Sabrina Carpenter: Uma Estrela Pop à Espera da Ascensão
Na lista de resoluções musicais para o novo ano, a subida de escalão de Sabrina Carpenter tem de estar algures no topo. Fosse a configuração do panorama igual há da década passada e a moça não só já seria uma estrela teen pop de pleno direito como ainda estaria na linha de sucessão directa de Ariana Grande. Mas a hierarquia dos anos 10 é tramada e se há algo que Sabrina mais tem tido é falta de sorte.
Vamos por partes: em 2014, quando contava apenas 14 anos, foi escolhida para integrar o elenco da série do Disney Channel, Girl Meets World. Antes disso, já havia feito participações em outras produções do canal e em séries como Law & Order ou Orange Is the New Black, mas foi mesmo o seu papel enquanto Maya Hart que a aproximou do público. Como acontece com a maioria das jovens estrelas do canal, Sabrina assinou contrato com a Hollywood Records e ainda a série não estava no ar e o seu EP de estreia - Can't Blame a Girl for Trying (atentem na ironia do título) - já estava cá fora.
O primeiro longa-duração intitulado Eyes Wide Open - uma inofensiva mas competente colecção de canções pop de pendor folk - saiu no ano seguinte, em 2015, servindo como o testar de águas para a implementação da sua identidade musical, que se tornaria um bocadinha mais séria e definida com o sucessor Evolution (2016), morada do certeiro "Thumbs", o primeiro single a colocá-la no radar do mainstream e a demonstrar o seu potencial fora do universo teen televisivo, na aurora de 2017.
Por essa altura Sabrina Carpenter deveria ser já aclamada como a próxima Miley, Selena ou Demi, mas o filão urbano estava em potência e a febre latina a florescer em força, de modo que ninguém estava lá para apoiar a sua ascensão. Sem mais trunfos evidentes, a promoção do álbum cessou e, ao mesmo tempo que a ligação à Disney abrandava, a estratégia passou a ser focada em singles avulso de maior potencial comercial.
"Why", no Verão de 2017, hipnótica construção electropop algo na linha do que os Chainsmokers apresentavam à época, não chegou para combater os pesos-pesados da estação e a oportunidade esfumou-se. Houve ainda uma recomendável colaboração com a dupla de house progressivo Lost Kings, mas as fichas foram todas investidas em "Alien", a parceria com o produtor britânico Jonas Blue, numa estonteante construção dance pop que - adivinharam - não foi a lado nenhum.
Mas - e porque o destino de Sabrina foi feito para se cumprir - aí estava ela no último Verão a redobrar os esforços com o ostensivo e insinuante "Almost Love", intoxicante pedaço de dance pop forjado pelos Stargate, a anunciar uma reformulação da sua imagem e sonoridade. A canção deveria ter funcionado para ela como "Problem" funcionou para Ariana Grande, mas é complicado esperar um hit quando a generalidade do público ainda não compreende (ou sabe sequer) quem ela é.
Singular: Act 1, o terceiro álbum, chegou em Novembro passado com a qualidade de um projecto que tinha todos os argumentos necessários para ser o seu disco de afirmação (da cadência sedutora de "Paris", passando pelo legítimo bop "Bad Time", até à dramatização soul de "Diamonds Are Forever"), mas não foi além de um 103º lugar (ouch) na tabela de discos norte-americana, pior ainda que o registo alcançado pelos seus dois primeiros álbuns. Desastre é dizer pouco. O mundo parece evitar que a carreira da miúda aconteça.
"Sue Me", um irrecusável número R&B completamente em linha com o que Ariana Grande poderia ter feito há uns 2/3 anos atrás, carrega actualmente a campanha promocional do disco, mas a vida também não se lhe avizinha favorável. Devemos aguardar por um segundo acto ainda este ano, mas ou bem que Sabrina encontra "aquele" êxito de assinatura, ou bem que podemos esperar que este impasse se mantenha.
O embrulho de estrela pop está lá. As canções também estão cada vez melhores. Para alguém que ainda não completou sequer duas décadas de vida, as perspectivas de uma fulgurante carreira pop ainda são animadoras, mas de facto para o caminho até aqui trilhado, Sabrina já devia ter conquistado um espaço, um público e um crédito maiores. Que a espera não seja longa.
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