O que Astrid S andou para chegar até ao disco de estreia


Astrid Smeplass tinha apenas dezasseis anos quando ficou em 5º lugar na versão norueguesa de Ídolos, em 2013. Há pelo menos seis anos que edita inéditos a um ritmo constante, e há pelo menos quatro que saltou para os holofotes internacionais, altura em que a escutámos pela primeira vez

Sete anos e quatro EPs depois, edita amanhã por fim o seu primeiro longa-duração, Leave It Beautiful, e não há como não olhar para trás e recapitular aquele que foi o seu percurso até aqui: 

1) "2AM" (2014)- O primeiro inédito que lhe ouvimos depois do concurso, a tomar as noites de insónia contemplativa no pós-desvinculamento amoroso como inspiração e a pop electrónica de margens como direcção. 

2) "Hyde" (2015)- Um ano volvido, a evolução já era notória. Inspirado na história de Dr. Jekyll e Mr. Hyde, sobretudo na parte maléfica deste último, é o primeiro vislumbre daquilo em que Astrid S se tornaria. A voz e a marca autoral crescem, o cuidado estético expande-se, e a exploração da pop electrónica menos convencional encontra no conterrâneo Lido um aliado de peso. 

3) "Paper Thin" (2015)- Cartão de visita daquele que seria o seu primeiro EP, é a condensação perfeita da proposta dos singles anteriores, conjugada com uma maior humanização do seu som. O melhor de "Paper Thin", contudo, é a constante oscilação do seu tempo melódico, numa réplica de trepidação emocional.

4) "Hurts so Good" (2016)- Em 2016, o reconhecimento internacional. Ainda a melhor canção por ela assinada, "Hurts so Good" versa sobre a problemática de uma relação tóxica que teima em esmorecer, em ambiência pop electrónica nórdica com requintes de Celine. A voz, a melodia e os grafismos são deslumbrantes. 

5) "Breathe" (2017)- Depois do primeiro contacto com o mainstream internacional, a atracção pela pop mais convencional foi uma possibilidade. "Breathe" equivale a Astrid S no seu pináculo de popstar, chamando a si o sueco Oscar Holter, esteta de peso da primeira liga, e transformando a sua ilustração num mini-filme de acção com referências a James Bond e Mr. & Mrs. Smith

6) "Bloodstream" (2017)- Party's Over é o seu EP mais refinado, mas reserva uma boa surpresa em "Bloodstream" - sobre um amor que teima em sair da pele e da corrente sanguínea - um regresso à pop de margens noctívaga e mais obscura dos seus primeiros lançamentos, com balanço R&B conferido pela interpolação de "Knew Better / Forever Boy" de Miss Ariana. A produção é simplesmente incrível.

7) "Such a Boy" (2017)- A jóia do seu segundo EP estava, no entanto, em "Such a Boy", fascinante produção electropop sobre a indecisão e a inconstância de um parceiro numa relação. O vídeo joga bastante bem com essa premissa, relegando o papel de dramático num relacionamento para a figura masculina. De-li-ci-o-so. 

8) "Think Before I Talk" (2017)- 2017 foi um ano e pêras para a norueguesa. Fechou-o com chave de ouro ao som da pop mais límpida e minimal de "Think Before I Talk", acerca de quando a impulsividade numa relação se transforma em arrependimento. Deu-lhe o seu primeiro nº1 no país natal, bem como a sua melhor posição nas tabelas dinamarquesa e sueca. 

9) "Emotion" (2018)- A edição de Trust Issues proporciona-lhe a sua segunda power ballad, mais um notável pedaço de synthpop direita ao coração, desta vez confeccionado na forja do sueco Ali Payami, e que recebe inspiração em "Sorry Seems to Be the Hardest Word" de Elton John. 

10) "Someone New" (2019)- Demorámos mais de um ano a voltar a escutá-la no registo de bop electropop a que nos habituou. Ainda que mais ténue que esforços anteriores, "Someone New", sobre quando um ex esqueceu mais rapidamente a separação que nós, resplandece no seu figurino trendy de Jack & Coke com apliques adicionais de Charli XCX. 

11) "The First One" (2019)- Trust Issues guardava ainda um trunfo na figura de "The First One", nostálgica prosa nórdica sobre a incapacidade de apagar a marca do primeiro amor, transportando-a nos relacionamentos seguintes, que atesta bem o crescimento da pequena enquanto compositora e terapeuta dos assuntos do coração.

12) "Favorite Part of Me" (2019)- Menos de um mês depois do terceiro EP chegava o quarto, Down Low, e sentimos pela primeira vez que Astrid S estava a marcar passo. Não que esta bonita composição ao piano que versa sobre o quão maravilhoso é encontrarmos alguém que nos valorize tal como somos, não fosse boa o suficiente. Mas precisávamos de escutá-la noutro formato.


Até que 2020 chegou e trouxe-lhe a janela de oportunidade que tanto desejava. "Dance Dance Dance", "Marilyn Monroe" e "It's OK If You Forget Me" conduziram a Leave It Beautiful, agora editado. O momento é dela, por fim. 

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