Brave

Pink-"Try"
The Truth About Love (2012)
 

 
Bem sabem como isto se processa: quando sinto que chega o momento de falar de um certo artista, abrem-se as portas deste espaço. Pink, a eleita da semana, já há muito que fez por merecê-lo, mas sempre tive dificuldade em escolher um tema que verbalizasse o que sinto em relação a ela. Finalmente percebi qual e tenho guardadas uma torrente de palavras que anseiam pela libertação.
 
Na imensidão de artistas que habitam a constelação pop, Pink nunca foi a estrela mais brilhante. Foi sempre a espalha-brasas, a ovelha negra lá do sítio. De língua mordaz e atitude irreverente, até há bem poucos anos atrás não eram muitos aqueles que estavam dispostos a levá-la a sério ou, simplesmente, a reconhecer que ela é mais do que aparenta.
 
Consigo definir a carreira de Pink em 4 etapas. Vejamos:
 
A primeira remonta aos seus tempos de estreia, em 2000, quando fazia do R&B o seu habitat natural. É a fase menos interessante do seu percurso e a própria mais tarde admitiu que não se sentia confortável naquela pele que lhe foi imposta.
 
A segunda fase dá-se em 2001 com o lançamento de M!ssundaztood e a passagem à pop/rock irreverente, presente em temas como "Just Like a Pill", que haveria de a levar ao topo das tabelas mundiais e que a posicionou como uma alternativa à pop bonitinha da época. Foi uma fase de tremendo sucesso comercial e que durou até fins de 2007.
 
Em 2008, com o lançamento de Funhouse, o 5º álbum, Pink avançou para o 3º estágio da sua carreira. A pop/rock, agora assinada pelas mãos de Max Martin, tornou-se mais letal, deveras efervescente, e foi graças ao inesquecível "So What" que obteve o seu primeiro nº1 nos EUA e o seu maior êxito à data. Esta fase culminou com o lançamento do seu primeiro best of e dos temas "Raise Your Glass" e "Fuckin' Perfect".
 
Com o lançamento do seu último disco, The Truth About Love, Pink entrou então na 4ª etapa: o cimentar do seu sucesso comercial ("Just Give Me a Reason" é agora o seu maior hit de sempre) e, mais importante ainda, a conquista do respeito que há muito vinha a merecer. E é então que constato que estamos perante uma das mais bonitas carreiras dos últimos 13 anos.
 
Isto porque Pink cresceu a nível artístico diante dos nossos olhos, como ninguém, e hoje em dia afirmo com plena certeza que ela é, a par de Beyoncé, a artista feminina mais respeitável e que mais evoluiu nos últimos anos: tem garra, autenticidade a rodos e é uma performer incrível. E estabilidade é com ela: enquanto muitas das suas congéneres vêm-se a braços com fracassos, Pink soma e segue sem nunca ter cometido um deslize.
 
Eu tive o meu momento de clarividência quando a vi no vídeo de "Try", o sublime pedaço de arte em que Pink evoca ecos de uma relação desfeita através de uma magnífica prestação artística em que executa acrobacias arriscadas e uma estupenda coreografia que não é mais do que um reflexo de alma despedaçada. Indiscutivelmente o melhor vídeo pop dos últimos 7 meses e o momento que me levou a respeitá-la profundamente.
 
Nunca fui um fã acérrimo de Pink, mas já há algum tempo que percebi que a carreira dela segue um caminho ascendente: a cada novo álbum cresce a artista, performer e intérprete que há em si. Transcende-se a cada dia que passa e emociona qualquer um pela bravura com que encara a sua carreira.

Após anos a remar contra a maré, remetida para segundo plano e mantendo-se fiel aos seus ideais, acho que finalmente o mundo começa a vê-la sob uma outra luz. Se é verdade que dos fracos não reza a História, ela está a escrever um dos mais belos capítulos musicais de que há memória. Aplaudo de pé tão magnífica artista. Bravo, Pink.

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