A moda dos samples dance/europop


Depois da febre disco sentida no início da década, agora parece ser altura do ressurgimento da onda dance/europop do final dos anos 90, início dos anos 00, transposta para a cultura pop dos nossos dias.

"Alone", a submissão da barbie alemã Kim Petras para o campeonato dos hits de Verão'23, sampla "Better Off Alone" (1997) dos holandeses Alice Deejay, cruzada com influências trap cortesia do featuring da outra barbie certificada, Nicki Minaj herself. Um hit transversal que foi recentemente samplado também pelos produtores/DJs Sam Feldt e Jonas Blue em "Crying On the Dancefloor". E que há dez anos já havia sido utilizado fortemente por David Guetta em "Play Hard"


O produtor francês, de resto, não é nada alheio a estes "empréstimos" criativos, tanto que dois dos seus últimos singles recorrem à bíblia europop. Escuta-se "Blue (Da Ba Dee)" (1998) dos italianos Eiffel 65 no seu "I'm Good (Blue)" a que Bebe Rexha deu voz, e "What Is Love", êxito de 1993 de Haddaway na nova colaboração com Anne-Marie e Coi Leray, intitulada "Baby Don't Hurt Me"

É legítima a discussão em torno da apropriação desnecessária (ainda que legal e consentida por parte dos autores originais) ou da recriação para uma nova geração de ouvintes que não conheceu e cresceu com estas canções. E há quem o faça excepcionalmente bem, como Raye e os Rudimental, que em 2020 foram recapturar a magia de "Rapture" (2001) dos iiO para "Regardless"; Ava Max, que no mesmo ano canalizou a energia eurodance de "Around the World (La La La La La)" dos ATC para criar algo novo, perfeitamente nostálgico e inteiramente bombástico em "My Head & My Heart", ou a dupla britânica Switch Disco, que já este ano ressuscitou o clássico trance dreamy "Children" (1995) de Robert Miles para "React", numa avassaladora vocalização de Ella Henderson. 


Henderson, por seu lado, é campeã nesta liga de samplagem: o seu celestial "Dream on Me" em 2020 recorreu a "Another Chance" de Roger Sanchez, que em 2001 escalou até ao nº1 da tabela de singles britânica. Já no ano passado, o conterrâneo Nathan Dawe requisitou-a para uma modernização de "Destination Calabria" (2007) de Alex Gaudino num inolvidável "21 Reasons". Também Rita Ora, a meio de uma tentativa de comeback, decidiu fazer um re-work de "Praise You" de Fatboy Slim, mudando apenas a letra, o tempo verbal do título e atribuindo crédito de parceiro ao autor do tema original. 

No ano passado, Charli XCX fez a dobradinha ao recuperar "Cry for You" (2006) da sueca September para um mui apreciado "Beg for You" que edificou ao lado de Rina Sawayama, e adicionou o seu nome à longa lista de artistas que requisitaram porções de "Show Me Love" (1990) de Robin S. com a sua utilização no hino kiss-off "Used to Know Me", com que encerrou a campanha promocional de Crash. Nesse Verão, Beyoncé dava início à era sublime de Renaissance com a maior das homenagens à autora até então, num "Break My Soul" que chutou a pandemia de vez para um canto.

Todas estas investidas contribuem para o ressurgimento da dance music nas tabelas, dez anos depois da explosão comercial do EDM. Afinal de contas, isto vive tudo de ciclos - o melhor é aproveitar enquanto dura, e não perder a boleia para a próxima tendência. 

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