Odisseia Musical: 2011, A Voz Redentora- Parte IV
Dizemos adeus a 2011, o ano que será para todo o sempre o "ano de Adele", recordando as outras 3 grandes figuras: Rihanna, Katy Perry e Coldplay.
Rihanna voltou a ter uns 12 meses estrondosos, novamente dividida entre duas eras. Na primeira metade do ano encontrámo-la de volta de chicotes e algemas no altamente sexualizado "S&M", deitada numa colcha de lã e lençóis de cetim na baladona FM "California King Bed", para mais tarde mergulhar nas suas raízes caribenhas e confessar um homícidio ficcionado na toada reggae de "Man Down", culminando num merecido tchim ao sucesso em "Cheers (Drink to That)". E eis que numa questão de escassos meses, a bem-sucedida era de Loud dá lugar à não menos aplaudida era de Talk That Talk, morada desse fabuloso colosso electro-house que responde pelo nome de "We Found Love", que acabaria por abafar o seu sucessor, "You da One". E com isto, Rihanna tornava-se na figura mais omnipresente do panorama musical.
As coisas também corriam de feição a Katy Perry que, propulsionada a todo o gás pelos grandiosos hits de Teenage Dream, assentou arraiais nos lugares cimeiros das tabelas, usurpando o título de maior estrela pop da actualidade a Lady Gaga. Vejamos: começou o ano ainda a apanhar as canas de "Firework", perdeu-se de amores por um alienígena nesse objecto de estranho apelo cósmico que foi "E.T.", fez com que a pop voltasse a ser sinónimo de diversão com o infalível "Last Friday Night (T.G.I.F.)" e só escorregou ligeiramente com "The One That Got Away", que ironicamente a impediu de estabelecer um recorde absoluto na Billboard Hot 100 - o de mais nºs 1 extraídos de um único álbum. Não obstante isso, deu início a uma bem-sucedida digressão mundial e ganhou todos os prémios que havia para ganhar.
Por fim, os Coldplay voltavam para cimentar o estatuto de maior banda do mundo, conquistado aos U2 há já uns anos atrás, com Mylo Xyloto, um álbum conceptual que conta a história de duas personagens: Mylo, o rapaz, e Xyloto, a rapariga, que vivem num ambiente opressivo e distópico governado por um vilão da pior espécie que pretende tirar o som e a cor do universo. É uma espécie de disco anti-crise no qual os Coldplay tentam reestabelecer a cor, esperança e alegria graças a um conjunto sólido de canções pop de estádio pintassalgadas de rock electrónico que os viu coleccionar mais dois êxitos para a sua vasta colecção: o luminescente "Every Teardrop Is a Waterfall" e o belíssimo "Paradise".
Os temas que mais me marcaram
3º Maroon 5 feat. Christina Aguilera- "Moves Like Jagger", Hands All Over
É um dos acasos mais felizes da década: como homenagear um dos grandes ícones do rock e renascer das cinzas, ao mesmo tempo, assinando pelo caminho um dos maiores hits de 2011. Tanto os Maroon 5 como Christina Aguilera atravessavam, à época, o seu período de menor sucesso comercial e eis que a sua sorte muda quando decidem integrar o painel de mentores do The Voice e fazer uma parceria com o intuito de tirarem "a barriga de misérias". Tudo o que bastava, afinal, era chamar produtores alheios - Shellback e Benny Blanco - ter um bom slogan (Jagger) e construir o tema respeitando as modernas tendências dance pop, visando uma obra intemporal e de apelo infalível. Funcionou às mil maravilhas, tendo proporcionado uma nova vida à banda de Adam Levine. Já Xtina não soube aproveitar a boleia...
