15 coisas a retirar sobre os Grammy Awards 2018
Teve lugar ontem em Nova Iorque a 60ª edição dos Grammys, por excelência a maior noite do ano para a indústria musical. E isto é o que podemos retirar:
1) Na Recording Academy ainda é a tradição quem mais ordena
Frouxos, frouxos, frouxos. Todos os anos a história se repete, com os favoritos a ficarem para trás em detrimento das escolhas seguras do painel de votantes. A supremacia em torno de Bruno Mars - que limpou os 6 prémios para que estava nomeado - ainda que justificada, não é merecida. E isso foi evidente sobretudo na vitória do galardão de Álbum do Ano, derrotando Damn. de Kendrick Lamar, Awaken, My Love! de Childish Gambino, 4:44 de Jay-Z e Melodrama de Lorde, qualquer um deles com mais pretextos para arrebatar o troféu. E logo num ano em que o hip hop estava tão perto de fazer história na cerimónia. Para quando uma renovação das camadas de eleitores?
2) Bruno Mars é um homem de sorte e talento também
Não vamos fazer de Mars o Beck de 2018, apenas não exacerbemos a sua dimensão. Diremos que o seu pico criativo e comercial terá sido com "Uptown Funk" - agraciado devidamente na edição de 2016 - mas nem "24K Magic" nem "That's What You Like" estão entre os seus maiores e melhores êxitos. Agraciá-lo neste momento é reconhecer a sua consistência e relevo para o mainstream e - lá está - acentuar a onda de nostalgia dos votantes da Recording Academy, priveligiando o R&B suculento e revivalista dos anos 90 por ele praticado que, aliás, se traduziu num dos momentos mais vibrantes da cerimónia, quando levou a remistura de "Finesse" e a partenére Cardi B ao palco do Madison Square Garden.
3) Basta de migalhas para K-Dot
Ok, o virtuoso Kendrick limpou a categoria Rap e ainda triunfou na de Melhor Vídeo - num total de 5 prémios - mas há muito que é notório que a influência e importância geracional do autor de To Pimp a Butterfly extravasou claramente os domínios do hip hop. Vê-se nas rimas, na arquitectura das canções, na tomada de posição face ao estado da América e também nas elaboradas e constantes actuações magistrais com que nos brinda em cerimónias desta envergadura (e ontem não foi excepção). Os últimos VMAs souberam reconhecer a sua dimensão, mas a mais prestigiante gala de troféus ainda não lhe soube atribuir um prémio nas ditas categorias principais. Até quando?
4) Ed Sheeran ficou em casa como forma de protesto
E acho que ninguém sentiu muito a sua falta. É que precisamos todos mesmo muito de um bom interregno do ginger ninja. A Academia deve ter recebido tantos protestos pelo facto de o ter deixado de fora das categorias principais, que achou por bem atribuir-lhe os dois prémios a que concorria.
5) Jay-Z foi humilhado na sua cidade...
... mas quando se tem Beyoncé - pobre espectador que ficou atrás daquele chapéu - ao lado, ninguém precisa de troféus, right? Dos oito gramofones que se habilitava a vencer, saiu com zero e - possivelmente - de ego ferido, mas no combate a três entre Mars, Lamar e Jigga, alguém tinha que sair lesado. Na verdade nem ele nem a sua esposa foram protagonistas do momento da noite do clã Carter/Knowles: esse papel coube a Blue Ivy, que do alto dos seus 6 anos fez um royal shutdown aos papás que aplaudiam o discurso de Camila Cabello. P-r-i-c-e-l-e-s-s.
6) É difícil perceber as decisões de management de Rihanna
Ausente do lote de perfomers da cerimónia desde 2015, RiRi achou por bem voltar este ano para cantar o já esmorecido "Wild Thoughts", numa altura em que se encontra entre ciclos discográficos e não tem nada em mãos para promover. Em 2016 e 2017 não lhe passou pela cabeça que "Kiss It Better" ou "Love on the Brain" poderiam ter tido ali uma boa montra promocional. Enfim, a auto-sabotagem do costume.
Agora... valeu tanto a pena vê-la a celebrar - e é mesmo essa a palavra - efusivamente a vibração de "Wild Thoughts", que lhe desculpamos o blackout dos últimos dois anos. Há quanto tempo não a víamos tão envolvida numa performance, a dançar e a sorrir tanto?! Nossa, que abundância! É conservar essa energia para o resto do ano.
7) Onde estão as mulheres?
