do caraças. Vejam só "In and Out of Love" a triunfar na mesma catwalk de "Don't Start Now".
Ora, Dua Lipa vai terminar o ano com três singles em carteira. Não lhe bastava ter "Levitating" a pairar bem alto na galáxia pop, tem também este "Fever" a expandir o seu charme europeu, e ainda uma colaboração iminente com Miley Cyrus, cujo vídeo já foi rodado. De ondulação tropical e sensibilidades dance pop e deep house, quase que passava por uma parceria com Rosalía com os devidos ajustes, mas aponta antes as suas coordenadas para a encantadora belga Angèle. Mon coeur se serre, j'ai du feu dans la voix, le plus souvent, c'est quand je pense à toi.
Comentários
Enviar um comentário