2020, Um Balanço Sónico- As Canções Internacionais

 


O ano que todos preferemos esquecer ordenado pelas canções mais impactantes na vida do escriba:


 

1º The Weeknd- "Blinding Lights"- O homem que assinou "Can't Feel My Face" e "Starboy" cruzou o infinito e deu-nos o êxito pop supremo dos últimos doze meses a que continuamos a voltar vezes sem conta com o êxtase e o arrebatamento da primeira audição. Daqui a nove anos estará a discutir o top 5 das canções que definem a presente década. 

2º Dua Lipa- "Levitating"- Já pedia estatuto de single muito antes de o ser, quando "Don't Start Now" levou Dua Lipa definitivamente para o escalão A das estrelas do firmamento pop. Passou por uma remistura frouxa e ganhou o featuring da praxe de DaBaby para o TikTok apreciar, mas é ainda a versão original que condensa toda a diversão e encantamento. Formidável foguetão.

3º Taylor Swift- "Betty"- Não houve história mais bonita em 2020 que a reinvenção de Taylor Swift. No primeiro tomo, é "Betty" quem mais resplandece: um esplendoroso throwback à country que marcou os seus primórdios, tingido do storytelling mais vívido que escutámos nos últimos meses. Às tantas, somos todos James à porta da festa, de coração nas mãos e sorriso pateta à lapela. E agora, Betty?

4º The Pussycat Dolls- "React"- Não era suposto um inédito das PCD, onze anos volvidos, bombar tanto. "React" ombreia com "Buttons" e "Don't Cha" nos melhores momentos da discografia do quinteto, mas é o vídeo irrepreensível que o puxa a níveis de espectacularidade impensáveis: uma masterclass de sensualidade e erotismo vinda de mulheres à beira dos 40. Que 2021 não atrase mais os planos da reunião na sua plenitude. 

5º Dua Lipa- "Physical"- Um hino urgente de contacto carnal num ano em que estivemos à míngua de afectos e explorações libidinosas. Ou como Dua Lipa se tornou na estrela pop mais inescapável de 2020, com um single uptempo assente nas fundações do êxito com o mesmo nome de Olivia Newton-John e com os anos 80 a perder de vista. 

6º Doja Cat- "Say So"- Sem dúvida a estrela pop mais multifacetada que 2020 revelou, potenciada por um inescapável e suculento híbrido pop-rap de balanço disco tão em voga na estação, que não precisava sequer do impulso do TikTok para se tornar no estrondo que foi. É deste algodão-doce celestial que os sonhos pop são feitos.

7º Taylor Swift- "Cardigan"- Qualquer um poderia ter sido o single de avanço de Folklore, que o deslumbramento seria semelhante, mas o facto de "Cardigan" ter sido o fio inicial da história, dá-lhe um encanto e magia inigualáveis. A poética lírica de Swift é irrepreensível e o arranjo indie folk/rock de Aaron Dessner concede-lhe uma atmosfera de Nárnia alada. Quanto arrebatamento. 

8º Morgan Wallen- "7 Summers"- Uma prosa nostálgica de um amor jovem estival entregue no pior Verão das nossas vidas - puro escapismo ao serviço da melhor country/soft rock do ano, ou como Morgan Wallen inscreveu de vez o seu nome no panteão dos melhores cantautores sulistas da sua geração. 

9º Harry Styles- "Watermelon Sugar"- Esta canção já estava destinada a grandes feitos quando foi desvendada em Novembro do ano passado, mas aguardava a chegada da estação estival para ser consumida no seu auge. Irresistível pedaço de funk-rock com elementos de pop e soul que não demorámos a pegar, trincar e meter na cesta, e que elevou de vez Styles ao patamar de solistas ubíquos do seu tempo.

10º Taylor Swift- "The 1"- Existe uma beleza intemporal em ter esta faixa como tema de abertura do álbum que define e consagra o intelecto de Swift: uma que dedica a todos os rapazes que já amou, com a serenidade e conforto de quem seguiu em frente, mas que por um segundo fantasia com o que poderia ter sido. A casa na floresta aguarda-nos. 

11º Christine and the Queens- "People, I've Been Sad"- Do excelente EP que editou este ano, saiu talvez a melhor faixa do seu percurso: synthpop bilíngue nostálgica e dolente sobre um estado de depressão latente, e que expressa uma vulnerabilidade e tristeza profunda que ainda não a tínhamos ouvido manifestar desta forma. 

12º Megan thee Stallion feat. Beyoncé- "Savage"- No ano de todas as colaborações femininas de peso, esta foi talvez a mais icónica. Duas nativas do Texas, puro-sangue lendário e garanhão promissor, juntas na remistura mais insana do Verão, que manteve a agenda do empoderamento feminino e as subscrições do OnlyFans em alta. H-Town, goin' down.

13º Little Mix- "Sweet Melody"- O último suspiro das Little Mix enquanto quarteto foi bastante impressionante: híbrido electropop/reggaeton sobre a infame canção do bandido, foi sabiamente guardado para terceiro avanço de Confetti e deu-lhes o seu maior (e melhor) hit em vários anos. A-r-r-a-s-a-d-o-r.

