Revisitando ...Baby One More Time no 20º aniversário
O vídeo do uniforme colegial e dos totós cor-de-rosa já tinha acendido o rastilho, mas foi na aurora de 1999 que Britney Spears se tornou no sucesso planetário que havia de redefinir a cara da teen pop e influenciar uma nova geração de artistas e ouvintes pelo mundo fora.
O debute ...Baby One More Time completa duas décadas de existência e a melhor forma de o assinalar é revisitando os seus doze temas. Não importa onde estavam, se eram nascidos sequer ou se nunca compreenderam o fenómeno - vamos todos prestar vassalagem. Hit me!
1) "...Baby One More Time"- Aqueles três acordes iniciais são reconhecidos em qualquer parte do mundo. Nada menos do que um estupendo single de estreia construído em torno do arrependimento do final de uma relação e a necessidade urgente de a retomar - dilemas apocalípticos da mente de uma jovem de 16 anos. Dois suecos - Max Martin (lenda viva) e Rami Yacoub (pois...) - arquitectaram os moldes, e a entrega fervorosa de Britney bem como o icónico vídeo fizeram o resto. Pura perfeição pop.
2) "(You Drive Me) Crazy"- Ahh, quando as canções eram dignas o suficiente para albergar parênteses. Novamente a urgência (agora transformada numa quase demência) romântica, o condão de Martin, o embalo dance pop que conduz a um refrão inescapável e a utilização recorrente de um quase arcaico cowbell. Seria a opção natural para 2º single, mas foi inteligentemente guardada para o Verão de 99.
3) "Sometimes"- Há um duplo sentido na aposta deste tema como sucessor de "...Baby One More Time": por um lado a vontade de não entregar os trunfos de uma só vez e por outro a necessidade de conservar uma certa aura de inocência e candura sob o qual foi construída a sua estreia. "Sometimes" é impecável nessa ambição, mostrando uma Britney mais reservada na confissão dos seus reais sentimentos à cara metade e contendo uma das melhores mudanças de escala da história da pop. Simplesmente adorável.
4) "Soda Pop"- E ao quarto tema é-lhe permitido mostrar aquele timbre de miúdinha franzina sulista de ar impetuoso, ainda arrancado aos seus tempos de Mouseketeer no Mickey Mouse Club. Bop pré-milenial non-sense sobre passar um momento divertido, contém uma leve inflexão reggae, mas é mesmo a interpretação aguerrida de Britney que lhe confere a graça. Todos em uníssono, como se fosse mil-nove-nove: open a soda pop, bop, shu-bop, shu-bop, the clock is ticking and we can't stop!
5) "Born to Make You Happy"- Adorável à distância, mas o mais certo é que uma canção destas seria completamente desaconselhada e proibida à luz de 2019. Concebida com o propósito de que uma rapariga nasce única e exclusivamente para satisfazer o seu parceiro? Hum hum. Lá se vai o girl power. Mantém-se como um dos clássicos do seu catálogo, ainda que nunca tenha sido lançada como single nos EUA. Ugh, que ultraje.
6) "From the Bottom of My Broken Heart"- Enquanto que a Europa recebia a versão-rascunho (e literal) de "I'm a Slave 4 U", a América era agraciada com este enjoozinho de comédia romântica de Sábado à tarde que se arrasta durante cinco longos e penosos minutos. Uma Britney completamente destroçada canta sobre a perda do seu primeiro amor, qual Toni Braxton da vida. Cumpriu o seu propósito à data.
7) "I Will Be There"- Ora aqui está algo que teria dado um óptimo single, com a sua ambiência pop/rock e a mensagem de lealdade a puxar Britney para um patamar mais universal, não fosse um pequeno problema: o riff decalcado de "Torn", que Natalia Imbruglia havia popularizado há pouco mais de um ano. Decisão acertada em mantê-la como faixa de álbum, apenas.
8) "I Will Still Love You"- Genuína surpresa por encontrar um tema deste calibre por aqui. Britney canta com as entranhas um enternecedor e poderoso dueto sobre o amor que persiste perante a adversidade com um tal de Don Philip. É incrível como assinou logo ao disco de estreia o dueto da sua vida, ainda que seja do conhecimento apenas dos fãs mais acérrimos. Crédito a este clássico esquecido, por favor.
9) "Deep In My Heart"- Não sei se é muito bom ou muito mau que isto pareça uma qualquer música dos Anjos ou das Nonstop. Êxtase disco pop e uma chuva de confettis a pedir uma qualquer dança improvisada no meio da rua - assim se desenha este tema catita que apenas se encontra na versão internacional do álbum. In your face, America.
10) "Thinkin' About You"- Ok, esta canção é basicamente a versão mais americanizada do tema anterior, só que com maior tempero R&B, maturação vocal e ad-libs irresistíveis - é o género de tema a que Mariah Carey almejava nos primórdios. Teria dado um excelente 5º single. E Shaggy poderia ter feito uma perninha.
11) "E-Mail My Heart"- Ena, aqui o tempo foi especialmente cruel. Conseguem imaginar Britney a cantar isto com sentimento na sua próxima residência em Vegas? Não dá. É por isso que ninguém se deve atrever a fazer nenhuma analogia com o Instagram ou o Twitter nos dias que correm. Esta ternurinha do Windows 98 foi triturada antes mesmo de chegar à pasta da reciclagem.
12) "The Beat Goes On"- Há coisas tão fantásticas quanto inexplicáveis. Como é que se justifica o facto de Britney terminar o seu debute com um cover breakbeat de uma canção de 1967 de Sonny Bono e Cher que já havia sido replicada um ano antes pelo colectivo All Seing I? É absolutamente inusitado e expedito para uma jovem de 17 anos que ainda na faixa anterior cantava sobre e-mails directos ao coração. #bolado
E como raio o legítimo bop "Autumn Goodbye" ficou fora do alinhamento principal? Os suecos deviam estar loucos.
...Baby One More Time amadureceu mais ou menos bem com o passar dos anos, mas é inegável que está aqui um sólido conjunto de canções pop que lançaram as bases para uma carreira estratosférica. O melhor da Miss American Dream, como é sabido, estava para vir.
E como raio o legítimo bop "Autumn Goodbye" ficou fora do alinhamento principal? Os suecos deviam estar loucos.
...Baby One More Time amadureceu mais ou menos bem com o passar dos anos, mas é inegável que está aqui um sólido conjunto de canções pop que lançaram as bases para uma carreira estratosférica. O melhor da Miss American Dream, como é sabido, estava para vir.
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