11 não-singles de Carly Rae Jepsen tremendamente bestiais
Carly Rae Jepsen está para a pop contemporânea como uma brisa fresca que sopra num dia quente de Verão, a cobertura infalível que melhora uma sobremesa por si já deliciosa, ou o dia de Natal, aniversário e ano novo embrulhados num só. Yup, é fantástica a esse ponto.
Se "Call Me Maybe" ainda é a primeira coisa que vos vem à cabeça quando o seu nome é mencionado, talvez esteja na altura de lhe concederem uma oportunidade. O Into the Music dá uma ajudinha ao escolher a nata da nata dos seus temas que nunca alcançaram estatuto de single:
1) "Emotion", Emotion (2015)- Reza a lenda que "Run Away with Me" mudou o seu estatuto na escala da respeitabilidade e coolness pop, mas foi o tema-título a selar definitivamente o seu destino. Soltam-se borboletas no estômago ao soar dos versos "in your fantasy, dream about me, and all that we could do with this emotion", ao ponto de nos esquecemos que isto se trata de uma missiva passivo-agressiva para com um ex que ainda não ultrapassou a separação.
2) "This Is What They Say", Dedicated Side B (2020)- Oh céus, oh céus. Sentimos nas pontas dormentes dos dedos. Nos choques que percorrem o corpo. Na sensação inexplicável de júbilo que nos atravessa. Não confiaríamos a nenhum outro a tarefa de musicar a sensação maravilhosa que é cairmos de amores por alguém - Carly fá-lo com êxtase palpável e recurso à dance pop pré-milenial.
3) "Fever", Emotion: Side B (2016)- Já vos contei daquela vez em que Carly decidiu correr o risco de mexer na sua obra-prima e acrescentar-lhe oito canções que ampliaram ainda mais a experiência? Ughh, we stan a generous queen. "Fever" nasce do torvelinho mental na ressaca de uma separação, e desenrola-se num incandescente e permeável manto synthpop midtempo.
4) "Julien", Dedicated (2019)- Continuaremos para toda a eternidade atormentados pelo tempo ficcionado que passámos com Julien. É verdade que Dedicated não possui a mesma relevância ou ubiquidade do seu antecessor, mas quando se tem uma faixa de arranque tão fantabulástica quanto esta, uma deliciosa construção funk pop de balanço disco e nome memorável, consegue-se viver quase apenas do seu encanto. O único crime aqui foi não ter passado de single promocional.
5) "Warm Blood", Emotion (2015)- Um dos motivos para o terceiro álbum de Jepsen ter adquirido estatuto de culto, foi o facto da sua autora não ter tido receio de correr riscos: oiça-se "Warm Blood", uma verdadeira pedrada no charco na metade da década passada, com a sua trepidação synthpop cortesia do ex-Vampire Weekend, Rostam Batmanglij, e os seus versos de tom grave e cadência arrastada a servirem de pano de fundo para a confissão do seu aguerrido crush.
6) "Felt This Way", Dedicated Side B (2020)- E não é que Carly fez exactamente o mesmo no álbum seguinte? Com a diferença que o lado B deste seu último disco consegue soar ainda melhor que o dito lado A. Desta vez foi mais longe e fez um exercício inédito, criando duas versões para a mesma canção. A que aqui se escuta é a mais vaporosa e romântica, numa quase pulsação R&B que não conhece comparação no seu catálogo.
7) "Body Language", Emotion: Side B (2016)- Para o caso da homenagem aos anos 80 não estar suficientemente explícita no lado A, "Body Language" - sobre a importância das acções pesarem mais do que que as palavras no campo do amor - vem com máquina de fumos, permanente espalhafatosa, padrão leopardo e Ray Ban incluídos. Katy Perry tinha-lhe chamado um figo. Que m-u-s-t!
8) "Summer Love", Dedicated Side B (2020)- 'Cause we live for the feeling. Dance to the feeling. Wait for the feeling. O irmão mais novo de "Julien" versa em cama disco-funk sobre romances intensos mas fugazes na estação mais quente do ano, e conta com um breakdown totalmente ancorado nessa instituição que são os ABBA.
9) "Let's Get Lost", Emotion (2015)- Mais outra canção magistral do seu opus, acerca da magia que é finalmente ganharmos coragem para nos perdermos nos braços de outro alguém, sem pensar sequer nas consequências. A produção dance pop tem o seu quê de noventista, fazendo paralelo com um qualquer dos álbuns inaugurais de Mariah Carey. O saxofone recuperado a "Run Away with Me" triunfa novamente.
10) "Want You In My Room", Dedicated (2019)- Jepsen e Jack Antonoff já haviam colaborado antes, mas esta faixa do seu último álbum assinala o primeiro tema produzido pelo esteta dos fun. e Bleachers para a canadiana: uma insinuante e divertida composição pop via 80s com vocoders à la Chromeo, que dá a Carly a hipótese de libertar a sua Cyndi Lauper interior. Não chegou a single, mas teve direito a vídeo.
11) "Love Again", Emotion (2015)- Consta que Emotion chegou dois meses antes ao Japão do que ao resto do mundo, contendo também no seu alinhamento duas faixas bónus exclusivas que só este Verão foram partilhadas com o Ocidente. A melhor delas transforma o término de uma relação numa aprendizagem pessoal com foco de esperança incluído, ao melhor estilo de karaoke fortalecedor. Não merecemos tanta generosidade, Carly Queen.
Estamos no chão e espiritualmente alimentados com tanta perfeição pop. Carly dear, continua a fazer as pessoas felizes por essa vida fora, por favor.
Comentários
Enviar um comentário