Calvin Harris- 18 Months

 
Esta semana escolhi o novo álbum de Calvin Harris, 18 Months. Não posso dizer que tenha sido um desafio, na medida em que já conhecia mais de metade do alinhamento (8 temas ao certo), mas é um álbum que já há muito esperava deitar a mão. Acompanho-o de perto desde 2009 e espero encontrar um disco não menos do que excelente. Isto é, 18 meses e várias colaborações de luxo depois só podem convergir num grande álbum, certo? Certo?! Sem dó nem piedade, aqui vai a minha opinião:
 
1) Green Valley- Não percebo que raio de introdução manhosa é esta, mas isto não começa de forma nada animadora. Aquilo que supostamente deveria ser um delicioso aperitivo não passa de um instrumental digno de um mágico circense cuja partner algo sedada debita intermináveis "Oh's". Só não lhe dou um 0 porque a sua duração não excede os 2 minutos. Francamente, Calvin. (3/10)
 
2) Bounce- Nada como recuar ao luminoso 1º single lançado em Junho de 2011 para recuperar do susto. Sob uma batida que parece saída de um jogo poeirento de um game boy e magnificamente interpretado por Kelis, "Bounce" continua tão apelativo e espectacular como no primeiro dia. (8/10)
 
3) Feel So Close- Um dos seus grandes problemas de sempre foi o facto de ser o próprio Calvin o vocalista dos seus temas, o que, convenhamos, não é algo que abone em seu favor. Felizmente este é o único tema ao qual dá voz e tal ousadia não ofusca nem mancha a qualidade de um belíssimo tema. (8,5/10)
 
4) We Found Love- Foi este o tema que elevou Calvin às alturas e que proporcionou a Rihanna mais um êxito esmagador, a acrescentar à já sua vasta lista de hits colossais, daí que seja completamente legítimo encontrá-lo aqui: o mérito é todo do DJ. Continua a ser brilhante e paradisíaco como no primeiro dia. "We Found Love" não é apenas um excelente tema, é a definição de tema pop perfeito. (10/10)
 
5) We'll Be Coming Back- De todos os 5 singles extraídos, este talvez seja o menos apelativo. Calvin alia-se ao também DJ/produtor Example e, sem entrar numa guerra de egos desmedida, desencantam uma potente pirotecnia de electro house e trance. O único senão é a interpretação, não muito convincente de Example. