13 coisas a reter sobre os Grammy Awards 2019
No passado Domingo teve lugar a 61º edição dos Grammy Awards, de volta a Los Angeles, para mais uma noite de premiação do melhor da indústria fonográfica. E isto é o que podemos retirar da gala deste ano:
Para todos os efeitos, Alicia continua a ser uma estrela do circuito pop, ainda que relegada para a segunda linha. Mas se o seu papel de anfitriã veio provar algo, é que merece maior relevo do que aquele que lhe tem sido dado. A sua serenidade, afabilidade e calor humano transmitido ao longo da cerimónia foram uma agradável mudança de tom face à supremacia masculina agitada e humorada concedida por LL Cool J e James Corden nos últimos anos. E quão encantador foi o seu medley de canções de diferentes eras tecido em dois pianos. Uma vénia a Miss Keys.
2- O exagero da tónica feminista
Nem tanto ao mar nem tanto à terra: se a edição de 2018 pecou por uma ausência de nomeadas e performers femininas, a deste foi o pólo oposto. Seria expectável que a Recording Academy se quisesse desculpar do forte criticismo recebido no ano anterior, mas só faltou que o presidente da Academia tivesse ele mesmo prestado um tributo a Madonna em lingerie. Da escolha da anfitriã, passando pelo monólogo de abertura feito por Lady Gaga, Jada Pinkett Smith, Michelle Obama e Jennifer Lopez, às vencedoras das categorias, e culminando na maioria dos tributos terem sido feitos a mulheres (Dolly Parton, Diana Ross e Aretha Franklin) ou por mulheres (a armada de Parton, Franklin, J.Lo ou Chloe x Halle), não se pôde deixar de sentir uma certa hipocrisia e adulação no ar. A ver vamos se esta súbita onda feminista se mantém nas próximas edições.
3- O boicote de Ariana
A polémica este ano transferiu-se para a ausência da maior figura pop da actualidade, numa disputa pública com o produtor do evento, Ken Ehrlich. Estava escalada a sua participação na cerimónia, mas uma falta de consenso quanto às canções a interpretar ditou a ruptura e a manifestação do desagrado da cantora no Twitter. Ainda haveria de ganhar o Best Pop Vocal Album por Sweetener, mas não compareceu sequer à cerimónia. O mesmo fizeram Childish Gambino e Kendrick Lamar. Estes veteranos fechados no seu próprio mundo não aprendem com a sua teimosia.
O fenómeno latino ressurgiu em 2017, mas parece que só em 2019 os Grammys compreenderam a dimensão do fenómeno. A abertura com Camila Cabello, J Balvin e Ricky Martin foi super competente e apelativa, com "Havana" transformado numa espécie de musical da Broadway e entrecortado por "Mi Gente" e "Pégate", mas chegou pelo menos com uns dois anos de atraso. É tempo dos próprios intérpretes e todos nós procurarmos novos standards latinos, ok?
5- Cardi B continua a derrubar detractores
Os dez segundos de fama de Cardi B continuam a desafiar as leis do showbiz. Vejamos: "Money" nem sequer é o single mais forte que Invasion of Privacy já proporcionou, mas não conseguimos retirar os olhos uma vez que fosse do espectáculo de burlesco montado em redor da actuação que teve como ponto alto o twerk da rapper em cima da cauda do piano. A sua vitória na categoria de Best Rap Album foi outro dos momentos altos da noite.
6- O que seria de "This Is America" sem o seu vídeo?
É verdade que "This Is America" foi um dos eventos do ano passado, mas é também verdade que não conseguimos dissociar o seu conteúdo do monumental vídeo assinado por Hiro Murai. Por isso coloca-se a questão: é justo atribuir-lhe os gramofones de Canção e Gravação do Ano numa edição em que os habituais cinco nomeados sobem para oito? É mais um statement da Recording Academy do que uma vitória fundamentada.
7- Kacey Musgraves é uma borboleta da country em expansão
O triunfo de Kacey Musgraves só apanhou desprevenido quem não assistiu à aclamada trajectória de Golden Hour, belíssimo disco que traduz uma vontade de florescer para lá da country enraízada nas tradições sulistas. Vencedora da noite ex-aequo com Childish Gambino, ganhou tudo o que havia para ganhar e ainda assinou uma das mais bonitas actuações da noite com a magia de um "Rainbow" entoado ao piano. Simples mas tão arrebatadora.
