Os onze melhores singles dos Everything Everything



Convivemos com a obra dos Everything Everything há já dez anos. Um repertório admirável distribuído por cinco álbuns - o mais recente, Re-Animator, acabou de sair - de estrutura quase sempre pouco convencional, ambição hercúlea e visão maximalista, que fizeram deles possivelmente a banda mais entusiasmante saída de Inglaterra nos anos 10.

Mais do que merecida, por isso, uma pequena revisão de carreira que compreende os seus melhores singles lançados até ao momento:

11º "Can't Do", A Fever Dream (2017)- Até ao álbum nº4 o quarteto operou sempre numa major, por isso existia uma certa pressão em ter singles de avanço sonantes. Desculpamos-lhe, por isso, que "Can't Do" soe a uma versão mais retorcida e abafada de "Distant Past", que nasce tão simplesmente do bloqueio criativo de Jonathan Higgs em atribuir palavras ao agitado binómio de baixo e bateria. A propositada ambiguidade do homófono "want/won't" acentua a ideia de resistência da banda aos canônes. 

10º "Night of the Long Knives", A Fever Dream (2017)- Há três anos o mundo já era um lugar estranho. Mas não terá sido sempre assim? O arranque do seu quarto álbum faz-se com o negrume art rock de um tema que recupera os crimes cometidos pelo regime nazi de Hitler na escalada até ao poder ditatorial. O termo tornou-se então num chavão alemão para denominar um acto de vingança e encontrava paralelo nos sentimentos de vulnerabilidade e paranóia perpetuados pelos ataques terroristas londrinos de 2017.

9º "Suffragette Suffragette", Man Alive (2010)- No início eram cinco, soavam já fascinamente bizarros, mas tinham uma costela de Foals que não tardaram a perder. Apesar do debute só ter chegado no Verão de 2010, começámos a escutar-lhes canções no final de 2008: "Suffragette Suffragette", um tema denso sobre tomadas de decisão, deixava já claro o gosto da banda pelos termos repetidos deliberadamente e pela tal ambiguidade lírica: esse dedo no ar para quem escuta "who's gonna sit on your face" em vez de "fence"?

8º "MY KZ, UR BF", Man Alive (2010)- Do debute do início da década passada, a sigla para "My Keys, Your Boyfriend" será talvez a que a memória melhor guarda. Um encontro entre Klaxons ou White Lies com as vocalizações sincopadas de umas Destiny's Child inaugurais, o single versa sobre como os problemas do mundo ocidental devem ser relativizados perante os verdadeiros cataclismos do planeta, um tema a que voltariam com mais eloquência e seriedade em discos futuros. 

7º "Kemosabe", Arc (2013)- Dos singles do segundo álbum, é "Kemosabe" quem melhor faz a ponte para com Man Alive - um petisco indie pop com teclas exuberantes, ritmos sincopados e o falsete inigualável de Jonathan, que discorre sobre a solidão num relacionamento, devendo o seu título ao termo pelo qual a mítica personagem Lone Ranger era apelidada pelo seu companheiro de viagem, Tonto. 

6º "Regret", Get to Heaven (2015)- E ao álbum nº3 o grupo faz a sua obra-prima, uma espécie de Yeezus do art rock que traduz como nenhum outro os terrores da sociedade moderna. "Regret", na sua melodia analgésica digna da pop da década de 60, é exímio na crítica que faz aos indivíduos que são movidos por uma fé extremista em falsos ídolos ou falsas causas, acabando por se destruir no processo. Did you think that everything, everything would change?

5º "Violent Sun", Re-Animator (2020)- Na recém-conquistada independência, é a banda quem decide os termos da narrativa. Em qualquer outro álbum seu "Violent Sun" teria dado o tiro de partida para a campanha promocional: uma imensa canção upbeat sobre agarrarmo-nos desesperadamente a um momento antes que este se desvaneça. Vejam-na a brilhar na sua roupagem de revivalismo pós-punk (figurino inédito para os EE) e a chegar a single só à quarta viagem. 

4º "Distant Past", Get to Heaven (2015)- É verdade que os EE nunca estiveram tão perto da sua acepção pop como quando lançaram "Distant Past": uma eufórica onda indie pop com influências house e techno à mistura, que discorre sobre a vontade de regressarmos ao estado mais primitivo do ser humano, numa fuga à civilização moderna e complexa que ainda vive em conflito com as mesmas questões de há séculos atrás. Pop mas esquizóide qb.

3º "Don't Try", Arc (2013)- O quarto e último single de Arc é um dos essenciais do grupo de Manchester e a conclusão mais luminosa possível para um álbum bastante intenso e depressivo. Novamente a trazer as influências R&B do grupo para cima da mesa, "Don't Try" versa sobre a necessidade de falarmos sobre os problemas que nos atormentam, reconhecendo que isso nos libertará no final. Vejam-nos a libertar a sua costela de Queen no coro angelical que encerra o tema. 

2º "No Reptiles", Get to Heaven (2015)- Get to Heaven é uma obra-prima, diga-se, mas também um álbum de extrema bravura e coragem. Características que lhe custaram o Mercury Prize, que havia de ter ganho (e para o qual nem foi candidato). Mostra-o sobretudo na segunda metade, em temas como "The Wheel (Is Turning Now)", "Fortune 500" ou este magistral "No Reptiles", com inspiração no mesmo padrão rítmico sinistro e medonho de "Frankie Teardrop" dos Suicide, e que narra a história de um pária da sociedade que se prepara para cometer um acto terrorista. 

1º "Cough Cough", Arc (2013)- Yeah... so... um... wait a second! Existe a intensidade épica dos Florence and the Machine, e depois existe a intensidade apocalíptica dos Everything Everything, que em "Cough Cough" - um festim rítmico de art rock, indie pop e funk que soa a um híbrido entre Dirty Projectors e as Destiny's Child - rugiam com um monumental tema que lida com questões como o consumismo, a ganância do petróleo ou a poluição ambiental que teimamos em desvalorizar. E assim se agigantaram, entrando numa liga à parte dos seu contemporâneos. 


Se ainda não tiveram oportunidade, escutem Re-Animator e toda a discografia destes rapazes. Que nos possam continuar a oferecer discos tremendos por essa vida fora, sem perder a singularidade que os caracteriza.

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