Uma década de Katy Perry em 12 canções
Começou por ser a devassa que dava largas aos seus apetites bi. Pelo meio, mostrou-nos sérias qualidades de estrela pop enquanto nos brindava com perucas coloridas, doces revestidos de açúcar e um sem fim de atrevimento. Agigantou-se e tornou-se na maior estrela pop do universo, reflectindo as cores do arco-íris. Cresceu, viu-se a braços com uma crise de identidade e fracassou diante dos que a aplaudiram.
Katy Perry cumpre dez anos de serviço (quase) irrepreensíveis ao serviço do mainstream. E estes são os doze singles que melhor contam a sua história:
12º "Unconditionally", Prism (2013)- Katy Perry fazia do amor incondicional o mote para o segundo avanço do seu terceiro álbum. Tremenda power ballad de percussão ribombante e programação atmosférica sobre aceitação e inclusão, "Unconditionally" chegou ilustrado por um belíssimo vídeo com fotografia, edição e figurinos imaculados, numa espécie de sonho invernal arrancado às páginas do histórico Anna Karenina. Teria sido maior se "Roar" não tivesse demorado tanto a esmorecer.
11º "E.T.", Teenage Dream (2010)- KP apostava forte no filão sci-fi para o quarto single do seu álbum mais icónico: uma arrojada produção electro-hop de elementos techno e dubstep algures entre "We Will Rock You" e "All the Things She Said" acerca de um amor de outra dimensão, complementada por versos metafóricos de Yeezy sobre sexo alienígena. O vídeo imaginado por Floria Sigismondi resultou na narrativa mais complexa, conceptual e bizarra de Perry à data.
10º "Thinking of You", One of the Boys (2008)- Por algum motivo as baladas de Katy nunca tiveram um forte desempenho nas tabelas, não por falta de qualidade ou tentativas. "Thinking of You" é a mais impressionante e arrebatadora delas todas: escrita inteiramente pela própria e dotada de distintivas inflexões vocais que recuperam heranças de Alanis Morissette, está entre os melhores momentos do seu debute. Destaque para a história desoladora do vídeo, com assinatura de Melina Matsoukas.
9º "Dark Horse", Prism (2013)- É curioso pensar como Perry moldou o mainstream para aquilo que hoje conhecemos como trap-pop. Lançado primeiro a medo como single promocional de Prism - provavelmente nem Katy saberia muito bem o que fazer com ele - e mais tarde destacado para terceiro avanço do álbum, "Dark Horse" parecia introduzir um lado mais ousado e tenebroso da sua autora, que o embaraçoso vídeo sub-10 logo deitou por terra. É ainda o seu último grande hit à escala planetária.
8º "Chained to the Rhythm", Witness (2017)- Passavam quatro anos desde Prism e parecia que Katy tinha finalmente conseguido crescer com o seu público. Pois "Chained to the Rhythm" enganou-nos bem: aditiva construção disco-pop de tempero dancehall sobre despertar a consciência política e social numa América diabolizada por Trump, colocou Perry num patamar de pop "com propósito" que o mal-amado Witness não tardou em destruir. Pela primeira vez, Katy sentia o fracasso na pele - e todos chorámos interiormente.
8º "Chained to the Rhythm", Witness (2017)- Passavam quatro anos desde Prism e parecia que Katy tinha finalmente conseguido crescer com o seu público. Pois "Chained to the Rhythm" enganou-nos bem: aditiva construção disco-pop de tempero dancehall sobre despertar a consciência política e social numa América diabolizada por Trump, colocou Perry num patamar de pop "com propósito" que o mal-amado Witness não tardou em destruir. Pela primeira vez, Katy sentia o fracasso na pele - e todos chorámos interiormente.
7º "Roar", Prism (2013)- Iniciando a jornada do terceiro álbum exactamente no topo do mundo onde Teenage Dream a deixou, "Roar" foi nada menos do que pop imbatível e triunfante com assinatura da dupla Dr. Luke/Max Martin e uma gigantesca mensagem de empoderamento pós-divórcio que instantaneamente declarámos como mantra pessoal. Nada mais do que a maior estrela pop de então a soar como um astro da sua magnitude.
