Eurovisão 2022: O Recap Oficial

Estamos a um mês e meio da edição deste ano da Eurovisão em Turim, mas por esta altura já se fazem apostas e elegem-se favoritos entre os participantes. Aproveitando o recap oficial disponibilizado esta semana, vamos medir a temperatura às 40 canções a concurso, com base nos trinta segundos de excerto:

1) Albânia- Tem uma certa sensibilidade pop, espírito étnico e parece estar a desembocar para um clímax colérico assim que o excerto termina. Há que apreciar o esforço do vídeo medieval. (7/10)

2) Arménia- Uma folkzinha pop banal à Passenger que soa àquilo que Sigrid soaria se não fizesse pop com atitude. O vídeo ao melhor estilo de Up da Disney é o melhorzinho. (5/10)

3) Austrália- Orville Peck vem dos Antípodas e ninguém nos avisou. Suspeito que estes 30 segundos nem reflictam o melhor da canção, sustentada por uma voz e interpretação magníficas. Primeira balada dos aussies desde "Sound of Silence" de Dami Im e pode-lhes correr muito bem. (8/10)

4) Áustria- Parece oscilar entre o techno eurovisivo excessivo, e uma produção synthpop com capacidade para pôr toda a plateia a saltar. Com uma componente cénica bem servida, pode funcionar extremamente bem. (7/10)

5) Azerbaijão- Parece ser bastante bonita, mas com alguns laivos de dramatismo evitável. Queremos emoção genuína e não emoção mascarada para efeitos apoteóticos. (8/10)

6) Bélgica- Parece ser bastante mázinha, com um jovem Jason Derulo a querer ser R. Kelly. Mas o problema nem parece ser dele, é mesmo a canção que é demasiado insonsa. (3/10)

7) Bulgária- Fiquei deveras confuso com esta apresentação, um pouco démodé e Tenacious D da vida, mas se ignorarmos o embrulho, até soam bastante bem. Não sinto que a Europa se vá apaixonar por eles. (7/10)

8) Croácia- Demasiado imberbe e insípida nos seus trinta segundos, quanto mais nos seus três minutos de duração. A moça tem uma voz agradável, mas não vai prender a atenção de ninguém. (6/10)

9) Chipre- Estamos aqui todos para uma boa ginga étnica com vibes homoeróticas, certo? Pareceu ser a melhor do lote até agora - quase que sentimos a fragrância do Chipre por entre as suas notas. (9/10)

10) República Checa- No mesmo lote de banger eurovisivo da Áustria, mas talvez um nadinha mais ténue e anímico. Com o staging certo, pode resultar. (7/10)

11) Dinamarca- Chocado com esta escolha: uma espécie de Heart nórdicas?! Penso que é bom mudarem o paradigma, mas não é isto que se espera do efeito Måneskin. (4/10)

12) Estónia- Humm, ora aqui está algo distintivo. Não é todos os dias que recebemos uma proposta eurovisiva em tons western, muito menos vinda da Estónia. (8/10)

13) Finlândia- Surpreendido em três frentes: que os Rasmus ainda façam música, que tenham sido eleitos para representar o seu país, e que o vocalista não tenha envelhecido um dia. Há um quanto drama desnecessário na interpretação, mas é bom vê-los por aqui. (7/10)

14) França- Percebi zero desta proposta eurovisiva. Mas o arrojo que é passar da magnífica chanson de Barbara Pravi para isto. Claramente a receber o testemunho de "Shum" da Ucrânia do ano passado. (6/10)

15) Geórgia- Não consigo perceber se gosto ou desdenho, mas tem algo de intrigante. Pode ser uma surpresa no campeonato indie ou, como gosto de lhe chamar, "como raio isto está aqui e chegou tão longe?". (6/10)

16) Alemanha- Um pouco terrível e sem chama, à semelhança da Bélgica. É mais do que notório que a Alemanha tem que repensar o seu modelo de selecção, porque não está a resultar. (4/10)

17) Grécia- Continua forte a tradição de enviarem vocalistas femininas de boa linhagem. Talvez o excerto seja melhor do que a canção inteira, mas parece-me que esta vai ser daquelas a que vale a pena estar atento. (8/10)

18) Islândia- Não percebo o que se passou com a Islândia, mas o ano é 2002 e estas são as Dixie Chicks élficas. Do staging, look, canção à disposição em palco do trio - é tudo mau demais. (3/10)

19) Irlanda- Tem andado um tanto perdida nos últimos anos, e não sinto que esta participação vá mudar isso. É um mix de Dua Lipa e Ava Max, com aquele gloss pop que também compõe a Eurovisão, mas creio que vá ficar barrada na semi-final. (6/10)

20) Israel- Estava a gostar bastante até ao refrão, que não teve pernas para acompanhar os versos da canção. Fiquei na dúvida se se tratava de uma boysband, mas gosto da atitude desafiante e orgulhosamente queer do moço. (7/10)

21) Itália- Wow. A tradição diz que país anfitrião não repete a vitória, mas está fortíssimo este ano para a Itália. Mahmood devia ter ganho no ano em que concorreu, mas agora traz um amigo e a canção é efectivamente muito bonita. (10/10)

