The Wonder of this World

Adele-"Hometown Glory"
19 (2008)

De West Norwood, com amor:



Este era o post que gostaria de ter feito ainda em 2011 mas que só agora consegui criar.

Adele foi, sem dúvida, a artista de 2011. Não houve crítico, publicação, site ou blog que não se tenha rendido às evidências. Dominou as tabelas de singles e álbuns, as cerimónias de prémios e inundou as nossas televisões e rádios. Mas o que será que esteve por detrás disto tudo?

Ao contrário do que alguns pensam, a história não começou com 21 mas sim com as confissões de 19, no início de 2008. O prólogo da sua carreira encontra-se neste belíssimo "Hometown Glory", uma ode de amor à sua terra natal e o despontar de um talento e voz únicos. Impôs-se no Reino Unido pela força de temas como "Chasing Pavements", "Cold Shoulder" (com produção de Mark Ronson) ou "Make You Feel My Love" (cover de Bob Dylan) e singrou em Outubro de 2008 no competitivo mercado americano graças a uma audiência recorde registada no programa Saturday Night Live. Nesse mesmo ano seria nomeada para 4 Grammys, acabando por vencer 2 deles, incluindo a categoria de Best New Artist.

No final de 2010 ecoaram os primeiros acordes do seu regresso com o lançamento de "Rolling in the Deep", mas nada faria prever o que 2011 teria reservado para Adele. A 19 de Janeiro é editado 21, o seu 2º álbum, cujas vendas iniciais foram bastante satisfatórias. Pode-se dizer, porém, que o verdadeiro fenómeno despoletou com a majestosa actuação nos BRIT Awards, em Fevereiro, na qual fez uma brilhante interpetação de "Someone Like You", a grande balada dos últimos anos. Naquela noite, Adele cantou do fundo da alma e deixou o seu coração no palco. O Mundo emocionou-se e o fenómeno nasceu.

Nos meses que se seguiram, observou-se o fanatismo total em torno do seu 21, que alcançava o nº1 das tabelas de quase todo o mundo (não posso deixar de escapar o facto de Portugal ter sido a excepção à regra) e acumulava, semana a semana, vendas impressionantes para um panorama musical à beira do colapso. Para além dos 2 singles já referidos, temas como "Set Fire to the Rain", "Turning Tables" ou "Rumour Has It" contribuíram para que nas contas finais do ano o álbum rondasse os 13 milhões de cópias vendidas, número impensável nos dias que correm, e que o tornaram num dos álbuns mais vendidos dos últimos anos.

E porquê? Porque as pessoas se começaram finalmente a fartar da onda electropop que atingiu em força o panorama musical em meados de 2008 e que hoje em dia contagia esmagadoramente as tabelas mundiais e sentiram falta da música que trasmite emoções, sentimentos, que se concentra na força das palavras e no poder de uma voz e que não recorre a fórmulas gastas e truques de estúdio manhosos. Adele relembrou-nos, em 2011, essa tal capacidade que a música tem de inebriar os sentidos e fê-lo ao abrir o seu coração e, sem filtros, despejar o conteúdo da sua alma.

Mais interessante ainda é o facto de Adele ter quebrado com o estereótipo de artista bem sucedida = figura esbelta e esguia, de não lançar vídeos em catadupa e dispendiosos para promover a sua música e de ter pavor de cantar perante multidões, preferindo actuar em salas pequenas em tom intimista (daí que seja muito difícil vê-la num futuro próximo no Pavilhão Atlântico). Ou seja, tudo factores que poderiam ter condicionado o seu sucesso mas que não travaram de forma alguma o fenómeno.

É bastante provável que o fenómeno perdure ao longo de 2012, se bem que não com tanto impacto como aquele que 2011 conheceu, pois enquanto as pessoas necessitarem de um escape para a enorme quantidade de fast food que lhes chega aos ouvidos, Adele será a escolha óbvia para todos os que desejarem algo genuíno.

Não foi só a vitória da genuinidade sobre a artificialidade, não foi só o acentuar da dominação feminina de um panorama musical cada vez mais comandado pelas mulheres, não foi apenas a luz ao fundo do túnel para uma indústria musical à beira do desespero. A conquista de Adele assinalou o regresso ao estado natural da música, ao que é verdadeiramente essencial, e acalentou a esperança de um mundo melhor.

"Round my hometown, memories are fresh
Round my hometown, ohh, the people I've met

Are the wonders of my world, are the wonders of my world
Are the wonders of this world, are the wonders of my world"

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