2017, Um Balanço Sónico- As Figuras


Fechamos as retrospectivas com a selecção das sete figuras essenciais do ano:

Ed Sheeran


Incontestável figura dominante do ano, Ed Sheeran moldou 2017 a seu bel-prazer. Ainda nem as passas tinham descido pelo tubo digestivo e já o ano era seu com "Castle on the Hill" e sobretudo "Shape of You", a estratégia de single de avanço duplo mais massiva que há memória - e só essa jogada de mestre bastaria para figurar nesta lista. ÷ (divide), o terceiro álbum do seu percurso, chegaria com estrondo em Março e não só estilhaçaria como inauguraria uma data de recordes na sua nação - entre eles o facto de ter colocado as 16 canções do registo de uma só vez no top 20 da tabela de singles britânica. "Galway Girl" chegaria a tempo de perfumar o Verão com influências celtas e "Perfect", quer na sua versão a solo, em dueto com Beyoncé ou na sinfonia de Andrea Bocelli, trataria de dominar o último trimestre do ano. Entretanto, já as restantes faixas do disco tinham atingido considerável sucesso porque - hello - estamos em 2017 e o streaming deita por terra as concepções de um single. 2018 promete arrancar tão forte quanto o ano cessante, pois o ginger ninja é parte integrante de "End Game" com Taylor Swift e Future e de "River" com Eminem, potenciais hits em linha para um futuro próximo. Pouco há mais para conquistar na montanha onde Ed Sheeran se encontra - é só saber perdurar e prolongar a estadia pelo maior número de anos possível.


Taylor Swift


No ano em que Taylor Swift atendeu e anunciou a morte da sua anterior versão, importa compreender como o actual maior astro pop da actualidade se agigantou um pouco mais. Quando no final de Agosto decretávamos estado de emergência com a urgência e arrojo de "Look What You Made Me Do", assistíamos ao enterrar da namoradinha da América como até aqui conhecíamos: uma que ia assumir de vez o papel de vilã que os media lhe queriam imputar à força na melhor das sátiras e colossos audiovisuais que a cultura pop acolheu nos últimos doze meses. Ao mesmo tempo, Taylor remetia-se a um blackout mediático, fazendo da música o seu manifesto pessoal: salvo três actuações televisivas em momentos estratégicos, não concedeu entrevistas e restringiu ao máximo a sua actividade social. "...Ready for It?", "Gorgeous" e "Call It What You Want" alimentaram a caminhada promocional de Reputation, lançado em Novembro, que vendeu 1,2 milhões de cópias na semana de estreia só nos EUA - o seu quarto disco consecutivo a alcançar tal registo. A obra veio completar a sua mutação pop e assinalou o registo mais maduro, arriscado e interessante do seu percurso - um que ainda não conheceu fracasso algum ao longo de onze anos. E assim Swift triunfou, derrubando pelo caminho os detractores e reclamando a sua integridade. De génio. 


Kendrick Lamar


Justamente celebrado como o melhor rapper da sua geração, em 2017 vimos K-Dot a sentar-se no topo da montanha e a contemplar a vista lá de cima: uma América ainda contaminada por uma série de tensões raciais e políticas e alguns estereótipos degradantes, e um indivíduo virtuoso que se contempla a si mesmo e compreende que por vezes a grandeza acarreta solidão. Tais reflexões foram depois projectadas em DAMN., uma das grandes obras do ano, conseguida pelo perfeito equilíbrio entre a análise pessoal e a crítica social e o aprofundar das sonoridades pop, R&B e trap, concedendo pelo caminho alguns dos êxitos mais ressonantes de Kendrick à data ("Humble", "DNA", "Loyalty" ou "Love"). Os seis troféus conquistados na última edição dos MTV Video Music Awards ou os sete galardões a que se habilita na próxima cerimónia dos Grammys, bem como as loas atribuídas a DAMN. atestam bem a proeminência alcançada pelo rapper de Compton. Continuaremos a contar com Kung Fu Kenny para salvar o dia. 

SZA


Há muito o segredo melhor guardado da Top Dawg Entertainment, 2017 foi o ano da aclamação de SZA, que depois de três EPs promissores editou por fim o longa-duração de estreia, Ctrl, prosa confessional e brutalmente honesta sobre as complexidades do amor contemporâneo ou como uma jovem mulher com um quarto de século de vida se percepciona a si mesma e ao mundo que a rodeia em pleno séc. XXI, erguida numa robusta mescla de R&B alternativo e neo soul patente em momentos soberbos como "Drew Barrymore", "The Weekend" ou "Broken Clocks". Fora do seu repertório, deu também voz a "What Lovers Do" dos Maroon 5 e esteve ao lado de Post Malone e Khalid na remistura de "Homemade Dynamite" de Lorde. Elogiada pelos seus pares, pela indústria e pelas massas, SZA termina o ano a candidatar-se a cinco gramofones dourados na edição de 2018 dos Grammy Awards. 


