Andava para escrever sobre isto #8

- De todos os êxitos fomentados pelo TikTok em 2021, "Telepatía" de Kali Uchis será porventura o mais interessante: uma cálida construção de pop psicadélica/dream pop bilíngue algures entre Tame Impala e o ícone latino Selena, que faz subir de tom o seu apelo comercial depois de um álbum de estreia já de si muito intrigante e aclamado. 

- Pasmemo-nos: a incursão em espanhol de Selena Gomez não é tão infeliz quanto poderíamos supor. O EP Revelación já por aí circula, e tem em "Selfish Love" o momento mais flamejante, que a volta a juntar ao produtor de "Taki Taki" para uma quente e sedutora infusão de house tropical bilíngue com um curioso vídeo a acompanhar. 

- O título de DJ britânico mais ubíquo da temporada já foi de Jax Jones, Jonas Blue ou Sigala. Agora cabe a Joel Corry, que já vai no terceiro hit consecutivo à prova de bala. No convidativo "Bed", une o charme de Raye ao status de peso de David Guetta, num tema que na verdade apenas deve ao arsenal do ex-Geordie Shore. Ainda que soe um bom bocado a "Lonely". 

- A impulsividade arruinou a campanha promocional do novo disco de Nick Jonas, anunciado apenas com duas semanas de antecedência e com dois singles bastante bons lançados um a seguir ao outro. Ninguém reparou, mas "Spaceman" é o melhor single do Jonas do meio à data: um híbrido pop-R&B com assinatura de Greg Kurstin que versa sobre a disconexão do mundo em tempo de pandemia. 

- Bebe Rexha não é de todo a artista pop mais consistente com os seus singles, mas acertou completamente com o lançamento de "Sacrifice": house noventista com ecos de voguing e um vídeo fabuloso que presta tributo à saga Blade e, enfim, às raves proibidas a que não podemos ir actualmente.

- Já era tempo de Bruno Mars cumprir o calendário e entregar-nos um novo disco. Em vez disso, juntou-se ao amigo Anderson .Paak e criou os Silk Sonic, que parecem prestar homenagem aos vultos soul e R&B dos anos 70, como bem indica o sublime single de avanço, já nº1 na Billboard Hot 100. Tudo certo, mas Mars está cada vez mais transformado num acto de tributo/oportunista vintage.