Pink- The Truth About Love

 

No mês em que o Into The Mus!c comemora o seu 4º aniversário, proponho-me a realizar algo que nunca tive coragem de fazer e que encaro como o desafio mais difícil com que já me deparei aqui no blog: dar a minha opinião sincera acerca de álbuns, não como um crítico profissional, até porque estou longe de o ser, mas sim como alguém que considera ter já conhecimentos suficientes para o poder fazer com o mínimo de justiça. Acima de tudo, tenho uma grande paixão por música e acho que isso é a condição essencial para poder dar este passo.

 

A minha primeira escolha recaiu sobre o mais recente álbum de Pink, The Truth About Love. Apesar de ser um atento seguidor da sua carreira, confesso que foi a primeira vez que ouvi um álbum dela na íntegra (eu sei, shame on me), para além dos singles com que nos brinda. Passo a partilhar com vocês aquilo que descobri, faixa a faixa:

 

1) Are We All We Are- O amor é o assunto que dá o mote ao disco, mas este 1º tema é um grito de afirmação, um hino de revolta contra as injustiças deste mundo, com o qual o ouvinte facilmente se identificará. É um início diferente do que seria de esperar, de lança em riste e mão no peito, em vez de um tema orelhudo que nos deixaria a salivar por mais. O amor não mora aqui, mas a paixão, essa, está lá toda. (7,5/10)

 

2) Blow Me (One Last Kiss)- Alguém pediu um tema orelhudo? Pois ele aqui está. As coisas começam a aquecer com o 1º single, o tema mais dançável e com a habitual letra corrosiva e explosiva que fazem parte do ADN de Pink. A cantora pede ajuda a Greg Kurstin (e foge do habitual colaborador Max Martin), e o resultado não é tão instantâneo como anteriores singles ("So What" ou "Raise Your Glass"), mas é extremamente satisfatório. (8/10)

 

3) Try- Não é preciso esperarmos muito para chegarmos àquele que é o 2º single do álbum. "Try" é a balada mais poderosa (mas não a melhor) do álbum, sendo fácil de perceber porque foi escolhida como single. Naquela que é a primeira canção que fala de amor no seu estado puro, há letra genuína e inspiradora e uma interpretação aguerrida. Porém, encontro demasiadas semelhanças com "Dark Side" de Kelly Clarkson, e, nestes casos, o original é sempre melhor. (7,5/10)

 

4) Just Give Me a Reason- Eis que chega o primeiro dueto, no qual Pink se alia a Nate Ruess, vocalista dos fun. É talvez a grande surpresa do álbum e um dos 3 melhores temas existentes. A produção demarcadamente Jeff Bhasker é fascinante e, quando os dois artistas unem as suas vozes, a magia acontece. É um excelente momento pop, em que Pink sai da sua zona de conforto e que me leva a questionar porque razão ela não arrisca mais vezes. (9/10)

 

5) True Love- Agora sim, a temática do álbum começa a fazer sentido. É o 3º tema que lida com esse tal sentimento que é fogo que arde sem se ver: é nitidamente o momento feel good do disco e o 2º grande tema que encontro e que tem potencial de vir a ser single. Apenas torço o nariz à parceira do dueto: Lily Allen (que agora responde pelo pomposo nome de Lily Rose Cooper) não vem acrescentar nada ao tema em si. É mais como um "olá, ainda estou viva!" do que um contributo precioso. Seja bem aparecida Dona Lily, mas a sua presença aqui não era necessária. (9/10)

 

6) How Come You're Not Here- Quando começo a achar que Alecia Moore está-se a tornar lamechas, eis que o 6º tema volta a ligar-me à corrente e vislumbro uma Pink altamente inflamável que já não avistava desde o 2º tema. É o momento "So What" do disco e é extremamente contagiante. Consigo ver isto a ser transformado em single. (8/10)

 

7) Slut Like You- O tema mais controverso do álbum mune-se de uma fabulosa letra para descrever a igualdade de géneros no que toca à arte da prevaricação. Encontro aqui uma certa ironia do destino: é o único tema produzido pelos "monstros" Max Martin e Shellback, mas soa-me a um dos mais desinspirados do alinhamento. É o habitual momento "espalha brasas" de Pink, mas que não se insere dentro do contexto que o álbum vinha a traçar. O melhor de tudo é mesmo a letra. (7/10)