2º Beyoncé- "Love on Top", 4
Bring the beat in! Há sempre um momento em que um artista, ainda em plena actividade musical, passa de estrela a lenda, garantia máxima de que perdurará por muitos e bons anos, incólume ao esquecimento. O álbum 4 assinala, para mim, o momento em que Beyoncé atingiu esse patamar com que tantos sonham mas que poucos alcançam e "Love on Top" foi a cereja no topo do bolo: uma extasiante canção de génese R&B e com elementos old school de funk, disco e pop via anos 80 com umas estonteantes 6 (!) mudanças de escala que me deixam sempre num estado de puro júbilo. É o pináculo da perfeição da sua discografia e um dos meus temas favoritos de todos os tempos.
1º Rihanna feat. Calvin Harris- "We Found Love", Talk That Talk
Só há dois temas capazes de superar "Love on Top" na minha lista pessoal: "Toxic" (primeiríssimo lugar na Odisseia de 2004) e "We Found Love", que encontra agora o seu caminho até ao nº1 deste capítulo. Não sei até que ponto se pode considerar tão revolucionário quanto este último, mas estou plenamente convicto que não há obra mais perfeita que esta nos domínios da pop feita nos anos 10. A começar pela produção de Calvin Harris - frenética, rodopiante e estridente - o seu grande momento de afirmação aos olhos do mundo, passando pela prestação vocal de Rihanna, tão dreamy e etérea, acabando no magnífico vídeo que ilustra o tema, uma poderosa narrativa que explora de forma sublime o amor jovem, louco, tóxico e auto-destrutivo, numa espiral de drogas e violência. Uma canção de amor e perda, eufórica e triste em iguais porções - se não for o maior hit de Rihanna, é seguramente o seu palmaré artístico.
Os álbuns que mais me marcaram
2º Beyoncé- 4
Foi ao 4º álbum de originais que se tornou claro que Beyoncé tinha entrado num outro patamar da sua carreira e criado um campeonato à parte da liga pop. O seu objectivo era devolver ao R&B o prestígio perdido e, como tal, fez um disco rhythm & blues dos sete costados onde também cabem influências do funk dos anos 70, pop dos anos 80 e soul da década de 90. É um valente clássico lançado numa era em que predominam a electrónica e canções formulaicas, desprovidas de alma e coração. Não deixa, por isso, de ser um extremo acto de valentia o que Beyoncé aqui fez - seguir os seus intentos artísticos em detrimento de canções seguras, sabendo que ao fazê-lo estaria a abdicar do sucesso comercial. Veja-se: a crítica aplaudiu, o público pouco ligou - daí que permaneça como o seu álbum menos vendido. É, de facto, um disco ímpar, incompreendido e heróico.
Este é o álbum de: "Run the World (Girls)", "Best Thing I Never Had", "Party", "Love on Top", "Countdown" e "End of Time"
1º Foster the People- Torches
Não sei ao certo o que me deu quando, numa noite de Junho, para descomprimir da tortuosa fase de exames em que me encontrava, decidi ouvir este disco sem nunca ter ouvido falar da banda que constava na capa. Parece ser daquelas coisas que acontecem porque tinha mesmo que ser, um salto de fé que podia ter corrido mal mas que se veio a revelar no acaso musical mais feliz da minha vida. Em Torches encontrei tudo aquilo que procurava e desconhecia, uma curiosíssima junção de indie pop, rock alternativo, indietronica e neo-psicadelismo que é estranha, excitante e extremamente apelativa em iguais porções, ou não tivesse o vocalista trabalhado como criador de jingles (melodias para anúncios) antes de ter criado a banda. Revolucionário, pois ditou o caminho a seguir para as bandas indie da nova década, e inesquecível, pela forma como o descobri e por me ter acompanhado fielmente desde então. Sem dúvida, um dos melhores álbuns que já ouvi ao longo da minha existência.
Este é o álbum de: "Pumped Up Kicks", "Helena Beat", "Call It What You Want", "Don't Stop (Color on the Walls)" e "Houdini"
Termina aqui a Odisseia de 2011. Falta apenas um capítulo para darmos por concluída esta viagem épica. Não percam.
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