8- Chloe x Halle são a nova dinastia das Destiny's Child
É sabido que esta dupla de irmãs são protegidas de Beyoncé, tendo editado inclusivé o disco de estreia sob a alçada da Parkwood Entertainment, propriedade de Miss Knowles, no ano passado. Não é de admirar, por isso, que quando subiram ao palco para um breve mas imponente tributo à lenda soul Donny Hathaway, parecia estarmos diante de umas jovens Beyoncé e Kelly Rowland a cantar do fundo das entranhas como nos bons velhos tempos da Destiny's Child. Para manter debaixo de olho.
9- Brandi Carlile teve a actuação da noite
Não há nada como uma aclamação tardia, mas merecida, com a benção da Recording Academy. De vez em quando os Grammys ainda continuam a proporcionar o reconhecimento de veteranos nas margens do mainstream: quão maravilhoso foi ver a aclamação de Brandi Carlile, arrecadando três dos seis troféus para os quais estava nomeada, e a ter a actuação da noite com um poderosíssimo "The Joke" que deixou plateia - até Post Malone estava visivelmente arrebatado - e espectadores siderados. Foram anos e anos de labuta passados na penumbra, despejados numa torrente emocional incontrolável: no final, Brandi saltava exultante. Tudo havia compensado.
10- A fascinante alquimia entre St. Vincent e Dua Lipa
Vá-se lá saber quem teve a estranha ideia de emparelhar St. Vincent e Dua Lipa, mas resultou: de um lado a genialidade de uma texana Annie Clark na sua mutação mais pop e libidinosa, do outro uma emigrante albanesa que partiu do Reino Unido para conquistar o mundo com a sua pop maleável mas sempre certeira. Em comum, um penteado idêntico e muita energia feminina partilhada. Cruzar "Masseduction" com "One Kiss" foi arrojado, mas não tanto quanto arranjar forma de ensanduichar "Respect" de Aretha entre ambas.
Pelo quinto ano consecutivo (!), Lady Gaga esteve entre o lote de performers da cerimónia dos Grammys - e não se pode dizer que tenha sido das mais memoráveis (por alguma razão os duetos são para ser feitos a dois), mas lá que deu memes com fartura, deu. Mais impressionante foi a sua colheita de três prémios: dois por "Shallow" e um mais inesperado na categoria de Best Pop Solo Performance pela releitura acústica de "Joanne". Ainda haverá mais para recolher já nos Óscares de dia 24.
12- Os Grammys repararam primeiro em H.E.R. do que o resto do mundo
Ora aqui está algo que não acontece todos os dias: geralmente a Recording Academy só reconhece novos talentos quando já estão mais do que enraízados no circuito, mas este ano fez um excelente trabalho na aclamação precoce (mas merecida) de Gabi Wilson aka H.E.R., expondo-a assim a um público mais abrangente. Não só triunfou na categoria R&B com duas vitórias, como ainda incendiou o palco com uma actuação abrasiva de "Hard Place" com direito a solo de guitarra e tudo. Nasceu uma estrela.
13- Janelle Monáe é de outro mundo
Mas isso já estamos fartinhos de saber. A Recording Academy também o sabe, concerteza, daí ainda não ter conseguido encontrar uma forma de a agraciar apropriadamente. Dirty Computer reclamava para si o gramofone de Álbum do Ano, mas quando ainda nem consegue reconhecer a influência da obra de Kendrick, como poderemos esperar que processe a obra neo pop emancipadora de Monaé? Ao Staples Center levou um arrasador medley composto por "Make Me", "Django Jane" e "Pynk", coreografias robóticas, algum funk lascivo e verve rock. Damn, gurl.
Última nota para J.Lo, possivelmente o 103º nome na lista de performers mais indicados para um tributo da Motown, mas que, como sempre, não só cumpriu como ainda deu aqueles 20% extra.
Consultem aqui a lista completa dos vencedores.
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