 

8) The Truth About Love- Ora aqui está o epicentro do álbum. Tem, sem dúvida, a letra mais genuína e hilariante de todas. É preciso estarmos completamente focados na letra para a compreendermos em todo o seu esplendor, caso contrário é daquelas que facilmente se passa à frente sem lhe darmos uma oportunidade. A única coisa que fica a desejar é a melodia um pouco repetitiva. (7,5/10)

 

9) Beam Me Up- A fazer lembrar "I Don't Believe You", é a balada mais ternurenta e vulnerável do disco. A nível vocal, Pink está em topo de forma e a nível lírico, mais emotiva que nunca. Gosto de pensar que é a sua versão de "Angel" de Sarah MacLachlan. Para já não o vejo a transformar-se em single, mas se o álbum tiver um desempenho longo e consistente nas tabelas, daria um bom single final. (8,5/10)

 

10) Walk of Shame- E chegamos àquele que é um dos momentos mais deliciosos e instantaneamente viciantes de todo o álbum. Letra arisca, batida energética e uma Pink em modo trágico-cómico fazem deste "Walk of Shame" o 3º grande tema que aqui encontro. Tem a garra e safadez que lhe vimos no passado mas que neste disco não é um dos pratos fortes. Independentemente de ser uma aposta segura, não o vejo como single nesta sua era mais madura. (9/10)

 

11) Here Comes the Weekend- Se o amor é fogo que arde sem se ver, então posso dizer que este tema é só fogo de vista mesmo. Seria de pensar que a presença de Eminem é sucesso garantido, mas não neste caso. É para mim o tema mais fraco e descartável, completamente fora do contexto do álbum. Encaro-o como uma troca de favores: Pink colaborou no último álbum de Eminem, e agora era a hora do rapper retribuir o favor. Valeu a intenção, só. (6/10)

 

12) Where Did the Beat Go?- É capaz de ser o tema mais cliché, inofensivo e propício ao bocejo. Chegado a este ponto, estou um pouco aborrecido com Pink pois pensei que ela falasse de amor de uma forma pouco convencional e não caísse nas teias da monotonia, erro que este dito cujo comete. Será preciso um óptimo tema final para que faça as pazes com ela. (7/10)

 

13) The Great Escape- Pink acedeu aos meus desejos e fecha com chave de ouro um álbum nem sempre equilibrado mas muito apelativo. "The Great Escape" tem ligação directa ao coração e é um autêntico foco de esperança que ilumina a escuridão de quem se sente só e à beira do desespero. Mais uma grande letra e interpretação. (8,5/10)

 

Não sujeitos a avaliação, ouvi também os 4 temas bónus - "My Signature Move", "Is This Thing On?", "Run" e "Good Old Days" - e fiquei agradavelmente satisfeito por constar que todos eles teriam lugar no alinhamento principal.

 

Chegado ao fim da viagem, sei tanto sobre a verdadeira natureza do amor como sabia antes de ouvir o álbum, mas não é isso que está em causa. A questão é que agora que ouvi o álbum, vejo Pink sob uma luz diferente. Pink é uma autêntica força, lírica e vocal, e cada vez mais uma alternativa à pop massificada e descartável que por aí anda. Mas o mais importante de tudo é a sua genuinidade e capacidade de comunicar com os ouvintes. Para o bem e para o mal, Pink diz sempre a verdade e isso confere um sentimento de aproximação, um elo de ligação entre artista e ouvinte. Outra conclusão a que cheguei é que Pink amadureceu: amansou um pouco a fera que em si havia e deu mostras de que, quando não tem em vista o sucesso comercial, é capaz de coisas prodigiosas. Acontece que, no final do dia, continua a ser uma estrela pop e há que apelar às massas. É por essa razão que acho que ainda não vimos todo o potencial que há em Pink. Este The Truth About Love é um dos discos pop mais cativantes do ano, mas ainda não é o disco da sua carreira. Até esse dia chegar, não restem dúvidas de que Pink é uma das mais brilhantes estrelas pop do milénio e que, com o passar dos anos, ficará melhor, cada vez melhor.

 

Classificação: 7,9/10