REVIEW: Leona Lewis- I Am


Ao 5º álbum de estúdio Leona Lewis encontra-se enquanto artista e mulher - I Am é um dos discos mais honestos e concisos do ano.

Ano após ano é comum vermos os vencedores do The X Factor em apuros, seja para tentar iniciar uma carreira sem a luz dos holofotes e o generoso tempo de antena concedido pela participação no programa, ou para se manterem à tona muito depois da chuva de confettis os ter feito pensar que a sua vida tinha mudado ali naquele instante. Vejamos: o que é feito de Matt Cardle, James Arthur ou Alexandra Burke? Será mesmo que alguém se lembra de Shayne Ward, Leon Jackson ou Steve Brookstein? Não fosse pelos One Direction ou Little Mix e Simon Cowell bem que poderia colocar o seu lugar à disposição.

Depois temos Leona Lewis, provavelmente a maior história de sucesso do formato britânico, estimada e idolatrada tanto pela nação como além-fronteiras por muito mais tempo do que qualquer outro dos seus pares. Glassheart (2012) foi o início da espiral decrescente que o festivo Christmas, with Love (2013) ainda soube disfarçar mas que implicou uma mudança de rumo para que um novo álbum pudesse existir.

Para a voz de "Bleeding Love" o evento catalisador foi a saída da Syco Music em Junho de 2014 e a descoberta de um novo lar na rival Island Records. Ao bater com a porta a Simon Cowell - sim, foi ele o dispensado, não ela - Leona dava o passo mais arriscado da sua carreira, mas adquiria algo que nunca teve antes - total liberdade criativa.



O corte de amarras revelou-se acertado e I Am é o retrato ao espelho de alguém que finalmente percebeu onde e como quer estar na vida e na carreira. Transparente na composição, conciso na duração e coeso quanto às decisões de alinhamento, é capaz de ser o melhor corpo de canções que ouvimos da britânica.

O quarteto inicial revela-se nada menos que fantástico. "Thunder" é o canto da fénix renascida e "Fire Under My Feet" o combustível para a revolução interior que não podia mais ser adiada, ambos reminiscentes do cancioneiro de Emeli Sandé. "You Knew Me When" provoca o primeiro nó no estômago - "you knew me when I didn't know my worth/ didn't know how much I mattered" - com o condão lírico de Diane Warren, mãe-de-todas-as-grandes-baladas, enquanto o excelente tema-título pega nas influências trip hop primeiro exploradas em "Trouble" para a abordagem mais directa aos efeitos que a saída da Syco teve na sua vida ("I am with or without you/ I am breathing without you/ I am somebody without you") - é o coração do disco e a melhor chapada de luva branca possível a Mr. Cowell.



A synthpop borbulhante via 80s de "Ladders" traz à memória "Forgive Me" de Spirit e "Shake You Up" de Glassheart, ambas com idêntica inspiração; "Essence of Me", entoada na colina mais alta como sinal de libertação, soa a um encontro entre O Livro da Selva e O Rei Leão; "I Got You" e "Another Love Song" são as melhores investidas house/dance pop sem assistência de DJ em tempos recentes (e seria tão mais lucrativo terem um feat. Avicii ou David Guetta associado); "Power" nasce da mesma costela de "Love Me Like You Do", ambas a recapturar as baladas atmosféricas de Phil Collins; e um sentido "Thank You" como dedicatória a alguém que a tem acompanhado nos altos e baixos da vida, encerra o disco com palpável serenidade.

I Am constrói-se entre temas de auto-afirmação e de recuperação emocional, apresentando pelo caminho uma nova Leona Lewis que está francamente melhor sem Simon Cowell por perto e que vale ainda mais a pena acompanhar mesmo que a chuva de confettis e a luz dos holofotes não a iluminem como dantes. À voz, que já ninguém lhe tirava, junta-se agora o controlo criativo - e esse é só um dos maiores tesouros que um artista pode conservar pela carreira fora. Kelly Clarkson que lhe siga o exemplo.



Classificação: 7,7/10

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