10 pensamentos sobre os Grammys 2021
- A entrega de prémios teve o seu ar de cerimónia de casamento ao ar livre, mas foi sobretudo uma edição adaptada à pandemia, sem o glamour de outros anos, mas com o mesmo empenho e rigor de sempre. A ideia de ter os artistas a actuar uns para os outros nos quatro palcos erguidos para o efeito, deu-lhe um calor humano e uma generosidade muito bem vindas.
- Megan Thee Stallion foi a estrela da noite, não só pelos três prémios que arrebatou, como também pelas estonteantes actuações e principalmente pelos discursos de vitória. Foi a confirmação da revelação e a suspeita de que ainda nem vimos metade do que tem para oferecer. Aqui está uma rapper com cabecinha, os pés bem assentes na terra e o coração no lugar certo.
- Dua Lipa. Hot Lipa. Hot. Hot. Hot. Que mulherão e que animal de palco em que se tornou. Não estamos satisfeitos com o singelo gramofone dourado que ganhou, pois não, mas a actuação de "Levitating" foi um colírio para a vista e para os ouvidos. Até que decidiu romper num dance breakdown de "Don't Start Now" (para calar de vez as vozes críticas ao seu desempenho coreográfico) e deixou tudo em chamas. Ainda não recuperámos. Talvez nunca recuperaremos.
- A estreia ao vivo dos Silk Sonic de Bruno Mars e Anderson .Paak foi magnífica, claro está. Na verdade, foi a única actuação que pareceu mais um videoclip do que uma performance ao vivo (talvez por ser pré-gravada), mas é impossível passar incólume ao encanto de "Leave the Door Open". Mesmo que Mars esteja cada vez mais perto de se tornar um acto de tributo do que um artista contemporâneo. Lá vem o sweep para 2022...
- Merecemos o medley de "Cardigan", "August" e "Willow". Merecemos a representação física do universo alado em que vivemos há oito meses. Uma Taylor Swift em estado de graça primaveril mereceu o Álbum do Ano com Folklore, na terceira vez que arrebatou tal estatueta e que fez dela a mulher que mais vezes venceu a categoria. A noite não poderia ter terminado de outra forma.
- Os organizadores deviam estar loucos quando permitiram que "WAP" fosse cantado ao vivo. Só foi lá renomeado "WWW" ("Wet Wet Wet", portanto), mas Cardi e Megan não se coibiram no momento de a ilustrar sem censura, como se estivessem no palco dos VMAs. Megan já vinha de um combo incrível (actuação da noite, quiçá) composto por "Body" e "Savage". Cardi ainda brindou as hostes com uns trechos de "Up", mas o debute ao vivo da colaboração mais acesa de 2020 era o pináculo. Terminou tudo com funk brasileiro e de queixo caído.
- Planet Her de Doja Cat nunca mais tem ordem de soltura, mas até lá a sua intérprete vai reinventando "Say So" como pode. É normal que tenha chegado aos Grammys já sem o fulgor criativo das cerimónias de prémios que a antecederam, mas mesmo assim gabe-se-lhe o esforço em ainda tentar trazer algo de novo a um tema com mais de um ano de existência. E sim, "Say So" merecia ter levado pelo menos uma estatueta para casa.
- Talvez H.E.R., cada vez mais uma darling da Recording Academy, tenha feito por merecer Canção do Ano por "I Can't Breathe" (afinal é da composição que se trata), mas que Billie Eilish tenha arrebatado Gravação do Ano pelo segundo ano consecutivo, é outra conversa. "Everything I Wanted" é uma boa canção, naturalmente, mas era das mais fracas naquela categoria. Devia ter sido a vez de "Don't Start Now" brilhar.
- Poucos previram que Beyoncé fizesse história e se tornasse na vocalista mais premiada da história dos Grammys, logo num ano em que a ficha discográfica permaneceu em branco. Inesperado, mas inteiramente merecido. Afinal de contas, são 30 anos (t-r-i-n-t-a) a aperfeiçoar a sua arte e a rumar a um patamar galáctico, de divindade. You did it, Honey B.
- Não podemos, não queremos e não vamos deixar passar em branco a ausência de The Weeknd das nomeações, muito possivelmente a maior injustiça dos Grammys no séc. XXI. "Blinding Lights" era merecedora de Canção, Gravação e Melhor Performance Pop a Solo de uma só vez. O boicote eterno de The Weeknd para com a Recording Academy é justificável, e a quebra de audiências na edição deste ano pode ser vista como uma punição por parte do público. Queremos transparência, reconhecimento e justiça. A Abel o que é de Abel.
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