REVIEW: Maroon 5- Red Pill Blues


Ao sexto álbum os Maroon 5 recuperam alguma força anímica, mas continuam a ser uma versão pálida e caricatural dos saudosos primórdios.

Já poucos se recordarão de que no início da década os Maroon 5 eram uma banda no fim da linha. Hands All Over (2010), o último álbum verdadeiramente decente, não conseguia repetir o sucesso dos dois primeiros discos e a sensação era de que não sobreviveriam para contar a história num quarto álbum. 

Mas em 2011 aconteceu o The Voice para Adam Levine, fulcral na reconquista do grande público, e sobretudo "Moves Like Jagger", fulminante dueto com a então também mentora do programa Christina Aguilera, que lhes proporcionou o maior êxito das suas carreiras e um novo fôlego que nunca mais os abandonou. 

Dos dois garbosos primeiros álbuns que reflectiam com apelo pop o amor pela soul de Stevie Wonder e pelo funk libidinoso de Prince, passaram então para uma pop anónima operada por várias mãos concretizada no reprovador Overexposed (2012) e no ainda mais detestável V (2014). Como se o preço a pagar pelo retorno à proeminência exigisse o sacrifício da índole criativa - não tinha de ser assim.

Chegamos pois ao novo Red Pill Blues - atentem desde logo na bestialidade do título - sabendo de antemão que a alma ainda não foi reclamada, mas que a salvação é sempre um caminho possível. O que é complicado quando o álbum se faz anunciar por singles tão tacanhos quanto "Don't Wanna Know" ou "Cold" que felizmente foram deixados de fora da edição standard do disco. Por isso talvez haja esperança.



A entrada groovy ao som de "Best 4 U", caloroso encontro entre influências synth-funk e R&B que piscam o olho ao The Weeknd de Starboy, é particularmente notável, com Adam Levine a assumir a postura de galã errante por quem não é recomendável cair de amores. Mas logo a névoa esperançosa se dissipa quando damos ouvidos à disco pop pré-escolar de "What Lovers Do", reciclagem patética de um êxito com pouco mais de um ano de existência, que por razões difíceis de apurar tem o nome de SZA envolvido. Melhores ventos aguardam-nos em "Wait", competente híbrido pop/trap com um refrão espiralar que não mais nos abandona e toda uma súplica confessional inerente.

"Lips On You" recaptura as baladas atmosféricas de Phil Collins e esforça-se demasiado para ser uma versão moderna de "Wicked Game" - estarão provavelmente a guardá-la para single. Em "Bet My Heart" os papéis invertem-se e é Adam quem receia sair magoado no jogo do amor caso se entregue plenamente: a canção tinha potencial para ser mais do que é, mas acaba confinada a um vácuo existencial. Diplo surge para dar uma mãozinha em "Help Me Out", cintilante dueto synthpop cantado a meias com uma cada vez mais prolífica Julia Michaels e que acaba por resultar num dos momentos mais fortes do disco. 


A medalha de ouro, porém, é atribuída a "Who I Am", tudo aquilo que "Sugar" tentou ser e falhou: uma leve e irresistível composição disco/funk-pop munida de linhas melódicas infalíveis e um rap catita de LunchMoney Lewis - e por momentos os Maroon 5 parecem ter encontrado o balanço perfeito entre a eficácia pop e o compromisso artístico. Surpreendentemente, "Whiskey" é a balada mais robusta e memorável em tempos no cancioneiro da banda: uma sóbria e soturna prosa pop/rap reflexiva das memórias latentes de um antigo relacionamento, construída à base de teclas e sintetizadores esparsos.

E porque há muito que as coisas estavam a correr bem, aí está o banalíssimo "Girls Like You" para voltar a descer a fasquia: a falhar miseravelmente enquanto canção de engate e alicerçado num refrão fantástico composto por "yeah yeah yeahs". A estocada final, no entanto, é servida com "Closure", a pior desculpa possível para fechar um álbum com um segmento instrumental: é vitamínico enquanto Adam é embalado pela toada pop/funk dos membros da banda, mas depois há 8 minutos de música de elevador que se arrastam bem para lá do que é aceitável num ror de sopros e teclas interminável. Ninguém merece.

Red Pill Blues é bem capaz de ser o capítulo mais bem conseguido da trilogia pop maldita dos Maroon 5, com a banda a recuperar muito do groove e funk perdido para as malhas da electropop e a empregar algumas influências do hip hop e R&B com relativo sucesso. Resta-nos esperar que daqui em diante se concentrem em encontrar uma identidade que acompanhe o seu historial e ateste o seu crescimento - ou mais vale entregarem-se de uma vez por todas à falência que parecia inevitável em 2010. 



Classificação: 6,2/10

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