Charli XCX e a campanha promocional de 'Crash'

 

Temos vivido os últimos seis meses embrenhados na campanha de antecipação ao quinto álbum de estúdio de Charli XCX, que chega finalmente esta semana. Depois de se ter tornado na maior representante das correntes avant e hyperpop no mainstream com as mixtapes de 2017, este será o terceiro disco da cantora britânica em três anos, e o último que edita pela actual editora, a Atlantic Records.

Mais focada e concisa que as últimas eras de Charli (2019) e How I'm Feeling Now (2020), a campanha de Crash é, sobretudo, multidimensional, com a cantora a testar novos sons e a almejar à primeira liga das estrelas pop. Recapitulemos, por isso, a jornada do álbum até ao momento:

"Good Ones"

Sintetizadores e corações (tóxicos) ao alto. Femme fatale com ares neo-góticos, Charli mostrou que não vinha para brincadeiras com o suculento cartão de visita produzido pelo esteta sueco Oscar Holter, com sintetizadores pulsantes e insinuantes reminiscentes do catálogo dos Eurythmics, à solta numa prosa arrependida sobre deixar escapar incessantemente os bons da fita. O single chegou acompanhado de um vídeo arrasador de Hannah Lux Davis, que inclui imaginário fúnebre e coreografia espectacular à volta de uma lápide. Damn, mother. 


"New Shapes"

Quão fantástico é que Charli se desafie a tornar na sua melhor versão possível de popstar, mas que arraste também Christine and the Queens e Caroline Polachek pelo caminho? Este trio tem todo ligações entre si, mas esta foi a primeira vez que fizeram algo em conjunto: daí nasce "New Shapes", agitada construção synthpop/new wave via 80s, sobre receio de compromisso numa busca contínua de liberdade e emancipação. Recebemos toda uma actuação inserida em contexto de late night show - e não somos dignos. 


"Beg for You"

Era uma colaboração há muito aguardada pelas duas bases de fãs, e não desiludiu absolutamente ninguém. Digital Farm Animals cede o esboço ancorado no UK garage e eurodance dos noughties, para Sawayama e XCX largarem as suas lágrimas pelos respectivos ex - "Beg for You" é nostálgica, eufórica e triste em iguais proporções. E vem servida com um vídeo futurista do qual ninguém consegue tirar nenhuma ilação. É o bop mais insano de Crash à data. 


"Baby"

De todas a amostra mais inesperada até ao momento, estende a passadeira à Janet Jackson ou Paula Abdul da década de 80, numa sedutora ambiência post disco/new jack swing que exulta sexualidade por todos os poros. Mais fenomenal do que tudo é a impressionante coreografia desenhada por Nathan Kim, que Charli e as suas backup dancers cumprem sem mácula. Dez pela catchiness e outros dez pelo esforço. 


Crash chega a 18 de Março, e pode muito bem significar um novo máximo de carreira para a sua autora, bem como se tornar no álbum pop do ano. Mother XCX, damn if we are ready.

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