'The Album' das Blackpink: Agora a sério

 


Há muito que as Blackpink podiam ter reclamado para si aquilo que estão a viver neste momento, finalmente a colherem os louros de serem a maior exportação feminina coreana de todos os tempos. Quatro anos e uma mão cheia de singles impressionantes depois, o momento é delas.

Um álbum de estreia com um título tão supremo e presunçoso quanto este é justificado não só pelo percurso ascendente e trilhado de feitos que as conduziu até aqui, como pela capacidade de condensar em oito temas e vinte e quatro minutos uma séria demonstração das suas valências, numa espécie de compilação best of do seu ainda curto mas imponente catálogo. 

The Album é, portanto, as Blackpink a pensarem e a agirem enquanto a potência mundial que se tornaram, chamando a si convidados ilustres quanto Selena Gomez ou Cardi B, e produtores de primeira linha como Ryan Tedder, David Guetta ou Tommy Brown. 


Quando uma campanha se inicia de forma tão estrondosa quanto "How You Like That", torpedo trap-pop que funciona como a versão evolutiva de "Ddu-Du Ddu-Du", sabemos que estão lançadas para voos estratosféricos. A canção sobre recuperar com garra e ferocidade de um rombo duro, passa de fantástica a sensacional quando nos últimos 30 segundos aumenta os bpm's e se transforma numa rajada sónica de techno oriental. Benditas mutações do k-pop.

"Ice Cream" é um bombom de electropop upbeat que as vê a flirtar com o lado mais bubblegum da pop, numa clara tentativa de chegar às camadas norte-americanas, como o featuring sensaborão de Selena bem atesta. O resultado é aditivo q.b, mas o tema viveria melhor com mais salgado e menos docinho de morango. "Pretty Savage" joga também pela liga das fantásticas, outra robusta faixa de hip hop/pop rítmica encharcada de personalidade e atitude, que serve de kiss-off aos detractores e explica o porquê de se elevarem acima das outras suas contemporâneas do k-pop.

Mais bem conseguida é a faixa que as une a Cardi B: eficiente na hora de ligar os dialectos pop e hip hop das envolvidas, "Bet You Wanna" é a feel good song destinada a deixar-nos de sorriso no rosto e mão marota em riste, versando sobre como deixar o boo de cabeça à roda. "Lovesick Girls" é acertadamente promovido como single central do longa-duração: um luminescente objecto dance pop acerca do desgosto pós-amoroso, que conta com as vocalizações mais aguerridas do quarteto e um rap especialmente estrondoso de Lisa.


Escutam-se influências balcãs em "Crazy Over You", um misto entre o exotismo de "Boombayah" e o apelo urbano de "Pretty Savage", que acaba por não cumprir o seu potencial na íntegra. A compreensão de que abandonar uma relação tóxica é a melhor solução possível surge em "Love to Hate Me", uma sólida composição trap/synthpop que acaba por herdar as influências mais Ariana Grande do disco. Os últimos acordes tocam ao som de "You Never Know", um desfecho um bocado tépido, apesar de humanizado e relacionável - ainda está para nascer uma melhor balada com assinatura do grupo do que "Stay".

The Album viveria bem com mais umas duas ou três faixas - "Sour Candy" poderia ter sido remetida para bónus, por exemplo - mas sente-se que a sua missão primordial é cumprida: de agora em diante todos sabem que a melhor girlsband dos nossos dias vem da Coreia do Sul, transcende a barreira da língua e não está para brincadeiras no momento de pôr os trunfos em cima da mesa. A revolução segue dentro de momentos. 


1. How You Like That (9/10)
2. Ice Cream (7/10)
3. Pretty Savage (8/10)
4. Bet You Wanna (8/10)
5. Lovesick Girls (8/10)
6. Crazy Over You (7/10)
7. Love to Hate Me (8/10)
8. You Never Know (6/10)

Classificação: 7,6/10

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