14º Dua Lipa- "Break My Heart"- Ainda hoje poderemos contestar que talvez esta não tenha sido a melhor escolha para terceiro single de Future Nostalgia, mas não nos atreveremos a duvidar por um segundo que a ascensão de Lipa e o Verão se fizeram (também) por aqui. O vídeo fantástico, a tónica disco-funk e o sample bamboleante de "Need You Tonight" dos INXS ajudaram ao culto. 

15º Blackpink- "How You Like That?"- Um pre-single não devia machucar tanto, pois não? No ano em que o quarteto feminino todo-poderoso do k-pop lançou o seu primeiro longa-duração, fomos agraciados com um míssil trap-pop de breakdown techno supersónico, erguido por um vídeo faraónico de perder o fôlego. Cada vez mais donas desta porra toda. 

16º The 1975- "If You're Too Shy Let Me Know"- Notes on a Conditional Form está uns ligeiros furos abaixos do seu antecessor, mas tem aquele que possivelmente é o melhor single do díptico: uma epopeia indie pop/synthpop oh-so-80s de saxofone inebriante, construído sobre a ideia de romance e intimidade na era do FaceTime. 

17º Foxes- "Love Not Loving You"- Entre outras tantas coisas, 2020 ficou a dever-nos o terceiro álbum de estúdio de Louisa Allen, apresentado por um quarteto de singles do qual este será o mais extraordinário: uma ginasticada construção funk-pop sobre o cultivo de amor-próprio que une um qualquer vértice entre Peter Gabriel e Kimbra. 

18º The Weeknd- "Save Your Tears"- A santíssima trindade de After Hours está entre "Blinding Lights", este tema e "In Your Eyes", todos eles com estatuto de single, mas sem capacidade de cumprir o seu potencial graças à força eucalíptica do primeiro. É mais um excelente documento synthpop via 80s melódico com precisão sueca, no qual Abel Tesfaye se tornou exímio. 

19º Lady Gaga feat. Ariana Grande- "Rain on Me"- Não imaginámos que seria possível para Lady Gaga retomar a rota da pop excêntrica do início do seu percurso, nem que uma colaboração com Ariana, a Grande, estivesse nas cartas. Mas ambos aconteceram no pior ano das nossas vidas, e estamos imensamente gratos. Ecos de house da década de 90 e uma fantasia cyberpunk trouxeram à vida esta celebração das lágrimas. 

20º Chloe x Halle- "Do It"- Da última vez que conferimos, as "filhas adoptivas" de Beyoncé já almejavam à realeza, mas ainda não eram uma força a ter em conta no mainstream. "Do It", pedaço hipnótico de R&B/dance pop, escancarou-lhes de vez as portas, e trouxe de arrasto um álbum igualmente aclamado. Scott Storch, aos comandos, ainda a mostrar às novas gerações como se faz.

21º Jessie Ware- "What's Your Pleasure?"- Sem dúvida que uma das surpresas do ano foi a regeneração disco de Miss Ware. Nunca o papel de sexpertise lhe assentou tão bem quanto no tema-título do seu quarto longa-duração, um encontro entre a volúpia de "Running" ou "Night Light" e a sofisticação pós-disco de Róisín Murphy. Continuamos todos de joelhos. 

22º Joel Corry- "Lonely"- Como é que um ex-participante do Geordie Shore se torna num dos DJs/produtores mais ubíquos do ano, ninguém sabe, mas não há muita ciência no apreço imediato pelos seus hits: a produção de "Lonely" é relativamente simples, mas o seu trunfo está na vocalista não creditada (Harlee Sudworth, para vosso conhecimento), numa entrega vocal dinâmica devedora de Jess Glynne e Becky Hill. 

23º Benee feat. Gus Dapperton- "Supalonely"- Queremos acreditar que a popularidade deste tema não se tenha devido apenas ao isolamento que todos tivemos que atravessar, mas porque é efectivamente uma canção bastante fantástica. Da entrega vocal meticulosa, da tentativa de rap não encarada a sério, passando pelo tom blasé de Dapperton, ou tão simplesmente por fazer troça do estado miserável a que alude. Enfim, Nova Zelândia ao poder.

24º Rosalía feat. Travis Scott- "TKN"- Custa a crer que a mega-estrela catalã não tenha aproveitado 2020 para editar o seu novo álbum, mas nem por isso o seu brilho atenuou um bocadinho que fosse. "TKN" foi o produto mais bombástico que a sua alquimia artística com El Guincho surtiu este ano, um imponente objecto de trap-reggaeton construído em torno do imaginário da máfia. Trà trà thug.

25º Jessie Ware- "Spotlight"- Oito anos e dois álbuns menores depois, Jessie Ware encontrou finalmente o equilíbrio entre a ternura de veludo de Sade e a pulsação electrónica da antiga vocalista dos Moloko, aqui ao serviço da melhor composição nu-disco com ecos de acid house que escutámos este ano. Simplesmente divinal. 

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