É certo que o ano que passou não foi de grande colheita para as artistas femininas, mas isso não pode ser utilizado como motivo para explicar a desconsideração da Recording Academy pela classe. Vejamos: num total de 86 categorias, apenas 17 tiveram uma artista feminina ou banda liderada por uma frontwoman como vencedora. O número decresce para 11 se excluírmos as bandas. E no decorrer da própria cerimónia, só por uma ocasião uma mulher subiu ao palco para agradecer um troféu. Questões raciais, qual quê? Parece que o principal problema a ser erradicado pelos votantes da Academia é mesmo a discriminação de género.
8) Lorde foi a principal discriminada da noite
Repararam que à excepção de Jay-Z todos os nomeados masculinos para Álbum do Ano actuaram durante a gala? Seria de imaginar que Lorde também tivesse a mesma oportunidade, mas tal foi-lhe negado pela organização, por questões de "alinhamento". Então e há espaço para Sting entoar pela 104ª vez um êxito com trinta anos de existência? A Academia tentou redimir-se dando-lhe a hipótese de actuar no tributo a Tom Petty com Chris Stapleton e Emmylou Harris. Claro, porque faria todo o sentido uma neozelandesa de 21 anos prestar homenagem a um ídolo norte-americano com quem nem partilhava afinidades musicais. Fogueira com eles.
9) Faz sentido tratar Alessia Cara ainda como novata?
Conhecemo-la em meados de 2015 com "Here" e editou o seu álbum de estreia, Know-It-All, no final desse ano. A aclamação aos olhos da Recording Academy só chega quase três anos depois, que lhe atribuiu o troféu de Best New Artist, "roubando-o" assim aos mais debutantes Khalid, SZA, Julia Michaels e Lil Uzi Vert. Tradicionais (e injustos) uma vez mais, pois nenhum deles teve tempo para alcançar os feitos que a jovem Alessia já alcançou. Temos que rever esses parâmetros.
10) Precisamos de mais Janelle Monáe na nossa vida
Nestas cerimónias há sempre alguém que chega ao palco e entrega o discurso da noite. Esse papel em 2018 coube a Janelle Monáe, que assinou uma bela prosa sobre o movimento "Time's Up", contra a discriminação que as mulheres enfrentam na indústria do entretenimento. Há cinco anos sem editar um álbum de estúdio, tem dividido o seu tempo entre a representação e colaborações pontuais com outros artistas. Mas os excelentes The ArchAndroid e The Electric Lady precisam de um irmão mais novo e a indústria da música de mulheres da sua fibra.
11) Kesha teve a armada feminina mais potente da noite
Ainda que tenham prestado mais apoio moral do que vocal, a presença em palco de Camila Cabello, Cyndi Lauper, Julia Michaels, Andra Day e Bebe Rexha veio reforçar ainda mais a mensagem daquele que bem poderia ser o hino do movimento. Kesha não esteve no seu melhor a nível vocal, é certo, mas longe vão os dias do auto-tune e da algazarra electropop. Nesse sentido, o cultivo da nova identidade pessoal e musical é desde já uma vitória.
12) Lady Gaga passou despercebida mas fez um brilharete
Acompanhada por Mark Ronson à guitarra, Gaga entoou primeiro "Joanne" ao piano e depois "Million Reasons" - um registo bem diferente daquele com que nos brindou o ano passado na parceria metaleira com os Metallica. Concisa, tocante e magnífica.
13) E que bem que Miley Cyrus amadureceu
Longe vão os dias do twerkgate... Miley Cyrus agora é uma senhora de respeito, envolvida em colaborações de respeito e a interpretar canções - adivinhem - de respeito. Pelos vistos Younger Now não foi só uma fase: pode ter arrumado as botas country, mas o decoro e o bom-senso continuam lá. E ainda bem.
14) Pink só fez acrobacias vocais desta vez
Ohhhhh. Eu sei, eu sei. Ainda não há muito tempo tivémos direito a uma prodigiosa actuação nos American Music Awards de "Beautiful Trauma" que simulou a gravidade zero e pôs em risco a sua vida, por isso não era de esperar outra aventura do género tão cedo. Em noite de statements, Pink juntou-se à causa com "Wild Hearts Can't Be Broken" - por acaso uma das menos bonitas do último álbum - e pautou-se pela simplicidade e capacidade de entrega da mensagem.
15) James Corden provou que ainda é o anfitrião certo
Mudaram os nomeados, mudou a cidade, mas não o anfitrião. James Corden voltou a ser recrutado como anfitrião e não desiludiu, tendo sabido dosear o humor e não desviar o foco dos convidados. Pontos extra pelo charme dos sketches: bom enquadramento com o Carpool Karaoke - Subway Edition e pela contextualização do polémico livro sobre Trump com convidados de luxo. Podemos voltar a tê-lo no futuro, mas porque não a aposta num rosto feminino para uma próxima edição? Ellen DeGeneres, Sarah Silverman ou Rebel Wilson dizem olá.
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