365 dias de 'Folklore'
Lembro-me da longa missiva por ela deixada nas redes sociais que anunciava o disco. De achar que seria uma tentativa de emulação de algo em vez da personificação séria que se pretendia. Lembro-me da aclamação inicial tremenda que suscitou por parte da crítica. E de recear que talvez não fosse para mim porque era pela Taylor da pop que me havia apaixonado.
Lembro-me do primeiro embate com "Cardigan". A Nárnia alada que revelava novos mundos a cada nova audição. O primeiro cartão de visita de um disco deslumbrante que poderia ter outros quinze. Lembro-me da primeira audição ávida, incapaz de reter tantos nomes, detalhes e recantos. De o escutar dias a fio, em idas à praia e de descanso em casa - uma, duas, três vezes se preciso. Um pequeno balão de oxigénio no negrume asfixiado para o qual a pandemia nos havia atirado.
Lembro-me das canções a entranharem-se em mim, tal como o sol que deixava o seu toque na pele. Como o gosto a algo ou alguém que talvez nunca conhecemos, mas pelo qual sempre ansiámos. E subitamente, a luz da manhã a entrar pelos estores não era só o toque da alvorada. Uma viagem de carro não era só parte do destino. A praia de sempre já não era só o refúgio estival das memórias de uma vida. A casa a que voltava não era a mesma em que sempre vivi. Tudo estava ampliado, melhorado e mais nítido. E a culpa era toda dele.
Deve ser isto a que chamam perdermo-nos de amores pela música. Nesse caso então, vivi um romance profundo com Folklore. Não sei dizer quanto tempo durou ao certo, apenas que aquele foi o Verão mais maravilhoso numa série de anos. Não importava o quão deprimente e preocupante estivesse o mundo lá fora, porque ele era o meu oásis. Viver uma história de amor nas palavras e na voz da artista com que mais me identifiquei nos últimos seis anos foi tremendamente especial.
Enquanto isso, o resto do globo parecia comungar na mesma magia. Uns dirão que Fearless é o seu conto de fadas. Outros, que Speak Now lhes mudou a vida. Que Red lhes curou o coração. Que 1989 é a maior bíblia da pop moderna. Talvez ninguém esteja errado. Mas todos podemos concordar que Folklore é simplesmente... algo mais. É Taylor em mais uma fascinante mutação artística, no pináculo das suas capacidades líricas e vocais, a desenhar-nos um universo particular ao qual queremos sempre voltar.
Das primeiras notas de piano de "The 1" ao crepúsculo orquestral de "The Lakes", não há mácula alguma. Cada canção significa tanto para cada um, e todos seremos capazes de lhe atribuir interpretações diferentes - aí está a beleza da música. Mas Folklore é um raro momento de consenso ubíquo entre a facção crítica e popular, talvez irrepetível na carreira de Swift, o que ajuda a cultivar a magia e o culto.
Sei o quão pálido estava antes dele, fraca versão de mim mesmo à espera do seu tónico revitalizante. Chegou, como sempre, pela música. Pela mão da querida Taylor. Sei o quão as coisas melhoraram depois disso. E mesmo quando pioraram, a sua herança impediu que doesse tanto. Que poder transcendente e transformador este, da música. Um ano volvido, comemoramos e agradecemos a forma como nos mudou (e salvou) a vida.
But I (still) can see us lost in the memory...
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