Um Mistério Chamado Jessie Ware

 
Tudo o que passa por este blog, toca-me de alguma forma. Raras são as vezes em que dou por mim arrependido por ter publicado algo. Pelo contrário, são as coisas que ficam por dizer que mais me transtornam. Umas por falta de conhecimento (sendo assim calo-me e creio que é uma decisão sábia), outras por falta de coragem (aí será uma decisão cobarde). Em 2013 decidi libertar-me das amarras que me prendiam e a minha regra de ouro por agora em diante passa por não ter regras. Não mais palavras ficarão por dizer nem posts ousados ficarão por publicar. Mais do que nunca, o Into the Mus!c será o puro reflexo de quem me tornei: num melómano que quer fazer disto vida.
 
Foi no Verão passado que ouvi Jessie Ware pela primeira vez. "Wildest Moments" era o cartão de visita e deixou-me levemente intrigado. Na altura remeti-a para a longa lista de espera de Magníficos Materiais Desconhecidos. "Por enquanto não, mais à frente talvez", pensava eu. Os dias foram passando, os magníficos sucederem-se e ofuscaram-na de tal maneira que nunca mais me lembrei dela senão no final do ano passado, quando para surpresa minha vi o seu álbum de estreia, Devotion, nos lugares cimeiros dos melhores discos de 2012.
 
Foi então que nestes últimos dias me dediquei a investigá-la a fundo e fiquei deveras hipnotizado com as suas canções. Jessie Ware não tem uma voz incrivelmente potente, o que impressiona é a paleta sonora por onde vagueia. Desde a pop, soul, R&B, garage e hip hop, tudo cabe no seu álbum de estreia, em que cada tema é cantado com uma subtileza, elegância e sensualidade tal que desarma qualquer um.
 
Ao contrário do que possa parecer, não fiquei zangado comigo mesmo por não lhe ter dado a atenção devida mais cedo. Há uma altura para tudo na vida e, se Jessie Ware não me hipnotizou à primeira audição, foi porque aquele não era o seu momento. Agora é tarde para torná-la uma Magnífica (há que dar primazia a quem se estreia em 2013) mas não é tarde demais para fazer um post que faça alusão às suas magníficas criações.
 


And I'm ready to run, ready to fall
Think I'm ready to lose it all
 



 
De "Devotion" a "Something Inside", o álbum reúne uma estupenda colecção de temas que não ambicionam ser hits devastadores, apenas fabulosos devaneios de uma mente artística de apetite voraz, que conhece a fundo as suas limitações e que é inspirada por múltiplas sonoridades. A tudo isto acresce a segurança e delicadeza com que percorre todos estes territórios, criando desde logo uma identidade muito própria, algo pouco comum nos dias que correm. É uma belíssima e hipnotizante estreia, um balão de oxigénio num panorama musical saturado. Fazia falta alguém assim.

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