Words I Never Said

Rihanna-"The Last Song"
Rated R (2009)



Há certas alturas na vida em que pomos em causa aquilo em que acreditamos e defendemos. Chegado esse momento há apenas duas coisas a fazer: ignorar esse sentimento ou saber lidar com isso e encontrar uma nova perspectiva, um novo olhar, uma nova estrada. Hoje deparo-me com uma dessas situações e pretendo exorcizá-la nas linhas que se seguem.

Quem tem acompanhado este blog ao longo dos seus 3 anos e tal de existência saberá com certeza que sou um profundo admirador da Rihanna e da impressionante carreira que construiu nestes últimos 7 anos: ninguém como ela quebrou tantos recordes em tão pouco tempo e possui uma vasta lista de êxitos colossais capazes de encher 2 best of. Mas tudo isso ameaça ruir agora.

Há já algum tempo que o sinto, mas só agora tenho coragem de o verbalizar: estou farto dela. Há praticamente 3 anos que se encontra em actividade ininterrupta, tendo lançado 3 álbuns, 23 singles, 21 vídeos e feito 2 tours mundiais, o que é completamente alucinante para qualquer artista. Acontece que Rihanna não é uma artista qualquer, tendo-se transformado numa máquina. Para o bem e para o mal.

Mas nem sempre foi assim: em 2009 lançou aquela que foi a sua obra-prima e que não teve o reconhecimento merecido. O álbum em questão é o Rated R, trabalho que a elevou a um patamar de excelência que infelizmente não soube aguentar nos anos que se seguiram quando confrontada com a escolha de manter a sua integridade artística ou vender a sua alma e ir pelo caminho mais óbvio, que foi o que sucedeu.

Rated R é um dos melhores álbuns que já ouvi na vida. Recebi-o no meu 18º aniversário e lembro-me perfeitamente de ter atingido um puro estado de felicidade que nenhum outro disco me havia proporcionado. Tudo nele é perfeito: as letras sentidas que transbordam de múltiplas emoções, a sonoridade futurística (talvez há frente do seu próprio tempo), o seu tom obscuro, transparente e maduro e a versatilidade e evolução da própria Rihanna.

Foi este o álbum que me levou a admirá-la com todo o fervor, sendo um sinal do que teria sido a sua carreira caso não tivesse enterrado a sua alma, passando a ser uma marioneta nas mãos da sua editora, movida pela ganância do dinheiro e regendo-se pelo lema da quantidade acima da qualidade.

Foi então num momento de lucidez que me apercebi de que gosto mais dos recordes que ela quebra do que propriamente dos seus últimos temas e que estou a ir contra os meus princípios e convicções ao continuar a afirmar que é a minha artista favorita. A forma como vejo o mundo mudou tal como a minha percepção acerca da música e por isso sinto que é errado continuar a iludir-me e a fechar os olhos aos erros que Rihanna comete.

Atrevo-me mesmo a dizer que ela entrou numa espiral destrutiva que poderá não acabar bem e que só terá fim quando conseguir dizer a si mesma que tem que parar antes que seja tarde demais. Não sou só eu que estou cansado dela, pois também muitos outros se sentem enjoados da sua omnipresença e esse desalento começa a repercutir-se nas vendas dos seus álbuns e singles, já para não falar do quanto isso tem beliscado a sua credibilidade artística junto dos críticos.

"Here we are , mid-air off of the cliff
staring down at the end again"

Até esse dia chegar, prefiro esquecer que a era vertiginosa e de autêntico descalabro de Talk That Talk não existiu e que algures no meio de tanta hipocrisia permanece, algures, a artista genuína e com personalidade de Rated R.

"But then again maybe we're finally
on the road that's headed away
from all your complaining of hearing the same song
but baby we'll hear it when I'm gone"

Preciso, aliás, precisamos todos de um longo período de afastamento de Rihanna para que possamos ter saudades e recordar o que de melhor existe nela. É tempo de tanto eu como ela encontrarmos uma nova estrada e, talvez, um dia mais tarde, reencontrarmo-nos musicalmente.

"It's time to turn on the last song"

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