As 250 Melhores Canções Internacionais da Década: 225º-201º


Prosseguimos a todo o vapor, rumo até ao nº201:

225º San Holo- "Light" (2016)- O DJ/produtor holandês San Holo - melhor anagrama artístico de sempre - lançava obra a solo desde 2013, mas seria três anos mais tarde que se faria notar com a odisseia caleidoscópica de "Light", um dos maiores monumentos erguidos à future bass nesta década, encharcada pela sua produção mirabolante e pela voz celestial da conterrânea Tessa Douwstra. Melhor viagem de montanha-russa jamais feita em quatro minutos. 

224º Bastille- "Pompeii" (2013)- Depois de uns primeiros temas promissores em 2012, tudo indicava que 2013 fosse o ano da revelação dos Bastille - e assim foi. "Pompeii" passa por uma alegre composição indie pop, mas na verdade trata-se de uma rebuscada canção sobre a cidade anciã romana com o mesmo nome destruída pela erupção do vulcão Vesúvio, acabando também por se revelar uma metáfora para a perda e sofrimento humano. A reflexão é profunda: perante cataclismos, por onde começamos a escavar - pelos escombros, ou pelos nossos pecados?

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223º Cee Lo Green- "Fuck You" (2010)- Seja na versão com asterisco, sigla ou censurada, esta é uma canção do caraças. Cee Lo já nos havia mostrado daquilo que era capaz quando nos entregou na década passada a fenomenal "Crazy" ao leme dos Gnarls Barkley, ficando só a faltar uma canção em nome próprio tão ou mais ubíqua. "Fuck You" foi a tal capaz de concentrar toda a massa popular bem como de encapsular toda aquela voz imensa e personalidade gigante ao serviço de um inescapável (e furibundo) single soul-pop/funk embalado na melhor tradição da Motown. 

222º Karmin- "Brokenhearted" (2012)- Come on, that's right, cheerio. Este foi o espectacular início do percurso dos Karmin no mainstream, ainda que breve e condenado pelas inúmeras influências de agentes externos. Mas se existia alguém preparado para este momento eram eles, depois de anos a germinar no YouTube: "Brokenhearted" capta tudo com imenso fulgor, um ginasticado e dinâmico single que combina a chama pop de uma Katy Perry com as sensibilidades rap de Nicki Minaj. A dupla não fica para a história dos anos 10, mas a canção sim. 

221º Eliza Doolittle- "Skinny Genes" (2010)- Havia muito de Lily Allen nos primórdios de Miss Eliza Doolittle: a começar pela voz - discreta, doce e afinada - continuando nas leves influências ska que perfumavam o seu disco de estreia, e terminando na destreza das canções, como este "Skinny Genes", uma airosa canção indie pop que veio inverter os canônes dos relacionamentos: aqui é ela que usa um rapaz - detestável, por sinal - apenas pelos benefícios da sua química sexual. 

220º Awolnation- "Sail" (2010)- A proporção de canções desenhadas para o apocalipse face aos blockbusters do género que a Sétima Arte deu ao mundo, é francamente desequilibrada, mas o fosso ficou ligeiramente menos fundo com "Sail" dos Awolnation, o tipo de canção que se escuta quando se sente o prenúncio de perigo no vento e na ponta dos dedos, uma espécie de sinfonia de rock electrónico e industrial que inspiraria porventura a marca identitária dos Imagine Dragons pouco tempo depois. Conta com uma das trajectórias comerciais mais bizarras, incomuns e longas da década.

219º B.o.B feat. Hayley Williams- "Airplanes" (2010)- Muito antes de se decidir a desperdiçar tempo defendendo que a terra é plana, entre outras teorias de conspiração, B.o.B era até um rapper bastante decente. Não lhe demorou muito até alcançar o seu pináculo - comercial, pelo menos - com o terceiro single do disco de estreia, que relembrava já com saudade a vida de anonimato e de maior tranquilidade que levava antes da fama recém-encontrada. A grande esperança cor-de-laranja estava lá para levar o tema a outras alturas. Só não aproveitou foi a descolagem a solo...

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218º Astrid S- "Hurts So Good" (2016)- Encontramos de novo a precisão escandinava pelo caminho com o tema que colocou a norueguesa Astrid S, então com 19 anos, no mapa do mainstream internacional: uma estelar composição electropop sobre voltar uma e outra vez para os braços da pessoa errada, sabendo que ambas as partes sofrerão no final. Astrid chegou a atingir o mesmo patamar de qualidade com lançamentos vindouros, mas "Hurts So Good" continua a ser o tema mais amplo e identificável do seu catálogo.

