O que Rosalía andou até chegar a 'Motomami'

 


Rosalia Vila Tobella é o momento. Caída em graça desde que editou El Mal Querer (2018), aclamado projecto conceptual que deu novas roupagens ao flamenco, a catalã nunca mais parou e cruzou o firmamento nos três anos que se seguiriam e conduziriam ao novíssimo Motomami - e é precisamente essa jornada de glória que recuperamos neste post. Tra tra:

1) "Con Altura" (2019)- Quase duzentos mil milhões de visualizações não mentem. Foi aqui que Rosalía alcançou a estratosfera com uma hipnótica construção reggaeton de El Guincho e Frank Dukes, apadrinhada pelo sempre omnipresente/potente J Balvin. Deu-lhe dois VMAs, um Grammy Latino, o seu segundo nº1 em Espanha e o indisputável êxito desse Verão. 

2) "Barefoot in the Park" (2019)- James Blake foi um dos primeiros nomes internacionais a sucumbir aos encantos de Rosalía, tendo transformado o encantatório encontro entre ambos no quarto single de Assume Form: uma belíssima amálgama dos sons latinos e de flamenco da sua intérprete, com a soul digital do feiticeiro britânico. 

3) "Aute Cuture" (2019)- Madre mía, Rosalía, bájale! Uma batida pop maior do que a vida servida por El Guincho. O Mystic Beauty Gang. Unhas esculturais. Name-checks aos Hamptons e a Valentino. Rosalía a divertir-se na sua recém-encontrada condição de popstar - e a recolher o seu terceiro nº1 em Espanha pelo caminho. 

4) "Milionària" (2019)- À entrada do Verão, e com o perfil a escalar incessantemente, entregava-nos o díptico Fucking Money Man: de um lado o flamenco pós-moderno de "Milionària", entoado no seu catalão natal e arrancado às páginas do seu contabilista, e do outro a reflexão agridoce de que o dinheiro não compra as coisas invisíveis aos olhos. Terceiro nº1 consecutivo, quarto no geral.

5) "Yo x Ti, Tu x Mi" (2019)- Estocada final na temporada estival de sonho que Rosalía atravessou, é talvez a oferenda mais pop e melódica da espanhola até hoje, numa nova e celebrada aliança entre El Guincho e Frank Dukes. A química com Ozuna é notória e valeu-lhes dois Grammys Latinos, bem como o quarto nº1 consecutivo da cantora nesse Verão. 

6) "A Palé" (2019)- Correndo o risco de estar a passar definitivamente para o lado mainstream e mais normativo da equação, Rosalía fechou o ano com o glitch pop intrigante de "A Palé", inspirado pela seu crescimento num bairro de fortes origens industriais. Não teve uma trajectória comercial expressiva, mas firmou estacas nas convicções e intenções artísticas da sua autora.

7) "Juro Que" (2020)- Depois de um pequeno verso na remistura de "Highest in the Room" de Travis Scott, Rosalía iniciou a nova década com o regresso ao flamenco puro e tradicional de "Juro Que", que levaria inclusive ao palco da edição desse ano dos Grammy Awards. A sua voz brilha entre dedilhados velozes e palmas incessantes.

8) "Dolerme" (2020)- Antes da pandemia atingir em cheio o mundo, Rosalía preparava-se para libertar "TKN", mas adiou o seu lançamento e sem aviso sacou deste "Dolerme", balada midtempo de Frank Dukes com inclinações alt rock dos anos 90, que nunca chegou a receber tratamento de single oficial. 

9) "TKN" (2020)- Depois da breve colaboração, Scott e Rosalía voltaram então a medir a temperatura no bombástico e robustíssimo single que lançaram à entrada do Verão'20, que combina trap com reggaeton, e põe Travis Scott a debitar pela primeira vez rimas em espanhol. Inspirada pelos squads que os artistas movem, explora o imaginário de gangsters no vídeo assinado pelo colectivo CANADA. Novo nº1 para la reina Rosalía.

10) "Blinding Lights [Remix] (2020)"- Antes de chegarmos a "La Fama", tivemos direito a uma nova (e desnecessária) versão de "Blinding Lights" por ocasião do seu primeiro aniversário, que quanto muito veio comprovar o estatuto global que Rosalía tinha alcançado, colaborando com a maior estrela masculina da actualidade, no maior tema pop dos anos 20.

11) "Lo Vas a Olvidar" (2021)- Era há muito aguardada a canção que uniria Rosalía a Billie Eilish: acabou por chegar no início de 2021, integrada na banda-sonora da primeira temporada de Euphoria. É essencialmente aquilo que se espera de uma faixa de Billie produzida pelo irmão Finneas, com a diferença de que a ouvimos a oscilar entre dialectos, com a produção art pop soturna e atmosférica do costume. Perderam aqui a oportunidade de fazer algo diferente e disruptivo. 

12) "La Noche de Anoche" (2021)- Muito celebrada foi também a parceria entre a cantora e Bad Bunny para o álbum de 2020 deste, El Último Tour Del Mundo, num cálido reggaeton midtempo com influências pop, que lhe valeu o seu sétimo nº1 na tabela de singles espanhola. 

13) "Linda" (2021)- A última paragem antes de chegar a Motomami foi esta suada e infecciosa colaboração dembow com laivos de flamenco com a rapper dominicana Tokischa, cujo perfil subiu assim em flecha depois deste encontro, e que dobraria a parceria já no novo álbum. 


Motomami é agora do mundo e a crítica é consensual em elegê-lo como nova obra-prima do catálogo da catalã e álbum mais aclamado de 2022 até ao momento. Houve muito trabalho e empenho para chegar a este nível, mas algo nos diz que a lenda de Rosalía ainda agora começou a ser escrita. 

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