REVIEW: Pink- Hurts 2B Human


A regularidade nem sempre é boa conselheira: um ano e meio depois do superior Beautiful Trauma, Pink desperdiça cartuchos num disco mediano e absolutamente desnecessário. 

Outubro de 2017. Regressada de um jejum discográfico de cinco anos, Pink parecia atingir um novo patamar de aclamação com o seu sétimo álbum. Beautiful Trauma vendia cerca de meio milhão de cópias na semana de estreia nos EUA e alcançava resultados igualmente animadores no resto do globo, alinhando o sucesso comercial com aquela que muito possivelmente era a melhor colecção de canções do seu percurso.

E teria sido também a sua melhor era, se os esforços promocionais não tivessem desabado após o segundo single. O desinvestimento começou logo no ínicio de 2018, com a demora na escolha de uma terceira amostra, mas tornou-se ainda mais notório assim que arrancou a digressão mundial de suporte ao álbum, em Março desse ano. Como consequência, "Whatever You Want" passou despercebido com um enfadonho vídeo de bastidores, e "Secrets" - que nem precisava de se ter incomodado - teve um tratamento semelhante e uma performance ainda mais inglória. Enquanto isso, escolhas bestiais para single como "But We Lost It", "For Now", "I Am Here" ou "You Get My Love" ficavam na sombra.

Com metade da digressão realizada e outra metade por cumprir, Miss Moore anunciava em Fevereiro passado um novo single, "Walk Me Home", uma simpática canção de recorte pop-folk sobre procurar conforto nos braços de alguém estimado para fazer frente a tempos de tumulto e agitação social. Pouco depois, aí estava o inesperado anúncio da chegada de Hurts 2B Human, escassos dezasseis meses após o disco anterior, o intervalo mais curto que Pink levou entre álbuns.



No seu melhor, o disco passava por um EP catita que a sua autora podia aproveitar para rentabilizar nesta fase de consolidação da sua carreira. No seu pior, representa um mínimo criativo que Pink talvez não atravesse desde a estreia, no longínquo ano de 2000. E enquanto veterana na indústria, não se espera este comportamento impulsivo, ganancioso e até desleixado da sua parte.

A premissa de um tema de abertura que inclui Dan Reynolds e um produtor associado ao catálogo dos seus Imagine Dragons não auspicia nada de bom: "Hustle" é um pedaço de pop enérgico com balanço swing, em que ouvimos Pink a vociferar pela enésima vez que não é alguém que queiramos importunar. Existe uma espécie de órgão muito embaraçoso algures e um vazio de ideias que a energia do tema não consegue compensar. Sem se perceber muito bem como, os produtores de topo Max Martin e Shellback assinam a pior faixa do disco em "(Hey Why) Miss You Sometime", uma dor-de-cabeça sintetizada com gostinho R&B que soa a uma tentativa forçada de Pink passar outra vez por uma gaiata de 20 anos.

As emotivas "My Attic" e "90 Days" valorizam e ajudam a justificar o álbum. A primeira é a única faixa do disco a não contar com os préstimos líricos da própria intéprete, recorrendo em vez disso aos magníficos dotes de Julia Michaels, aqui a tecer uma prosa sobre deixar a porta e o coração abertos para alguém explorar os recantos mais secretos do nosso ser. A segunda trata-se de um dueto com o norte-americano Wrabel, que com Alecia canta sobre a decadência e o inevitável fim de um amor. A voz de ambos surge embebida maioritariamente por um frio vocoder, mas ainda assim é possível sentir a dor e a sensação de impotência dos seus intérpretes.



Os argumentos tornam a fraquejar com o tema-título, uma decepcionante colaboração com Khalid a versar sobre as agruras de se ser humano e ter outro alguém para ajudar a suportar esse fardo; com "Can We Pretend", uma péssima desculpa para mergulhar no escapismo da EDM, esquecer por momentos o quão horrível pode ser este mundo e envolver Ryan Tedder e os Cash Cash numa produção datada e superficial; e "Courage", o momento cliché sobre tomar uma posição e enfrentar o mundo, que incorpora os maneirismos e a escrita de Sia de uma forma demasiado evidente, acabando por atrapalhar a experiência auditiva. 

"Happy" é uma balada radiofónica acerca de sabotagem emocional que já a ouvimos fazer vezes sem conta, enquanto "We Could Have It All" recupera a pop/rock inflamada de I'm Not Dead (2006) e, novamente, um conceito mais do que esbatido no seu vasto catálogo. Na apaixonante "Love Me Anyway", desenhada ao lado de Chris Stapleton, soltam-se interrogações românticas numa espécie de sequela de "You Get My Love", talvez a preparar a sua transição para terrenos da música country. "Circle Game" é o exemplo maior de como Pink devia soar vinte anos e oito álbuns depois: uma arrebatadora balada entregue na melhor tradição da Disney, sobre a passagem do tempo e os desafios que a vida nos coloca. "The Last Song of Your Life", por seu turno, é a criação mais acústica que lhe escutamos desde "I Have Seen the Rain", com as inclinações folk dos You+Me, o projecto que assinou com Dallas Green em 2014.

Que frustrante é constatarmos que Pink sucede o melhor álbum da sua carreira com aquele que é, possivelmente, o seu pior. Hurts 2B Human não passa de um conjunto mal amanhado de canções escritas em cima do joelho sobre as mesmas temáticas de há vinte anos, que não acrescentam absolutamente nada à sua discografia. Podemos até tentar fingir que não aconteceu, mas da mancha em si Alecia Moore já não se livra.


1. Hustle (6/10)
2. (Hey Why) Miss You Sometime (4/10)
3. Walk Me Home (6/10)
4. My Attic (7/10)
5. 90 Days (7/10)
6. Hurts 2B Human (5/10)
7. Can We Pretend (5/10)
8. Courage (5/10)
9. Happy (6/10)
10. We Could Have It All (7/10)
11. Love Me Anyway (8/10)
12. Circle Game (8/10)
13. The Last Song of Your Life (7/10)

Classificação: 6,2/10

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