10 Anos de Into the Music em 10 Canções Nacionais


Dez anos a colher também pérolas por essa pátria fora:


Buraka Som Sistema- "Sound of Kuduro" (2008)

One drop, two drop, three drop, four: sound of kuduro knocking at your door! A memória colectiva reteve sobretudo o sucessor "Kalemba (Wegue Wegue)", mas foi indiscutivelmente o predecessor "Sound of Kuduro" que representou o início da difusão internacional do kuduro progressivo praticado pela banda, aqui numa incrível aliança que reunia DJ Znobia, Puto Prata, Saborosa e M.I.A. Sem dúvida o projecto mais importante da música portuguesa da década passada. 



Amália Hoje- "A Gaivota" (2009)

Cinco anos depois de o projecto Humanos ter dado nova vida aos escritos deixados na gaveta por António Variações, foi a vez de Nuno Gonçalves, Sónia Tavares, Fernando Ribeiro e Paulo Praça imprimirem uma outra tonalidade a algumas das criações de Amália Rodrigues, num movimento de grande arrojo, risco e bravura artística. "A Gaivota" foi o majestoso cartão-de-visita, imperial pedaço de pop orquestral que se tornaria no maior êxito desse ano. O álbum seguiria pelo mesmo caminho. 



Deolinda- "Um Contra o Outro" (2010)

Depois de um belíssimo álbum de estreia que cruzava influências de fado com heranças da música popular portuguesa e os tornou num fenómeno nacional, os Deolinda ganhavam ainda maior encanto e fundamento com um segundo álbum que chegou meros dois anos após Canção ao Lado, antecedido pela canção-torcha "Um Contra o Outro", magnífica prosa sobre despertar para a vida fora dos ecrãs, para a magia do que nos rodeia e que verdadeiramente importa, a provar que o binómio ginga de corpo/comentário social continuava forte no seio do grupo. 



Márcia & JP Simões- "A Pele que Há em Mim (Quando o Dia Entardeceu)" (2011)

A canção já vivia no EP de estreia de Márcia editado pela Optimus Discos em 2011, mas ganhou lugar no cancioneiro essencial da música portuguesa graças à versão alargada incluída na reedição de Dá, que recebe o notável contributo de JP Simões, aqui a proporcionar a outra versão de uma história de desvinculação amorosa que é parte triste, parte rancorosa e inteiramente resignada. Sem sombra de dúvida que é das composições mais sublimes ao serviço da língua portuguesa. Neste século e no anterior. 



Ana Moura- "Desfado" (2012)

Em 2012 Ana Moura já pouco tinha a provar se não a ela própria. Mas daí até fazer um álbum monumental em que se propõe a virar o fado do avesso e procurar novas linguagens dentro do género que a popularizou, ao mesmo tempo que se entrega a uma nova geração de autores da nossa praça, vai uma grande distância. Do ainda mais influente (e vendido) álbum português da década, o tema-título, com assinatura do genial Pedro da Silva Martins, dos Deolinda, é aquele que melhor expressa o seu propósito de existência.



Gisela João- "Meu Amigo Está Longe" (2013)

Como esquecer o estrondoso despontar de Gisela João, ainda a melhor revelação do fado nesta década. "Meu Amigo Está Longe", original de Amália composto por Ary dos Santos e Alain Oulman feito cartão-de-visita do imaculado disco de estreia, revelava logo ali todos os seus trunfos: voz possante de magnitude sísmica, tacto especial para o manuseamento e entrega dos versos, canções ancoradas na mais profunda tradição portuguesa e todo um figurino irreverente de all-star em riste a quebrar com os ditames. Foi amor para a vida.



Capicua- "Sereia Louca" (2014)

É com alguma pena que se constata que o hip hop nacional ainda é sobretudo um universo dominado por homens. Mas há que acreditar que o esforço de Capicua em tentar equilibrar os pratos não foi em vão: 2014 foi sobretudo dela graças a um imenso álbum que reflectia sobre a condição feminina, a passagem do tempo ou o estado do planeta. O angustiante single de avanço jogava de forma genial com as ambições da própria rapper e as expectativas da sociedade perante a mulher, embalado num beat onírico e intemporal de DJ Ride. 



Best Youth- "Mirrorball" (2015)

Há uma mão cheia de anos que os Best Youth vinham a assinar momentos de indescritível beleza: fosse com o intimismo cinematográfico de "Hang Out" ou com a reconfortante experiência acústica enquanto There Must Be a Place. Mas seria com a edição de Highway Moon e sobretudo com a chegada a single de "Mirrorball" que a dupla portuense cumpriria o seu potencial: nada menos do que um fantástico tema disco/synthpop carregado de tensão e tingido de dúvida e desolação. 



Mishlawi- "All Night" (2016)

E, se de repente, Drake tivesse sido criado em Cascais e adoptado pela família da Brigdetown Records? A resposta materializar-se-ia em Tarik Mishlawi, nascido nos States mas tendo eleito Portugal como a sua pátria - e é por estas bandas que faz a diferença. O debute "All Night" permanece tão irrecusável como da primeira vez: insano bop trap&B com um presumível sample à mistura do êxito boogaloo de 67 "I Like It Like That" (Cardi quem?) que versava sobre uma relação à distância e brindava ao seu novo estatuto de sensação emergente.
  


Salvador Sobral- "Amar Pelos Dois" (2017)

Do tempo em que Salvador foi elevado a messias da pátria. Da altura em que saímos da Eurovisão com uma vitória que demorou 53 anos a conquistar. Da vez em que os manos Sobral tiveram a Europa a seus pés, com uma canção tão delicada e bela em bom português. "Amar Pelos Dois" marca um capítulo tão bonito e mágico na nossa história enquanto povo, que lhe teremos sempre reservado um lugar especial no coração. Obrigado.

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