2016, Um Balanço Sónico- As Figuras

Encerramos os balanços com os sete protagonistas do ano:

Drake


A Drake o que é Drake. Em 2016 foi tudo, aparentemente. Não houve artista mais ubíquo ou omnipotente que o autor de "Hotline Bling", êxito que inaugura uma caminhada galáctica de 16 meses. E porque uma era discográfica já não obedece aos parâmetros de antigamente, Views chegou por fim em Abril último na senda de duas populares mixtapes e embalado no mais real dos hypes, antecedido por esse incontornável êxito viral, "Summer Sixteen", "Pop Style" e o inescapável "One Dance", detentor de quase todos os recordes do ano, entre eles a estadia de 15 (!) semanas consecutivas no topo da tabela de singles britânica e o bilião de streams alcançados no Spotify, número nunca antes atingido na plataforma. A incursão pelo dancehall revelou-se de tal forma certeira que outros dois singles do álbum - "Controlla" e "Too Good" - foram lançados com êxito nesse mesmo registo, mesmo sem terem qualquer suporte visual. Views, por seu lado, representa o maior sucessor comercial do rapper canadiano à data, com 13 semanas passadas ao comando da tabela de álbuns norte-americana. Das muitas aventuras colaborativas de Drizzy destacam-se "Work" (Rihanna), "For Free" (DJ Khaled) ou "Used To This" (Future). O ano não acaba sem o anúncio de um novo projecto para 2017 - More Life - com "Fake Love" a esbanjar charme neste último trimestre. Rei dos memes, do streaming e do filão urbano - quem não quer ser Drake?


Beyoncé


Em 2016 assistimos outra vez ao Beypocalipse. E sobrevivemos intactos para contar a história de Lemonade, o sísmico sexto capítulo discográfico do seu percurso que incendiou a opinião pública pela denúncia da infidelidade de Jay-Z e que recolheu inúmeros louvores não só pela bravura e honestidade da confissão como pela tremenda execução sónica e componente visual do registo, apresentada em Abril último através de um filme de uma hora transmitido em exclusivo no HBO. Liberta de rótulos e da necessidade de criar uma obra assente em singles, Beyoncé contou a sua versão dos acontecimentos em cenários pop, R&B, reggae, blues rock, hip hop, soul, funk, country, gospel e trap, ilustrados em canções como "Formation", "Sorry", "Hold Up", "Freedom" ou "Daddy Lessons". Mantido afastado do gigante Spotify, o projecto foi apresentado ao vivo numa colossal performance nos MTV Video Music Awards e levado à estrada através da Formation World Tour, a segunda digressão mais rentável do ano, tendo recebido um recorde de 9 nomeações para os Grammys 2017.

Twenty One Pilots


Indisputados underdogs do ano, é dos Twenty One Pilots a maior história de triunfo improvável em 2016. Pontas de lança da irreverente Fueled by Ramen, conheceram este ano níveis de sucesso nunca imaginados com Blurryface, álbum editado em Maio de 2015 e que ao longo de 2016 se bateu de igual para igual com edições correntes de pesos-pesados. "Stressed Out", desabafo sobre a pressão da vida adulta em ginasticado embrulho rap rock catapultou-os para o mainstream, seguindo-se a toada reggae do não menos alarmante "Ride" e o obscuro "Heathens", o porta-estandarte de Suicide Squad, um dos maiores êxitos de bilheteira deste Verão. O sucesso da dupla - em parte explicado pela imagem peculiar, a afinidade para com a nova geração e a saudável esquizofrenia sónica - foi de tal ordem que pelo caminho se tornaram nos primeiros artistas alternativos a colocarem em simultâneo dois singles no top 5 da tabela de singles norte-americana. A coroar o seu ano triunfante estão as três nomeações obtidas para os Grammys. 