217º Saint Motel- "My Type" (2014)- Se Johnny Bravo fosse uma canção, esta seria a sua encarnação. Exuberante e divertidíssima construcção indie pop de ginga funk rock, "My Type" soa a algo que os anos 70 e a banda-sonora de The Love Boat produziriam. Para um tema que declara flirt cerrado a tudo o que respire, o charme e a ironia são em grandes doses, principalmente quando o vocalista debita sedutoramente o verso "I'm a man who's got very specific taste". Seus bons malandros.

216º Chairlift- "Romeo" (2015)- O público e a crítica abandonaram um bocadinho o projecto de Caroline Polachek e Patrick Wimberly depois do segundo disco, mas o terceiro - e derradeiro - álbum da banda revelava particular brio nos singles escolhidos. Como em "Romeo", uma inebriante composição synthpop/new wave inspirada na figura mitológica de Atalanta, deusa caçadora que levava os seus pretendentes a correr contra si - matando quem perdesse e entregando o seu coração a quem vencesse, por fim. Adoramos todos uma boa fábula indie.

215º Grace feat. G-Eazy- "You Don't Own Me" (2015)- Em 1963 Lesley Gore tinha apenas 17 anos quando gravou com Quincy Jones este manifesto de independência e emancipação feminina numa era dominada pelo patriarcado. A australiana Grace tinha a mesma idade quando, meio século volvido, novamente com Jones aos comandos, revitalizou este clássico soul - agora em moldes mais próximos do hip hop e R&B - ainda tão necessário num tempo menos revolto, mas não mais igualitário. Aquelas cordas vocais à la Christina Aguilera deram muito bem conta do recado. 

214º The 1975- "Love It If We Made It" (2018)-  A modernidade pode-nos ter falhado, mas os The 1975 não. Ao longo da década foram várias as tentativas por parte da banda de conquistar a grandeza, mas talvez nunca tenham estado tão perto de como no dia em que estrearam o segundo avanço para A Brief Inquiry into Online Relationships (2018). Matt Healy e companhia fazem aqui o seu "We Didn't Start the Fire", expressando o seu desagrado com tudo o que vai mal no mundo, mas conservando uma réstia de esperança de que as coisas possam melhorar.

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213º Courtney Barnett- "Pedestrian at Best" (2015)- Estamos todos convidados para a festa auto-depreciativa de Miss Barnett. A incrível primeira amostra de Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit (2015) esmagava-nos com o peso do seu fardo existencial, com os seus riffs abrasivos e pela audácia de versos tão mordazes quanto "the rats are back inside my head, what would Freud have said?". Mas a cereja no topo do bolo será mesmo o seu intrincado spoken-word em tom moribundo naquele peculiar sotaque aussie. PJ Harvey terá aplaudido, certamente.  

212º Kelela- "LMK" (2017)- São muitos os que acreditam que Kelela é das artistas R&B contemporâneas que melhor materializam aquilo que Aaliyah representaria se fosse viva nos dias de hoje. Aqui vemo-la na sua acepção mais clubby e de femme fatale, com uma assertiva e intoxicante construcção electro-R&B com assinatura de Jam City sobre exigir honestidade e respeito num casual flirt na noite, por mais breve e irrelevante que seja.

211º Charli XCX feat. Rita Ora- "Doing It" (2015)- A menina XCX sempre teve um condão especial para escolher as suas parceiras de cantigas. "Doing It" é bem capaz de ser o seu melhor single pré-PC Music: uma mui recomendável faixa synthpop com o recorte de primor de Ariel Rechtshaid sobre reactivar a química com um antigo parceiro, levada a cabo com uma Rita Ora em topo de forma. É vê-las a terem a diversão de uma vida, recriando Thelma e Louise no deserto da Califórnia.

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210º Zedd feat. Foxes- "Clarity" (2012)- Houve um período nesta década em que a EDM era o centro sobre o qual todo o mainstream gravitava - e sem dúvida que "Clarity" tem uma quota parte de responsabilidade nisso. Momento de viragem na carreira do produtor/DJ russo-alemão, o tema vive muito da sua fantasiosa produção, mas também da imensa interpretação de Foxes, que canta sobre sucumbir a um amor condenado a ruir. 