6º "California Gurls", Teenage Dream (2010)- Não demorou muito para que Katy cumprisse o potencial que as melhores propostas do disco de estreia deixavam antever. E, caramba, como ela vinha preparada (ou fine, fresh, fierce se preferirem) para dominar o Verão de 2010, à custa de uma irrecusável proposta disco/funk-pop para tostar ao sol e à beira-mar, que glorificava as moças da sua Califórnia natal. Começava aqui a sua caminhada enquanto Alice da Costa Oeste, num mundo de algodão, atrevimento e fantasia sem igual.
5º "Hot n Cold", One of the Boys (2008)- Uma década volvida e não se percebe muito bem como é que "Hot n Cold" ainda não foi alvo de estudos académicos, visto ser o derradeiro earworm dos tempos modernos. Frenético exemplar de dance pop sobre as variações temperamentais de um parceiro amoroso, percorreu com brio todo um jogo de antonímias e proporcionou a Perry um veículo para a sua personalidade boba e vibrante que "I Kissed a Girl" não revelou à primeira.
4º "Firework", Teenage Dream (2010)- Ok, talvez nunca nos tenhamos sentido como um saco de plástico à deriva no vento, mas já todos sentimos na pele o júbilo e a glória que um tema tão inspirador quanto "Firework" transporta. É o seu êxito de assinatura e o seu maior hit a não ser produzido por Martin ou Luke (os Stargate deram conta do recado) e Katy Perry está praticamente condenada para o resto da vida a fechar os concertos ao seu som. Há castigos piores.
4º "Firework", Teenage Dream (2010)- Ok, talvez nunca nos tenhamos sentido como um saco de plástico à deriva no vento, mas já todos sentimos na pele o júbilo e a glória que um tema tão inspirador quanto "Firework" transporta. É o seu êxito de assinatura e o seu maior hit a não ser produzido por Martin ou Luke (os Stargate deram conta do recado) e Katy Perry está praticamente condenada para o resto da vida a fechar os concertos ao seu som. Há castigos piores.
3º "I Kissed a Girl", One of the Boys (2008)- Beijar uma rapariga? A loucura. E assumir que gostou? O des-plan-te. Ai ai, custa imaginar um mundo em que a bisexualidade não esteja no centro da cultura pop e em que Katy Perry não habite nos lugares cimeiros dos tops. Tudo começou aqui, com um arrojado e infalível hino pop/rock de influências new wave acerca dos infindáveis encantos do sexo feminino. Caíram monóculos, ergueram-se sobrolhos e aguçaram-se apetites - hummm, too good to deny it.
2º "Last Friday Night (T.G.I.F.)", Teenage Dream (2010)- O sonho adolescente não fica completo sem aquela sexta-feira à noite de deboche puro e detalhes hilariantes. É essa crónica vívida e sem arrependimentos que fazem de "Last Friday Night" um tema tão compelativo e nostálgico, potenciado como sempre pelos pós de artesão-mágico de Dr. Luke e Max Martin. Mais: a para-lá-de-cómica narrativa de Kathy Beth Terry será sempre o zénite da videografia de Katy.
1º "Teenage Dream", Teenage Dream (2010)- Não só é a melhor canção alguma vez criada por KP, como uma séria candidata ao título de melhor canção pop dos anos 10. Tudo em "Teenage Dream" é incrível: da lírica apaixonante sobre um romance idílico e jovem no coração, passando pela simbiose entre os acordes e a melodia, até ao investimento emocional que Katy deposita em cada palavra. É genial no papel e ainda mais extraordinária quando ganha vida: durante 3 min e 49 seg sentimos todos os arrepios, borboletas e suspiros até então acumulados - e libertados uma vez mais. Não há objectivo maior a que uma canção, uma intérprete e produtores possam aspirar: a derradeira perfeição pop.
Que década estupenda e irrepetível. Estes foram os anos dourados de Katy Perry, mas a sua jornada está longe de terminar - que os próximos dez valham igualmente a pena.
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