2016, Um Balanço Sónico- As Canções Internacionais

Feito o balanço, olhamos para as escolhas assim alinhadas:


1º Rihanna- "Kiss It Better"- Quão previsível. Tentei não cair de amores por ela, mas resistir-lhe era impossível. Momento de ouro do não consensual Anti, é o "Purple Rain" de Rihanna ou, se preferirem, um "Dance for You" tão ou mais inebriante - de qualquer das formas, não fica mais criticamente aclamada do que isto. Foi mágico sucumbir ao seu encanto. 

2º Honne feat. Izzy Bizzu- "Someone That Loves You"- Esta é daquelas que me desperta borboletas na barriga. Sinto-me apaixonado por ela, na verdade, e esse deve ser o derradeiro grau de afeição que uma composição musical deve almejar. O dueto é lindo, a história é sentida e o vídeo um sonho. Suspiro infinito.

3º Beyoncé feat. Kendrick Lamar- "Freedom"- Poucas canções em 2016 soaram maiores que a vida como esta. Encontro da realeza pop e do hip hop para uma comunhão blues rock/gospel, "Freedom" é o momento em que a luta interna de Lemonade é canalizada em torno da comunidade afro-americana. Contra a opressão e pela igualdade, marcharemos.

4º The Weeknd feat. Daft Punk- "Starboy"- Porque a última coisa que precisávamos para idolatrar ainda mais Abel Tesfaye era que colaborasse com os icónicos robots franceses. Insinuante e hipnótico, bebe o melhor dos dois mundos para criar um monstruoso híbrido synth-R&B que nos esmaga a cada audição. 

5º Ariana Grande- "Dangerous Woman"- Foi preciso um semi-deslize chamado "Focus" para Miss Grande fazer valer o apelido e entregar-nos a canção mais madura e impressionante do seu percurso, numa das mais estrondosas tour de force vocais que a pop acolheu em 2016. 

6º Bruno Mars- "Versace on the Floor"- O desapontante último álbum de Bruno Mars é praticamente salvo por esta tremenda slow jam, a recapturar a nostalgia pop de um Michael Jackson dos 80 combinada com a luxúria R&B dos Boyz II Men dos 90. Desejo fortemente que isto se torne single a dada altura. 

7º Ariana Grande- "Into You"- Novamente assistida pelo artífice Max Martin, o segundo single de Dangerous Woman devolveu-a à pista de dança com intenções carnais e efeitos arrasadores, ainda que não tenha cumprido todo o seu potencial comercial. Pura dinamite. 

8º Twenty One Pilots- "Ride"- Rendemo-nos todos à saudável esquizofrenia destes tipos, não foi? Melodicamente luminoso e liricamente tenebroso, a "Ride" parece encaixar na perfeição a impraticável etiqueta de emo-reggae. Um dos triunfos inesperados no mainstream. 

9º Calvin Harris feat. Rihanna- "This Is What You Came For"- A EDM é um lugar pouco imaginativo em 2016 mas, felizmente para nós, ainda bastante aditivo. Não foi definitivamente para isto que revisitámos o duo todo-poderoso que nos deu "We Found Love", mas ainda assim houve fascínio de sobra para a sequela. O Verão não se conta sem ela.

10º Justin Timberlake- "Can't Stop the Feeling"- Falando de decepções desculpáveis, JT deu-nos a maior delas este ano. O "Happy" da estação Primavera/Verão 2016 pouco fez pela evolução artística do seu autor, mas poliu o seu título de Príncipe da Pop. Autêntica dose de vitamina D, coloca-nos sempre de sorriso no rosto. E não poderemos realmente culpá-lo por isso, certo?

11º Rihanna- "Needed Me"- O cavalo negro do ano. Obscura composição de electro-R&B com laivos de dubstep servida com frieza e aparente distanciamento emocional, recapturou com mestria a ambiência urbana de Unapologetic (2012) e proporcionou a RiRi o mais tardio e caricato hit da sua carreira. 

12º Dua Lipa- "Be The One"- O que há de tão estupendo no single de estreia de Dua Lipa é a sua influência balcã mergulhada em tão vívida e esfuziante construção synthpop. É o tipo de aroma encontrado em certas canções eurovisivas que o mainstream não chega a receber. "Be The One" tem isso e uma intérprete imensa, maior que a vida - e talvez por isso soe tão especial.

13º OneRepublic- "Kids"- Há muito que uma canção deles não me iluminava o espírito. Demasiado para pensar que tinha desenvolvido anticorpos a Ryan Tedder y sus muchachos. "Kids" é, por isso, não só a lembrança de que devemos honrar a criança que fomos e os sonhos infinitos que construímos, mas também o alívio de compreender que esta malta ainda mexe comigo.

