A campanha de singles de 'Notes On a Conditional Form'



Tem sido uma longa viagem até ao quarto longa-duração dos The 1975. Inicialmente pensado para Maio de 2019, o sucessor de A Brief Inquiry into Online Relationships (2018) levou-lhes um pouco mais do que o planeado. A escassas duas semanas do seu lançamento, talvez seja uma boa altura para fazermos um ponto da situação daquilo que tem sido a campanha de singles desta era.

Se retirarmos da equação o spoken word vocalizado por Greta Thunberg da habitual faixa homónima que abre sempre os seus discos, Notes On a Conditional Form começou oficialmente no final de Agosto passado com o banger punk rock industrial de "People", no qual Matt Healy vocifera desalmadamente sobre assuntos como o capitalismo, alterações climáticas ou angústias geracionais, ao melhor estilo de Gerard Way. Em suma, a versão mais colérica e totalmente emo de "Love It If We Made It"

 
No final de Outubro chegava "Frail State of Mind", uma balada sensorial sobre ansiedade e a dificuldade de comunicar e estabelecer ligações no mundo moderno, com fragmentos de UK garage e dubstep à la Burial, que sampla "TooTimeTooTimeTooTime" e canaliza as texturas electrónicas de "How to Draw / Petrichor", ambas do álbum anterior.

Janeiro trouxe-nos a brisa primaveril jangle pop pré-milenar de "Me & You Together Song", a faixa mais acessível até então que nos devolvia aos tempos de "Chocolate" do debute de 2013. A sua leveza esconde também uma nostalgia e tristeza acentuada, versando sobre amor não correspondido - e as múltiplas fantasias tornadas possíveis por uma não rejeição. 

No mês seguinte recebemos "The Birthday Party", porventura o single mais discreto do disco. A canção tinge-se de influências dream pop e alt country, sendo um tanto crítpica na sua interpretação. Mas se olharmos para a narrativa visual que o acompanha, em que uma versão digitalizada do frontman dá entrada numa clínica de desintoxicação virtual (Mindshower), talvez discorra sobre como nos reabilitamos na versão que construímos de nós online, para esquecer a tristeza e o estado depressivo que nos cerca no mundo lá fora.
   

Em Abril último, dose dupla. "Jesus Christ 2005 God Bless America" despiu-os à mais pura matriz de voz e guitarra acústica: é uma belíssima canção partilhada a meias com Phoebe Bridgers - no primeiro featuring dos discos da banda - com leves inclinações folk derivativas de Sufjan Stevens ou Bon Iver, sobre questões existenciais e sexualidade reprimida, com ambos os vocalistas a revelar os seus traços queer à luz de - e daí o seu título - uma América que em 2005 manifestava ainda opiniões maioritariamente homofóbicas. 

Já "If You're Too Shy (Let Me Know)", quiçá o último single até à chegada do álbum, é efectivamente a melhor (e mais aclamada) oferenda de Notes on a Conditional Form. Sucessor natural de "It's Not Living (If It's Not with You)", é um brilhante exemplar pop/rock e new wave sobre desejar uma ligação emocional mais profunda do que aquilo que uma relação meramente sexual via FaceTime permite. Vivemos todos para o glorioso solo de saxofone ao minuto quatro. 

A campanha de singles está mais ou menos equiparável à do disco anterior, com ligeira vantagem para A Brief Inquiry, mas nunca os poderemos acusar de monotonia ou falta de risco e inovação. Aguardemos até dia 22 para conhecer o álbum na íntegra. 

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