Indie Attractions #24

Os Wolf Alice são possivelmente a melhor banda britânica da actualidade. My Love Is Cool, a estreia de 2015, passava por um feliz acaso de revivalismo shoegaze e grunge, não fosse o sucessor Visions of Life - presença assídua nas listas de melhores discos do ano passado - ter comprovado a fibra do quarteto. Um álbum tremendo de rock alternativo, sonicamente caótico e liricamente denso, que nunca perde o seu encanto quer se inflame na fúria descontrolada de nervo punk de "Yuk Foo", se banhe na candura pop/funk de "Beautifully Unconventional" ou se perca nos confins dream pop da etérea "Don't Delete the Kisses". Foquemo-nos nesta última: composição de texturas dreamy, shoegaze e synthpop, é o tipo de canção em que nos queremos perder e viver uma vida inteira. O tipo de canção que nos preenche de memórias que talvez nem sejam reais. Mas que evoca um imaginário suficientemente forte para que assim pareça. O tipo de canção capaz de definir um tempo e a expressão artística de um grupo. Será demasiado tarde para voltarmos a 2017?

Os Unknown Mortal Orchestra despedem-se do lo-fi e abraçam o stoner rock em "American Guilt"; Angus & Julia Stone fantasiam sobre memórias felizes no hotel Chateau Marmont; os Sunflower Bean seguem no encalço dos Fleetwood Mac no apaixonante "I Was a Fool"; os Drums reencontram o equilíbrio entre o êxtase indie pop e a glória surf rock de "Let's Go Surfing" no novo "Meet Me In Mexico"; os DMA's recuperam a nostalgia britpop no belíssimo "In the Air"; olho bem fixo nos estreantes Wallows e no propulsivo pedaço indie rock que é "Pulling Leaves Off Trees", e sabemos que não há fim à vista para a proficiência dos Tame Impala quando um lado B é tão estrondoso quanto "List of People (To Try and Forget About)".

Ponham os olhos e ouvidos nisto:

Dezassete meses sem uma incursão pelo mundo indie é demasiado tempo. Parece que esse meu lado estava adormecido, mas 2018 tem sido generoso e devolveu-me a capacidade e vontade de o alimentar. Que assim permaneça.