Jack Antonoff


O que é que Jack Antonoff tem? Acima de tudo um enorme sentido de compromisso e devoção pela música, porque de outra forma não se explica a avassaladora quantidade e soberba qualidade dos seus préstimos autorais ao longo dos últimos doze meses. 2017 ficará assinalado como o ano em que Antonoff deixa de ser simplesmente o guitarrista dos fun. para passar a ocupar um lugar primordial na hierarquia pop. Se não, vejamos: esteve por detrás de "I Don't Wanna Live Forever" do filão de Fifty Shades (cuja banda-sonora se tornou entretanto mais relevante que os próprios filmes), do coming of age de Lorde em Melodrama ("Green Light", "Liability", "The Louvre") um dos candidatos a Álbum do Ano para os Grammys 2018, de Masseduction de St. Vincent ("New York", "Los Ageless"), do mais recente álbum de Pink ("Beautiful Trauma", "Better Life") e em alguns dos melhores momentos de Reputation de Taylor Swift ("Look What You Made Me Do", "Getaway Car", "Call It What You Want"). Pelo meio deu ainda continuidade aos seus Bleachers, projecto indie pop que editou em Junho o seu segundo acto, Gone Now. Refrões maiores que a vida, produção eloquente e um evidente amor pela instrumentação dos anos 80 fazem parte da sua assinatura - uma que se torna cada vez mais proeminente para o mainstream e reconhecível. Ryan Tedder bem que pode entregar a sua coroa. 


Julia Michaels


Há quem nasça para brilhar nos palcos através das suas canções, e quem nasça para fazer os outros brilhar através das suas criações. E depois temos Julia Michaels, que nasceu para fazer ambos. Ouvimo-la pela primeira vez com "Issues", um dos temas pop mais ressonantes do ano, que nos apanhou tanto pela melodia memorável como pela lírica contundente, e depois escutámo-la cantada por outras vozes de várias latitudes. A saber, a sua marca autoral foi sentida em temas de: Ed Sheeran ("Dive"), Linkin Park ("Heavy"), Zara Larsson ("One Mississippi"), Lea Michele ("Truce"), Shakira ("When a Woman"), Selena Gomez ("Bad Liar"), Snakehips "(Either Way"), Justin Bieber ("Friends"), Maroon 5 ("Help Me Out", "Lips On You"), Pink ("For Now", "Barbies") ou Jessie Ware ("Hearts") - bastante impressionante, não? Em Julho assistimos ao lançamento do seu EP de estreia - Nervous System - a firmar os seus créditos enquanto futura estrela pop por culpa de canções como "Uh Huh" ou "Worst in Me" - e fecha o ano a dobrar os créditos na composição e interpretação de "I Miss You", o mais recente single dos Clean Bandit. Olhos bem postos, portanto, no fabuloso destino de Julia. 


Khalid


Poucos tiveram em 2017 um ano de estreia tão notável quanto Khalid, que antes de chegar aos vinte anos de idade conquistou já a aclamação do público e da crítica, ganhando um lugar de destaque na nova dinastia de vozes do R&B alternativo, género com cada vez maior profusão no mainstream graças a contributos como o do próprio Khalid, que teve em "Location" e "Young Dumb & Broke" dois dos maiores hinos do ano. Cartões de visita de American Teen - retrato de como um adolescente de El Paso, Texas, navega pela agitada corrente de emoções joviais - são apenas parte da história do norte-americano num 2017 que ficou também marcado pelas suas participações em "1-800-273-8255", o êxito salva-vidas do rapper Logic, em "Rollin'" de Calvin Harris, parte integrante da reinvenção funk do DJ/produtor escocês, em "Silence" de Marshmello e no upgrade de "Homemade Dynamite" de Lorde. Os sucessivos feitos valeram-lhe o prémio de Best New Artist nos VMAs deste ano e cinco nomeações para os Grammys 2018 - nada mau mesmo para quem não passava de um perfeito desconhecido há um ano. 

Agora sim, a retrospectiva de 2017 está completa. Ora confiram:

- As Canções Internacionais

- As Canções Nacionais

- Os Vídeos

- Os Álbuns Internacionais

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