209º Ava Max- "Sweet but Psycho" (2018)- Ava Max não consegue terminar a década com a certeza de que se tornará na próxima grande sensação da pop no feminino, mas gabemos-lhe a qualidade da primeira tentativa: uma robusta composição dance pop com assinatura de Cirkut sobre apreciar traços distintos na personalidade de uma rapariga, que vai beber aos ensinamentos de The Fame de Lady Gaga, e que foi capaz de recapturar, por momentos, a supremacia pop perdida para o hip hop, trap e afins.

208º King Princess- "Talia" (2018)- O EP de estreia de Mikaela Straus ainda será objecto de estudo assim que o primeiro longa-duração der continuidade ao fenómeno: um breve mas compelativo documento sobre como uma jovem queer navega na vida e no amor em pleno séc. XXI. "Talia", o segundo avanço do registo, é profundamente bonita e destroçada: um retrato de como processou a dor na ressaca de uma desvinculação amorosa.

207º Alexis Jordan- "Happiness" (2010)- Possivelmente nunca recuperaremos do desgosto de Alexis Jordan ter trocado a música pela maternidade ainda antes de ter chegado ao quarto de século de vida, mas nunca esqueceremos também aquele brilhante arranque ao som de "Happiness", um torpedo celestial de house/trance em cama pop que incorpora "Brazil (2nd Edit)" de Deadmau5 e que resplandece pela interpretação arrebatadora de uma jovem Alexis de apenas 18 anos.

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206º The Paper Kites- "Does It Ever Cross Your Mind" (2018)- A construção de cenários e realidades alternativas é uma temática recorrente do universo pop, talvez não explorado de forma tão  assombrosamente bela e dilacerante nesta década como pelos australianos The Paper Kites, que aqui até escapam um bocadinho às inclinações folk rock que marcam o seu cancioneiro, exponenciando ao infinito, contudo, a desolação romântica em que sempre foram sapientes. Dói demasiado...

205º Emeli Sandé- "Heaven" (2011)- Antes de se tornar na cantora modelo da balada pop/soul ao piano, Emeli Sandé apresentava-se como uma cantautora de grão na asa de penteado estiloso e voz sensacional capaz de caminhar segura pelos terrenos do breakbeat, gospel e trip hop com uma magnífica canção que lida com a necessidade de praticar o bem numa era virada do avesso, e que soa à versão moderna de qualquer obra-prima que os Massive Attack tenham feito na década de 90.

204º Rudimental feat. Anne-Marie & Will Heard- "Rumour Mill" (2015)- O segundo álbum da vida dos Rudimental não fez absolutamente nada por ninguém para além de ter dado à luz este absoluto clássico deep house de sensibilidades garage e de ter servido para apresentar ao mundo Anne-Marie, que se tornaria num colosso pop logo no ano seguinte, e para tirar as teimas relativamente a Will Heard, que já havia mostrado o seu valor em "Sonnentanz". É vê-los a sacudir os detractores e a esquecerem, por momentos, todo o negativismo em seu redor.

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203º Walk the Moon- "Shut Up and Dance" (2014)- Os Walk the Moon eram uma daquelas bandas de quem se esperava a qualquer momento um hit pop à séria, e ele chegou logo ao segundo álbum, materializado em "Shut Up and Dance", uma imensa feel-good song entregue com verve dance-rock ancorada em heranças dos 80s, sobre largar as inibições e entregarmo-nos ao poder regenerador de uma noite passada na pista de dança. Será que repetem a dose na próxima década?

202º Diana Vickers- "Once" (2010)- Estes pupilos do The X Factor britânico têm muito que se lhe diga. Conhecemos Diana Vickers na 5ª edição do programa de talentos, em 2008, e menos de dois anos volvidos estava completa a sua metamorfose de estrela pop: "Once" é uma fantabulástica construção electropop de sintetizadores, guitarras e cabelos em desalinho, sensualmente sussurrada, que fez prometer uma carreira bem mais interessante do que aquilo que efectivamente veio a ser.

201º Father John Misty- "Chateau Lobby #4 (In C for Two Virgins)" (2015)- Na década em que Joshua Tillman deixou de ser apenas o baterista dos Fleet Foxes e o discreto cantautor folk que editava também em nome próprio para passar a ser o extraordinário Father John Misty que a todos enche as medidas, vimo-lo tecer uma encantadora prosa de amor de inspiração pop barroca e mariachi à sua esposa, inspirada pela descoberta a dois da cidade de Los Angeles com o Chateau Marmont como pano de fundo. Oh daddy.



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