MTV Video Music Awards 2016- A lenda de Rihanna e o show épico de Queen B


O Madison Square Garden acolheu a 33ª edição dos MTV Video Music Awards, numa noite em que Rihanna foi homenageada com o Prémio Vanguarda e se desdobrou em quatro suites performativas e Beyoncé se tornou na artista mais galardoada de sempre da história da cerimónia, vencendo oito estatuetas e oferecendo ao público outra colossal actuação que pertence desde já à galeria de melhores momentos televisivos jamais vistos na MTV.

Pelo meio houve um discreto mas eficiente regresso de Britney Spears aos palcos dos VMAs, um discurso não-tão-escandaloso-assim de Kanye West, uma declaração apaixonada de Drake à deusa dos Barbados e pouco mais que valha a pena ser recordado.

Conheçam a lista completa dos vencedores:

Video of the Year- Beyoncé- "Formation"

Best Male Video- Calvin Harris ft. Rihanna- "This Is What You Came For"

Best Female Video- Beyoncé- "Hold Up"

Best New Artist- DNCE

Best Pop Artist- Beyoncé- "Formation"

Best Rock Video- Twenty One Pilots- "Heathens"

Best Hip Hop Video- Drake- "Hotline Bling"

Best Electronic Video- Calvin Harris & Disciples- "How Deep Is Your Love"

Best Collaboration Video- Fifth Harmony ft Ty Dolla Sign- "Work from Home"

Breakthrough Long Form Video- Beyoncé- Lemonade

Best Direction- Beyoncé- "Formation"

Best Choreography- Beyoncé- "Formation"

Best Visual Effects- Coldplay- "Up&Up"

Best Art Direction- David Bowie- "Blackstar"

Best Editing- Beyoncé- "Formation"

Best Cinematography- Beyoncé- "Formation"

Song of Summer- Fifth Harmony ft Fetty Wap- "All In My Head (Flex)"

Michael Jackson Video Vanguard Award- Rihanna


Assim foi a 33ª edição dos VMAs:


Esperava-se um estrondoso e extenso medley de abertura para Rihanna, mas Miss Fenty trocou-nos as voltas e decidiu servir a sua actuação comemorativa em quatro suites, cada uma representando uma faceta do seu percurso. A de deusa pop/house foi a eleita para o primeiro acto onde "Don't Stop the Music", "Only Girl (In the World)", "We Found Love" e "Where Have You Been" não faltaram à chamada. Algures entre o vídeo de "Sorry" de Bieber e um qualquer anúncio para o novo papel higiénico cor-de-rosa da Renova, RiRi cumpriu na selecção e na enérgica coreografia. O corte abrupto e inesperado deixou-nos a salivar por mais.


Após o retornado Diddy ter atribuído o Best Hip Hop Video a "Hotline Bling" de Drake - preso no trânsito e por isso incapacitado de o receber das mãos do magnata - foi altura de Ariana Grande apresentar ao vivo pela primeira vez o aditivo novo single de Dangerous Woman numa suada sessão de spinning e outros exercícios de força/elasticidade a resvalar para o erótico. Lá tivemos que levar com Nicki Minaj pela 27ª vez no palco dos VMAs - a terceira consecutiva, pelo menos - talvez um pouco mais rígida e fria que o costume. Valeu pelo conceito e aparato cenográfico, mas vocalmente foi aquém do esperado, perdido que estava o fôlego nas bicicletas. Ainda não foi desta que tivemos uma actuação estupenda de Ari la Grande.


Depois de uma Alicia Keys tão mãe-terra ter entregue o discurso da noite e o prémio de Best Male Video a um também ausente Calvin Harris - talvez o maior choque da noite, tendo em conta os concorrentes com quem partilhava a categoria - Future aka Prince of Trap sobe ao palco para uma celebrada actuação de "Fuck Up Some Commas" do seu penúltimo álbum. Tudo certo, mas oportunidade desperdiçada para escutar "Low Life" ou "Wicked" de Evol. Existiriam melhores argumentos para representar a cena hip hop nos VMAs deste ano. 


Vá lá, desta vez calhou-nos um Yeezy sereno e apaziguador na rifa. O discurso inicialmente previsto de quatro minutos alargou-se para sete mas, do mal ao menos, ninguém saiu ofendido com a grandiloquência que lhe assiste. A maior polémica estaria reservada para a estreia do vídeo de "Fade" - um exclusivo Tidal - que fez "Call On Me" de Eric Prydz parecer um menino de coro. Céus, quanta coreografia, erotismo, óleo corporal e ambiguidade felina num só vídeo...


Tempo para o segundo de quatro medleys de RiRi, aqui em modo Bajan Queen - a celebração das suas raízes e o orgulho caribenho expressos através de "Rude Boy", "What's My Name?" e "Work". Foi bonito e contagiante assistir à festa gerada no palco, mas senti a falta de "Pon de Replay" ou "Man Down". Pouco depois é a vez de seguirmos Nick Jonas por um american dinner fora naquela que só pode ser uma das canções mais ridículas do ano. E foram 4 minutos da nossa vida que não voltaremos a recuperar. 


Felizmente que o que se segue vale pela noite toda. Confirmada como performer pouco menos de 24 horas do início da cerimónia, Queen B serve-nos o medley da sua vida e uma das melhores actuações da história dos VMAs. Tendo em conta que em 2014 estabeleceu a fasquia com o medley do aclamado álbum homónimo, a tentativa de recriar um momento semelhante com o também conceptual Lemonade parecia arriscada. Onde antes existiu expansão - canção atrás de canção - agora existiu foco e possibilidade de dar aos temas o espaço e liberdade que estes pediam.


