Doja Cat é uma superstar em potência
Ela é uma das figuras de proa de 2020, e tem em "Say So" um dos mais deliciosos híbridos pop-rap da última década. Mas se canções como "Like That", "Boss Bitch" ou "Freak" atestam a sua proficiência nos domínios das canções orelhudas, é no palco que Doja Cat mostra a verdadeira estrela em que se pode vir a tornar.
Vamo-nos concentrar, para o efeito, em duas actuações em particular, uma nos VMAs de Agosto passado, e outra nos Billboard Music Awards de há escassos dias:
1) O monólogo introdutório é qualquer coisa de genial. Um throwback aos tempos da MTV News e a ruptura com a norma daquilo em que se tornaram as actuações em cerimónias de prémios. Tem humor, personalidade e memória.
2) A imposição virtual dos VMAs deste ano foi benéfica para alguns artistas e limitador para outros. Claramente, Doja Cat soube tirar partido do código de conduta e fez do seu palco um habitat alienígena em constante mutação. Toda a cenografia e o figurino da própria Doja são de tirar o fôlego.
3) Isto é uma intérprete inteiramente confortável com o seu repertório. Reparem como se atira de cabeça logo ao rap de "Say So" e a uma secção funk, só para depois se instalar no refrão disco-pop que conhecemos. A confiança, a fluidez de movimentos e todo o espectáculo visual são dignos de nota.
4) A transição para "Like That" é feita sem mácula. O palco despe-se e toma um aspecto minimal, e ficamos apenas concentrados na força magnética de Doja Cat e da sua trupe. O dance breakdown é novo louvor aos vídeos pop dos noughties. Que arraso.
5) A noite pode ter sido de Lady Gaga - uns bons furos abaixo do seu melhor nível performativo - mas as melhores actuações ficaram a cargo de The Weeknd e Doja. Uma vez mais, os VMAs a assistirem ao nascimento de uma estrela.
1) Agora nos BBMAs, novo mónologo como chamariz. "Esqueçam tudo o que viram, e o que ouviram", avisa-nos ela embonecada dos pés à cabeça ao melhor estilo de dançarina de cabaret dos anos 20. O entusiasmo é palpável, a viagem promete tão valer a pena.
2) Aqui recorda "Juicy", o seu primeiro contacto sério com o mainstream, ao estilo de Chicago meets Crazy Horse. Nunca uma canção urbana e lasciva foi interpretada com tanta classe e elegância.
3) "Say So", uma vez mais, é a peça central da actuação. As dançarinas saem do palco e deixam Doja a sós com o seu brilho de estrela natural, entregue a um solo de dança com tons de The Great Gatsby. É tempo de a aclamarmos como dançarina nata. B-r-a-v-o.
4) "Like That" mantém-se como último acto, e é onde a reinvenção é mais estanque. Ainda assim, não há como não valorizar a forma como o palco, já fora dos seus limites, é utilizado para receber o dance breakdown. E aquele esgar triunfal ofegante no final tem muito de Beyoncé pré-2010.
5) Não é preciso ter medido a pulsação às outras actuações para sabermos que esta esteve entre as melhores da noite. Foi outra performance estelar, de nível dos Grammys.
Young lady, a continuarmos assim, vamos chegar às estrelas. O calendário próximo indica que a façanha poderá ser repetida já nos EMAs de 8 de Novembro. Dêem-lhe também os American Music Awards, SNL, os Grammys, e tudo o mais a que possa almejar. Ninguém vai querer sair deste parque de diversões tão cedo.
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