14º Ariana Grande feat. Nicki Minaj- "Side to Side"- Não há duas sem três. O irónico disto é que tinha "Side to Side" como um dos momentos menos apetecíveis de Dangerous Woman e... sete meses depois aqui estamos nós. Ariana provoca, 'Young Nicki Chimney' apimenta e a engenhosa toada reggae pop cortesia de Max Martin torna tudo infalível. 

15º Snakehips feat. Zayn- "Cruel"- Esqueçam "Pillowtalk", "Like I Would" ou "It's You". O primeiro desertor a solo dos One Direction fez-se credível com esta aliança com o duo de produtores britânico Snakehips, também já a pedirem uma maior aclamação crítica e comercial. É por aqui o caminho, Zayn.

16º Mac Miller feat. Anderson .Paak- "Dang!"- Waaaaait! Mac Miller e o seu The Divine Feminine foram uma das surpresas deste último trimestre do ano, com o pegadiço "Dang!" a coroar o quarto álbum do rapper de Pittsburgh. O charme lírico de Miller, o groove funky inescapável e a sedutora brisa vocal de um Anderson .Paak também em ano de glória, ajudam a explicar o porquê.

17º Rihanna feat. Drake- "Work"- O tão aguardado primeiro avanço de Anti não foi o banger por que muitos esperavam, antes um tributo às raízes de RiRi, em plena comunhão com a sua herança caribenha e a prolongar o eterno flirt com Drake. Um dos seus singles de avanço menos interessantes de sempre, que foi capaz ainda assim de induzir vício prolongado.

18º Chance the Rapper feat. 2 Chainz & Lil Wayne- "No Problem"- Raras são as ocasiões em que o hip hop consegue produzir autênticas feel good songs. "No Problem" no fundo também não o é - antes um atestado à resiliência da feliz independência de Chance - mas que de alguma forma o coro gospel transforma em pedaço luminoso. Não dá para não dançar. 

19º Angel Olsen- "Sister"- Indiscutível musa alternativa do ano, Angel Olsen deu-nos não só um dos melhores discos dos últimos doze meses como também uma das canções mestras. Magnífica prosa sobre a procura de uma versão mais nova, destemida e esperançosa de nós mesmos, "Sister" é entregue com variados graus de comoção e dolentes solos de guitarra, em 7 dos mais incríveis minutos ao serviço da música em 2016. 

20º The xx- "On Hold"- Depois de em 2015 me ter convertido à cabeça pensante do projecto, parece que este foi a vez de me render por fim aos restantes 2/3. Tal só é possível porque "On Hold" soa ao prolongamento natural de In Colour, com Jamie xx a tingir de novos e entusiasmantes pigmentos a habitual paleta monocromática dos seus colegas. Soa já a clássico da indietronica dos anos 10. 

21º Flume feat. Vince Staples & Kučka- "Smoke & Retribution"- O wonder kid australiano pode ter vergado um pouco para a equação norte-americana da EDM no último álbum, mas existem ainda momentos em que a sua marca prevalece e triunfa, como neste encontro fascinante entre os seus beats futuristas, as rimas ásperas de Vince Staples e a entrega glaciar de Kučka. 

22º Metronomy feat. Robyn- "Hang Me Out to Dry"- Um dos momentos que mais atesta a vitalidade do quarteto britânico em Summer 08 é este compelativo dueto com a instituição da pop sueca que é Robyn, para um pulsante e algo melancólico número synthpop que captura a névoa de Twin Peaks

23º Emeli Sandé feat. Jay Electronica & Áine Zion- "Garden"- O público aclama-a pelas baladas, mas desde o princípio que existe toda uma afiliação de Emeli Sandé ao trip hop, a conhecer um expoente máximo em "Garden" - momento alto do novo Long Live the Angels - etérea e relaxada construção em embrulho boom bap com flow incrível de Jay Electronica e da própria Emeli.

24º Tourist- "Run"- Ainda que não tenha sido um dos nomes a reter na colheita electrónica deste ano, convém não esquecer que William Phillips nos deu dois estupendos singles de rajada só no primeiro trimestre. O segundo deles, "Run", é um portento balear de seis minutos servido em várias camadas auditivas inebriantes. Eufórico e transcendente. 

25º Clean Bandit feat. Sean Paul & Anne-Marie- "Rockabye"- O trio britânico sabia ao que ia quando lançou este torpedo dancehall com a vocalista em ascensão Anne-Marie e o sempre-imprescindível-nestas-andanças-tropicais Sean Paul. Versar sobre a árdua vida das mães solteiras foi o derradeiro clique emocional. Bravo, malta. 

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