Ellie Goulding- Halcyon

 
Nova semana, novo desafio. Só que esta semana promete ser muito especial, pois assinala-se o 4º aniversário do Into the Mus!c. E que melhor protagonista para o 3º post deste espaço do que uma artista que nasceu e cresceu juntamente com o blog? Em escuta está Halcyon, o novo álbum de Ellie Goulding.
 
Uma das primeiras artistas a figurar no Magnífico Material Desconhecido, Ellie Goulding é, para mim, um verdadeiro mistério. Como bom melómano que sou, acompanho centenas de artistas e sou capaz de detectar de que massa são feitos. Ellie, pelo contrário, escorre-me pelos dedos e está envolta numa neblina cerrada que não me deixa perceber a sua verdadeira natureza. Considero-a fascinante, mas inquieta-me. Espero, por isso, que uma audição atenta pela sua mais recente obra dissipe as dúvidas que me assolam a mente. Aqui ficam as minhas conclusões:
 
1) Don't Say a Word- Como se de um mantra sagrado se tratasse, a peculiar voz de Ellie parece vir dos confins do mundo. De cariz tribal e invulgar, faz-me logo entrar num universo místico, na tal neblina que tanto me fascina e me tolda os sentidos. É quase como se fosse um ritual que deixa no ar a sensação de que este Halcyon será aterradoramente intenso. (8/10)
 
2) My Blood- Canalizando a energia dos quatro elementos, Ellie cria uma camada celestial que me envolve e hipnotiza da cabeça aos pés. Elevando-se dos céus, qual deusa sagrada, emana em "My Blood" um canto etéreo que faz tremer de magóa a terra e os oceanos. Quase que me perco na letra densa e metafórica, mas fico totalmente rendido ao refrão mágico. (8,5/10)
 
3) Anything Could Happen- O cintilante 1º single acentua o misticismo e deixa-me às voltas com a sua letra aparentemente enganadora: penso que não é um tema que emana felicidade, bem pelo contrário, tem um lado obscuro e algo profético. É uma das tiradas mais comerciais do álbum e só peca pelo seu carácter repetitivo. (8/10)
 
4) Only You- Aqui a sua voz é utilizada como principal instrumento, sendo uma fantástica ideia de que poucos se lembrariam. Como se não bastasse essa jogada de génio, eis que perto do minuto e meio ocorre uma inesperada reviravolta que põe de novo a descoberto o lado místico, mas desta feita com uma vaga sensação alarmante. Gostei bastante da ousadia. (8/10)
 
5) Halcyon- O tema título acaba por ser o que menos me encanta. Apesar da sua mensagem de esperança e de ser agradável ao ouvido, não possui nem a carga épica nem a complexidade dos temas anteriores. Insere-se no genéro de canções que o seu álbum de estreia possuía e apenas belisca muito ao de leve um disco que estou a gostar bastante. (7/10)
 
6) Figure 8- Com um título enigmático que me leva a fazer alguma pesquisa adicional, "Figure 8" tem uns leves pós mágicos de dubstep e uma produção competente que me deixa completamente rendido. A voz de Ellie expande-se numa panóplia de truques de estúdio, e temos de novo um mega refrão que se prolonga por repetições intermináveis. Futurística e contagiante, soa-me muito bem. (8,5/10)
 
7) Joy-  Enfim um momento em que a sua voz se despe da cocofonia omnipresente e pode brilhar por breves instantes. Aquela que é a primeira balada de Halcyon está longe de ser brilhante e parece-me até um pouco prevísivel. Vou no 7º tema e até agora ainda não encontrei um único mau tema de modo que este não será excepção: pouco imaginativo, sim, mas de certo modo, reconfortante. (8/10)
 
8) Hanging On- Lançado como o primeiro aperitivo do álbum, desde o ínicio que me despertou algo cá no fundo que me deixa sempre esmagado. Foi assim na 1ª audição e continua a ser assim no presente momento. A voz é angelical, mas a sonoridade é completamente diabólica e evoca demónios de uma relação tumultuosa. Nem preciso de pensar muito para afirmar com toda a convicção que este é o grande momento de Halcyon. (9/10)
 
9) Explosions- O ritual sagrado parece ter atingido o seu clímax:  o coração apoderou-se da escrita de Ellie e desde o tema anterior que a cantora assume uma postura confessional na qual pretende exorcizar demónios do passado. Fantasmagórica e de uma magnitude emocional devastadora, o seu grande poder reside na letra. (8/10)
 
10) I Know You Care- O 2º single do álbum é a balada suprema que evoca a sua versão muito própria de "Your Song". Tocante pela sua simplicidade e crueza emotiva, contrasta com a complexidade sonora dos temas anteriores e é, sem dúvida, o momento mais belo do álbum. (8/10)
 
11) Atlantis- O misticismo chega a um novo máximo neste 11º tema, no qual a voz de Ellie atinge notas que julgava impossível algum ser humano conseguir reproduzir, deixando-me a questionar se ela nao será mesmo de outro planeta. O único ponto negativo é o refrão algo infantil que quase arruína esta mágica ode a um amor divino. (8/10)
 
12) Dead in the Water- Como pequenas vibrações num lago de águas calmas, este "Dead in the Water" é um novo mistério de difícil compreensão. Não é que eu não goste de uma boa charada, simplesmente acho que a mente de Ellie Goulding está longe da minha compreensão. Musicalmente não é tão fascinante quanto os seus antecessores. (7,5/10)
 
13) I Need Your Love- No último tema do álbum, a cantora aposta forte e feio num colosso para as pistas de dança, numa vibrante colaboração com o prodigioso Calvin Harris. A batida é estupenda, a letra nem por isso: aqui brilha Calvin e Ellie é apenas o instrumento que dá vida à criação do DJ/produtor. Apesar de ser muito bom, destoa do contexto que o disco traçou. (8,5/10)
 
Halcyon chegou ao fim e, confesso, superou as minhas expectativas. Não se pode dizer que seja um disco comercial, pois há aqui temas de natureza complexa, mas sim uma paleta musical com a qual Ellie Goulding pinta um universo muito próprio, repleto de murmúrios, anjos e demónios e vozes celestiais sob um cenário imponente e dramático. É uma clara evolução face à sua estreia, sinto que está mais ambiciosa e experimental,  tendo deixado a folktrónica de lado e fazendo uso das potencialidades da sua voz única. Contudo, a nível lírico ainda não está no ponto e, por vezes, torna-se repetitiva e perde-se por labirintos metafóricos. Pior: as minhas dúvidas não se dissiparam e agora tenho ainda mais perguntas do que respostas. Tudo em Halcyon parece bom demais para ser verdade e não consigo distinguir até que ponto a Ellie que ouvimos em disco não passa de uma ilusão: a sua voz é verdadeiramente assim ou serão os truques de estúdio que a manipulam? Será que ao vivo a sua música perde o encanto? Creio que só saberei a resposta quando a vir em concerto e aí sim, saberei de que massa é feita. Até lá, Ellie Goulding continuará a ser um mistério para mim, que me encanta e atormenta.
 
Classificação: 8,1/10

Comentários

  1. Gostei bastante do álbum, até agora um dos meus favoritos deste ano! As faixas, até agora, que mais gosto são: Don't Say a Word, acho épica (!), o Halcyon, o Joy, o Hanging On e claro o I Know You Care juntamente com o Explosions!

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