À espera de Sky


Choramingar porque Rihanna não edita um álbum há três anos? Aguardar impacientemente que Beyoncé dê um sucessor a Lemonade? Não. Nada se compara à espera sofrível de seis anos por novo material de Sky Ferreira, a estrela pop luso-descendente que o público indie abraçou, ou a musa indie mais cobiçada pela pop, enredada num impasse que, a avaliar por este post chegará ao fim esta quarta. 

Não seria o primeiro de inúmeros falsos alarmes para Sky, mas desta vez temos um título, um artwork e - mais importante de tudo - uma data que o comprovam. Reservemo-nos, por isso, ao direito de ficar um bocadinho entusiasmados com a perspectiva da continuidade do seu percurso, querendo recordar o que ficou para trás.



No início era o Myspace. Mesmo antes de se tornar num rosto predilecto de centenas de marcas e criativos da indústria da moda, estava escrito que Sky se havia de tornar numa estrela pop. Os inéditos que circulavam na plataforma captaram a atenção da afamada dupla de produtores sueca Bloodshy & Avant, que apadrinharam o vínculo da cantora à Parlophone, subsidiária da EMI. Estávamos em 2009, e no ano seguinte brotavam os seus singles de estreia: "17" e "One", pedaços de electropop cinética tão perfeitamente aptos para a viragem da década.

"Obsession" foi lançado com o intuito de ser o cartão-de-visita do seu álbum de estreia, mas a recepção fria ao single produzido por Ryan Tedder ditou a mudança de planos por parte da EMI, e o LP dava assim lugar a um EP, As If! (2011), com "Sex Rules" à cabeceira e um "Haters Anonymous" ou "99 Tears" como as propostas mais singulares.

                                                              big hair kiss GIF by Sky Ferreira

Não tendo encontrado eco senão em selectos cantos da blogosfera, o EP cedo esmoreceu e a carreira na moda tomou a dianteira. Em 2012, nova tentativa de materializar o debute em disco - e nova tentativa falhada. Em vez disso nascia o aclamado Ghost, o segundo EP que ofereceu uma intrigante panóplia de caminhos possíveis para o seu percurso: da desolação indie pop de "Sad Dream", passando pela acidez grungy de "Red Lips" ou pela perfeição pop presente em "Everything Is Embarrassing", ainda uma das melhores oferendas da década.

2013 assistia, por fim, ao nascimento do primeiro longa-duração: Wild at Heart, inicialmente, passou a I'm Not Alright e a I Will - essa coesão sempre altíssima, como podem constatar - até que se ficou por Night Time, My Time: uma estreia deliciosamente caótica que explorava os domínios do indie rock, new wave, grunge e synthpop, com pouca ou nenhuma ligação ao seu portfólio inicial.

                                                    music video youre not the one GIF

Enquanto dava os primeiros passos na sétima arte, Sky iniciava também os trabalhos no álbum nº2. Foi em 2015 que ouvimos falar pela primeira vez de Masochism, o tal que ainda hoje aguardamos, e que já teve mais falsos arranques que as tentativas de redenção de Iggy Azalea. Pelo meio, colaborou em discos dos DIIV, Jesus and Mary Chain, Primal Scream ou Iceage, marcou presença no revival de Twin Peaks e participou em filmes como Baby Driver ou Lord of Chaos, sobre a cena black metal norueguesa dos anos 90. 

O encanto permanece intacto - e pelos vistos o interesse do público também. Que seja mais uma oportunidade de regeneração artística num percurso imensamente turbulento mas também singular. Não nos deixes ficar mal, Sky. 

                                                               sky ferreira GIF

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