22) Letónia- Ok, estava preparado para odiar isto, até que percebi que não é uma canção de comédia. Tem substância. Ou talvez seja uma comédia, mas decididamente que se vai tornar no guilty pleasure de muita gente. Não me vou esquecer da canção da salada. (8/10)

23) Lituânia- Uma espécie de Kylie Minogue entorpecida, para quando a noite já pede um encosto e o uber para casa. Props por estar a cantar na língua nativa (julgo), mas é muito enfadonha. Voltem, The Roop. (4/10)

24) Malta- Faltava preencher o filão da pop motivacional/inspiradora e é precisamente isso que a canção de Malta vem fazer. Pelo excerto parece ser arrebatadora, mas o mesmo pode-se não aplicar à sua totalidade. (8/10)

25) Moldávia- É isto que se espera de uma banda à boleia de um inter-rail. Espírito étnico e tradicional bem lá no alto, numa actuação que deverá ser garantia de animação e entusiasmo pleno. (7/10)

26) Montenegro- Trouxe-me à memória a Albânia, mas com uma interpretação mais polida e linhas melódicas mais interessantes. Contudo, pode descambar para o exagero eurovisivo. (7/10)

27) Holanda- Melancolia pop no seu melhor: também havia uma lacuna nesse campeonato. Mais outro país a cantar na sua língua nativa. Resta saber como entregarão essa melancolia em palco (8/10)

28) Macedónia do Norte- Esta senhora tem presença, voz, e uma canção sonante. Faz-me lembrar um bocadinho a Loreen, com as devidas distâncias. Não entendo o último lugar nas casas de apostas. (8/10)

29) Noruega- Ok, os países nórdicos querem acabar comigo este ano. A jogar uma cartada digna de "What Does the Fox Say?" em pleno 2022? Não, não e não. Céus, vamos impedir a viralização disto. (4/10)

30) Polónia- Diogo Piçarra polaco, we've got to stan! O excerto não revela muito, mas parece ser óptimo e vocalmente robusto - oxalá que não desiluda. (8/10)

31) Portugal- Esta não há como conhecer na íntegra. Não seria de todo a minha escolha, mas a esta distância consigo aceitá-la, ver o seu potencial e defendê-la com orgulho. Temos que melhorar o staging, mas manter a simplicidade e o foco na voz da Maro. Estamos a lutar para o top 15, sem dúvida. (9/10)

32) Roménia- Alguém me explique como é que a Roménia soa mais a Espanha do que a própria Espanha? Pensem no moço de Israel, mas em algo mais fraco e descartável. Piroso será o termo mais correcto, sim. (4/10)

33) São Marino- Machine Gun Kelly meets Billy Idol. Não sei se há muito para explorar na canção em si, acho que será mais um caso de artifício do que de substância. Mas ainda vai fazer virar alguns pescoços. (5/10)

34) Sérvia- Mais uma entrada no campeonato pop esquizóide. A produção até me pareceu interessante, mas depois a senhora deve ser companheira de borga da Lituânia, porque ambas sabem como dar cabo de uma festa. (5/10)

35) Eslovénia- Ena, uma banda a tocar instrumentos em palco. Têm classe e um som agradável, mas parecem muito jovens e o vocalista tem que melhorar a postura em palco, caso contrário ninguém se vai lembrar deles. (7/10)

36) Espanha- Ora aqui está uma oferenda de Espanha em condições, bravo! Chanel parece reunir o pacote eurovisivo completo: canção arrasadora, coreografia acesa, noção de como ocupar o palco e levar uma plateia ao rubro. Aceito nada menos do que uma vitória ou top 3. (9/10)

37) Suécia- Graças a Deus pela Suécia, a salvar a honra nórdica. Cornelia Jakobs canta como uma veterana experiente, e a canção parece ser emotiva o suficiente para receber a sua interpretação visceral - e apaixonar a plateia pelo caminho. Pode muito bem ser o retorno da nação amada às vitórias. (10/10)

38) Suíça- Tem condições para ser mais uma participação memorável da Suíça, com uma canção que de certo ressoará em muitos corações eurovisivos. Um quê de John Newman, e um tanto mais para descobrir na actuação integral. (7/10)

39) Ucrânia- A onda de solidariedade face à situação que enfrentam coloca-os na liderança das apostas, mas uma vitória só reforçará o carácter político de um certame que rejeita fortemente esse rótulo. Dito isto, há tradição e orgulho nas raízes, por isso será sempre de esperar uma boa classificação. (6/10)

40) Reino Unido- Céus, que incrível! Poderá ser este o ano em que os britânicos vêm a mudar a sua triste sina eurovisiva? Não sei de onde desencantaram este moço, mas acho que até Sir Elton aprovaria - não aceito menos que um top 5. Por favor, é tempo de fazermos as pazes com eles. (10/10)

Muitas destas opiniões podem mudar conhecendo as canções na íntegra, mas a verdade é que muitas delas só se revelam em pleno quando transpostas para o palco - e aí é que começa a verdadeira competição. Comunguemos neste espírito eurovisivo!

Comentários

Mensagens populares