Sons Frescos #46


Para rematar o ano e colocar debaixo da chaminé:

1) Cheat Codes & Kim Petras- "Feeling of Falling"- Um team-up entre underdogs dá quase sempre bom resultado. Com Zedd, Marshmello e os Chainsmokers a abrandarem o ritmo criativo, pode caber aos Cheat Codes ocupar em 2019 o lugar central de produtores/artistas pop-EDM do mapa musical, enquanto Petras galga aqui mais uns degraus rumo ao reconhecimento global. É como que "Time After Time" e "The Middle" à boleia pela galáxia.

2) Ariana Grande- "Imagine"- A desafiar todas as normas do manual de bons costumes da pop e o próprio patamar de excelência que conquistou com a edição de Sweetener, Ariana entrega-nos mais um grandioso presente no sapatinho: bombom trap de rastilho curto sobre fantasiar acerca de um amor inalcançável, "Imagine" reserva-nos uma secção de pristinos whistles e a toada orquestral que transformou "Honeymoon Avenue" ou "Moonlight" em momentos tão encantadores do seu cancioneiro.

3) Jax Jones & Years & Years- "Play"- Não faltam aos Years & Years potenciais hits para extrair de Palo Santo, mas um pequeno desvio não lhes fará mal algum. Ainda para mais se for na companhia de Jax Jones, produtor/DJ britânico que se tem revelado infalível na forja de diamantes para a pista de dança. "Play" vive muito do dinamismo vocal de Olly Alexander, de ágeis diálogos entre a deep house, UK garage e nu-disco e de um piscar de olho a "Lady (Hear Me Tonight)". É hino.

4) Clean Bandit feat Ellie Goulding- "Mama"- Duas coisas a retirar no rescaldo da edição de What Is Love?: o trio britânico fracassou no compromisso de criar um trabalho consistente com a qualidade dos singles e pouco mais deixou para assegurar a continuidade da campanha promocional, se não esta colaboração com Ellie Goulding, a viver da mesma atmosfera house latina de "Baby" (e a dar um melhor single que este). 

5) Bastille & Seeb- "Grip"- Chegados ao final de 2018, os Bastille vêem-se num patamar de popularidade que já não experimentavam desde que "Pompeii" cruzou a América. Altura mais do que ideal, portanto, para voltarem a baralhar conceitos e editarem o tomo nº4 da saga Other People's Heartache, de onde "Grip" é a amostra mais satisfatória: uma canção que já havia sido apresentada ao vivo anos antes e em que o duo de electrónica norueguês Seeb injectou nova vida.

6) Grimes feat. Hana- "We Appreciate Power"- A inquietante canadiana regressa com o seu primeiro inédito em três anos, que ainda a situa algures no ano de 3021. "We Appreciate Power" trata-se do seu tema mais agressivo e distópico à data, a discorrer sobre teorias de transhumanismo e inteligência artificial, exploradas numa odisseia sónica de power pop e rock industrial. Sempre lhe garante um lugar de prestígio na sociedade de humanóides. 

7) Zayn- "There You Are"- O segundo álbum do ex-One Direction estava num limbo há demasiado tempo, daí que tenha sido anunciado com pouca distância da sua edição. Muito possivelmente, Icarus Falls dispensaria um alinhamento de vinte e sete temas, sinal da dispersão e ausência de foco de Zayn. "There You Are" é das que puxa o disco para cima: pop emocional bradada a plenos pulmões, sem filtros e os pretensiosismos que não raras vezes comprometem a sua música. 

8) Astrid S- "Closer"- 2018 termina sem um EP ou álbum de Astrid S, mas com o presságio de que 2019 será de expansão para a norueguesa. "Closer", elaborada descrição sobre um affair proibido, inicia-se ao jeito acústico de "Think Before I Talk" até se espraiar num misto de improvisação jazz cozinhado em vapor dancehall. E aquela voz esplêndida, sempre a pontuar de emoção cada nota e melodia.

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