"Pray You Catch Me" foi servido com todo um dramatismo cénico ao melhor nível de Kanye West. A mutação para o reggae abespinhado de "Hold Up" foi feita com sucesso, completada de permeio com um throwback a "Countdown" de 4 (2011). A tacada foi certeira e conduziu-nos ao imperial "Sorry" e ao seu quinhão de versos virais, transposto para o palco com estupenda coreografia. Chega "Don't Hurt Yourself" e Beyoncé é um bulldozer em acção que trucida tudo e todos à sua passagem. Sozinha em palco, furiosa e implacável, dá-nos o zénite da sua actuação. Aos primeiros acordes do confrontacional "Formation" estamos esmagados com a magnitude da performance e resta-nos assistir pasmados à estocada final. Houvesse um troféu superior ao de Vanguarda e Queen B seria a sua única depositária. 



A descer aos poucos das nuvens, damos conta que as Fifth Harmony arrebatam o prémio de Best Collaboration Video pelo seu trabalho com Ty Dolla Sign em "Work". Altamente contestável (principalmente quando há um outro que une Beyoncé a Kendrick Lamar), mas não tanto quanto vê-las ganhar o prémio de Best Summer Song com o single sucessor, "All In My Head (Flex)". Moças, não se esforcem tanto com estes subornos que daqui a dois anos já estarão a harmonizar cada uma para seu lado. 


Depois de Rihanna e Beyoncé, o regresso da lendária Britney Spears aos palcos dos VMAs era o grande atractivo da noite. Mas, pelas circunstâncias em que aconteceu (suceder a Queen B era simplesmente impossível), o momento tornou-se apenas redutor. Naquela que foi a sua primeira performance em 9 anos, Britney foi (demasiado) competente e falhou em proporcionar algo mais que um espectáculo linear e normativo. A coreografia foi o mais positivo, a voz (ou a ausência dela) um ponto negativo a que já nos habituámos e a intersecção com "Me, Myself & I" de G-Eazy uma afronta para a própria Bebe Rexha. Oh well, pelo menos apagou de vez o borrão de "Gimme More". De seguida Beyoncé colecciona mais um troféu, agora para Best Female graças a "Hold Up". Avé. 



@badgalriri em todo o seu esplendor para o terceiro medley da noite, possivelmente o mais sensaborão mas também o mais competente a nível cenográfico, complementado com um figurino futurista à boa moda de Grace Jones. Para a faceta urbana/hip hop foram convocados o ácido "Needed Me", o gangsta "Pour It Up" e o vingativo "Bitch Better Have My Money", nenhum deles êxitos comerciais por aí além, mas que trazem ao de cima a aspereza e carácter indomável de Rihanna.



Da mesma forma que um Nick Jonas é convocado para tostar "Bacon" na cerimónia, também os DNCE - banda onde milita o irmão Joe Jonas - são chamados a receber o Moonman de Best New Artist. Um grande bocejo e siga para a actuação dos Chainsmokers com Halsey para defender o actual nº1 da Billboard Hot 100. Ele já por si fraqueja na gravação e muito pior fez ao vivo, já ela também não foi imaculada, mas compensou com uma boa presença em palco. Teríamos passado bem sem eles, portanto. 



Sem grande supresa, Beyoncé arrebata o prémio de Video of the Year com "Formation". É a sua segunda vitória na categoria mais disputada dos VMAs e que faz aumentar o número de Moonmans coleccionados ao longo de treze anos para 24, um recorde absoluto. É também a única artista para a qual Kanye West não se importa de perder, por isso, ficámos todos contentes. 


Para o derradeiro medley RiRi traz a si o cancioneiro mais meloso e baladeiro do seu percurso. Qual escultura surrealista a liderar uma sumptuosa orquestra, percorre sem freios ou resguardos emocionais "Stay", "Diamonds" e o vindouro single de Anti, "Love on the Brain", na mais aclamada das suites performativas. A divisão temática fez todo o sentido para alguém que se pauta pela versatilidade e omnipresença - nem poderia ter sido de outra forma.


Findo o generoso desfile de êxitos, Rihanna recebe por fim das mãos do amigo colorido Drake o Michael Jackson Video Vanguard Award pelos seus formidáveis préstimos ao serviço da pop nos últimos 11 anos. Aos 28 de idade, torna-se na mais jovem artista a receber o Prémio Vanguarda. O discurso apaixonado de Drizzy foi bonito, tal como a reacção envergonhada/divertida de RiRi perante as palavras deste. Uma escalada relativamente rápida mas conseguida com muito esforço, resiliência e humildade. Palmas e vénias à rapariga de origens humildes que veio de Barbados para se tornar num ícone planetário. E que a partir desta noite é também lendária.

Ponto final na cerimónia. Francamente abaixo relativamente à de 2015 e em linha com aquilo que tem sido feito nos últimos anos. Em 2016 não faltaram astros, mas faltou o saber-fazer, o arrojo típico da MTV dos anos 00 e, sobretudo, um anfitrião à medida (em vez disso tivemos gralhas comentadoras como que a relatar um combate de boxe). Enfim, para o ano teremos sempre mais... certo?

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