Rihanna


Depois de um 2014 e 2015 de desaceleração criativa, Rihanna regressou com toda a pompa e circunstância no início do ano, para declarar 2016 como seu. Anti, o oitavo álbum de estúdio, caiu aos trambolhões em Janeiro depois de 26 tortuosos meses de espera: sem uma campanha promocional massiva, um óbvio single de avanço ou edição física sequer. A ausência de uma estratégia nítida provou ser uma táctica vencedora, a partir do momento em que "Work", o 1º single do registo, passou a dominar sem esforço as tabelas mundiais. Cedo a fome deu em fartura e, num ápice, Rihanna voltava a comandar o mainstream com uma panóplia de singles em nome próprio e colaborações: a vénia a vossa purpureza Prince em "Kiss It Better", a obscuridão electro-R&B de "Needed Me", novamente a bonequinha do DJ num "This Is What You Came For" assistido por Calvin Harris, diva intergaláctica em "Sledgehammer" a bordo da banda-sonora de Star Trek Beyond, a prolongar o flirt com Drake em "Too Good" ou a dar-nos uma balada de recorte soul/doo-wop na estonteante "Love on the Brain". O ponto alto do seu ano foi, no entanto, a atribuição do Prémio Vanguarda nos VMAs, pelos incansáveis e relevantes préstimos ao serviço da pop nos últimos 11 anos. Termina 2016 nomeada para 8 Grammys e com Anti a marcar presença nas listas de melhores discos dos últimos doze meses. 


The Chainsmokers


Da dupla que nos deu "#Selfie", uma das mais odiosas e insuportáveis canções da década, ninguém poderia auspiciar um futuro tão risonho. Nem os próprios, convenhamos. "Roses" (para todos os efeitos a sua melhor canção), intrigante pedaço de future bass, começou por lançar o seu aroma na aurora de 2016, devolvendo-os ao mainstream. "Don't Let Me Down", agitado tema dance pop com influências trap e um dos drops mais massivos do ano, prolongou o sucesso, e o sucessor "Closer", outra simples mas engenhosa construção EDM cantada a meias com Halsey, provou ser um dos hits esmagadores de 2016, como bem o atesta a sua residência de 12 semanas consecutivas em nº1 na tabela de singles norte-americana. Collage, EP lançado no último trimestre, não só capitalizou esses êxitos como ainda ofereceu mais dois pedaços de lenha para o fogo ("All We Know" e "Setting Fires"). O segredo para o sucesso de Andrew Taggart e Alex Pall? Estavam no sítio certo à hora certa, a dar ao público exactamente aquilo que este pedia. Terminam o ano das suas vidas habilitados a três Grammy Awards, entre eles o de Best New Artist. Quem é que se atreve a rir deles agora?


Adele 


Se em 2015 a sua presença foi curta mas massiva, em 2016 foi duradoura e menos expressiva, mas ainda assim impressionante. Adele terminou o ano passado com um best seller colossal em tempo recorde e, para espanto de ninguém, encerra 2016 também com o título mais vendido dos últimos 12 meses tanto em solo norte-americano como em terras de sua majestade, isto numa altura em que 25 ascende à absurda quantia de 20 milhões de cópias vendidas a nível mundial. Grande parte desse valor foi admiravelmente alcançado ainda em 2015, sendo que o esforço de vendas adicional foi conseguido à custa de singles como "When We Were Young", "Send My Love (To Your New Lover)" ou "Water Under the Bridge", fiéis companhias de airplay, e graças à bem-sucedida digressão de suporte ao álbum que Portugal acolheu, inclusivé, em duas datas. Para 2017 prevê-se uma merecida desaceleração, não sem antes visitar a Oceânia e entregar-se a uma residência de quatro noites em Wembley e competir já em Fevereiro próximo pelos 5 Grammys a que se encontra nomeada. 


Justin Bieber


Em 2016 Justin Bieber continuou aquilo que tinha iniciado no ano anterior: redimir-se perante o público e a crítica, transitando com sucesso de estrela teen para astro pop de alcance global, cujo apelo é agora transversal a todas as faixas etárias. O ano começou massivo na senda do sucesso colossal dos inescapáveis "Sorry" e "Love Yourself", que o mantiveram na liderança das tabelas de airplay, downloads e streaming por muito mais tempo que seria expectável, convertendo novos seguidores de dia para dia. Purpose esgrimiu ainda mais um sólido argumento - "Company" - sem o peso dos seus antecessores. A Biebermania corria o risco de arrefecer com a chegada do Verão, mas duas colaborações estratégicas - "Cold Water" e "Let Me Love You" - com Major Lazer e DJ Snake, respectivamente, trataram de o manter em voga, prolongando o histerismo colectivo. A par disso, percorreu o mundo a bordo da bem-sucedida Purpose World Tour que até ao seu término, em Setembro de 2017, terá tido mais de centena e meia de datas. Adicionalmente, concorre a 4 gramofones dourados na próxima edição dos Grammys, entre eles para Canção e Álbum do Ano. 

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