O que há para dizer acerca do Ídolos 2015 #3

Este post faz a retrospectiva da terceira e quarta gala do Ídolos 2015

Duas galas, três baixas. Sobram oito candidatos, quatro rapazes e quatro raparigas, num equilíbrio de géneros pouco comum nestes formatos. Numa semana tivemos o sol, mar e campismo, noutra uma devassa da vida dos concorrentes com canções embrulhadas em caixas de cartão com laço de cetim. Confere, tudo vai bem no reino Ídolos.

Ora, festivais de Verão. Finalmente um tema original, pretexto para uma grande gala e muito oportuno com a chegada da época oficial. É vê-los a despontar por aí, de Norte a Sul do país, urbanos, psicadélicos, electrónicos, jazzy, campestres, indie, inteiramente lusos ou com motivos fadistas. Era pedir demasiado à produção e aos aspirantes a Ídolos que olhassem para as dezenas de cartazes existentes e seleccionassem nomes daí. Só Florence and the Machine, James Bay e Mumford & Sons cumpriram os requisitos, tudo o resto foi datado ou inventado. Há registo de uma Katy Perry num festival de Verão português? Nem por sombras. Vistas bem as coisas tivemos antes um "festival lá do meu quintal" - ainda bem que os Broa de Mel ou a Rosinha ficaram na arrecadação.

Dedicatórias. Vejam só se não é uma desculpa esfarrapada para apelar à lágrima fácil e pedir aos candidatos que abram livros de memórias que não precisam de ser vistos por 600 mil espectadores. Mas o bom de ter um mau tema é que pode resultar numa gala acima das expectativas, que foi o que aconteceu. Surpresa das surpresas: cinco das nove canções foram cantadas em português. E, pasmem-se, nenhuma delas era a "Mãe Querida". Não podíamos pedir melhor.

Acerca das expulsões: o Albert só pecou pela demora mas ao menos saiu na mó de cima, o Gonçalo banalizou-se e acabou por perder a vaga não sem antes nos oferecer um "Numb" sofrível e o Mário saiu de cena por se contentar com um papel secundário quando tinha potencial para lutar por um de maior protagonismo.

Seguem os aspirantes a Ídolo ordenados com base na sua prestação até aqui:

8) Carolina Bernardo- O Ventura já declarou as suas intenções perante Portugal inteiro e o espectador não leva mais do que já viu até aqui. Está na altura de abandonar a competição. "Titanium" foi o comboio sempre à espera de descarrilar e "Your Song" concorre ao título de dedicatória mais irada do ano - pedia definitivamente mais mel na voz (como na versão de Ellie Goulding) e menos aparato à Moulin Rouge.

7) Mafalda Portela- É quase um ex-aequo com o Miguel, mas a Mafalda perde no combate directo pela questão das expectativas. Ainda não a vi a igualar o nível das audições em que, ironicamente, lhe diziam que estava abaixo do que esperavam dela. O Ventura tem alguma razão nos comentários da última gala: também sinto que está a concorrer sozinha num departamento em que mais ninguém se revê. E dessa forma estou surpreso por continuar a vê-la ali. "Dark Horse" foi tão arriscado sob pena de ser mal compreendido e cantar Cher Lloyd, com efeitos mais animadores, não foi menos insensato. É seguir a trajectória pop mas escutando sempre o coração.

6) Miguel Moura dos Santos- Cresceu imenso nas duas últimas actuações (bom em "I Will Wait", muito bom com Pedro Abrunhosa). Nota-se que está a trabalhar para o público e a lutar pelo seu lugar no programa. Ainda assim as performances têm que ganhar solidez e isso consegue-se com melhores escolhas musicais. Porque a força e o talento estão lá.

5) Paulo Sousa- Não esperava dizê-lo tão cedo no campeonato, mas o Paulinho começa a desiludir. "Hold Back the River" foi demasiado sensaborão para as suas aptidões e o último "Lay Me Down" não foi tão marcante quanto deveria ter sido. Ainda não tomou consciência da séria concorrência que enfrenta e dos esforços que terá que pôr em prática se não quiser ficar para trás. Espero que o susto do bottom three desperte um novo alento em si, porque neste momento só temos 75% de candidato. Venham de lá os outros 25.

4) Luís Travassos- Continua a passar-se algo de especial com este rapaz. Também ele concorre numa liga à parte, mas todos o compreendem e não lhe pedem mais do que a conta. Estabelece sempre uma enorme ligação com o público e a cantar na língua mãe, festivo no contagiante "Amiga da Minha Mulher" e apaixonante ao entoar "Maria" de Tiago Bettencourt. Mas há quem esteja ligeiramente acima dele na competição.



3) Rita Nascimento- Pela surpresa, consistência e entrega. Começou por ser a concorrente aparentemente frágil e descartável do lote de 12 finalistas, mas já conta com três actuações excepcionais e continua a crescer de semana para semana. É um prazer vê-la em cima do palco a defender tão bem canções improváveis que resplandecem na sua voz. Em três tempos, tornou-se na minha favorita.



2) Sara Martins- Desce um degrau principalmente pelo mérito da concorrência e por efeitos de comparação com as duas primeiras galas. "Dog Days Are Over" fica marcada pela atrapalhação com o tempo da música e por uma rigidez desnecessária, quando a canção pedia era movimento e descontrolo. Boa recuperação em "A Pele que Há em Mim" - estranha dedicatória, no entanto - com uma cenografia memorável e uma entoação perfeita. Precisamos de vê-la a apostar na performance, porque serão as actuações na linha de "Yellow Flicker Beat" que lhe darão a vitória.



1) João Couto- Definitivamente o jovem Couto não caiu em saco roto. Alguém que numa semana é capaz de fazer justiça a "Do I Wanna Know", um dos temas mais conhecidos mas também mais impraticáveis dos Primatas do Árctico (em estreia absoluta nestes formatos) e na seguinte folheia a "Reader's Digest" de Miguel Araújo como se fosse sua, é inteiramente merecedor do título máximo da competição. Quatro actuações a roçar a perfeição, uma cultura musical de sonho e um futuro muito promissor à sua frente. Ventura, é com este que tens de assinar contrato.



Atenção que o ranking não interfere com as previsões iniciais. Continuo a achar que o Luís, a Sara e o Paulo chegarão à penúltima gala. Expectavelmente o bottom three continua tão imprevisível quanto a chave do Euromilhões. Contas feitas, apenas o João e o Luís ainda não estiveram com a cabeça a prémio. Sinais das fracas audiências e dos tempos que correm - deviam pensar seriamente em implementar um novo método de votação porque o sistema de linhas telefónicas há muito que se banalizou. Só a família e amigos é que correm para o telefone de modo a salvar os seus. Votação via site oficial, redes sociais ou via app deveria ser uma realidade há muito tornada possível.

Desconfio que as próximas duas saídas serão no feminino. E que teremos cada vez melhores programas daqui para a frente. Mas isso já não deveria ser novidade para ninguém.

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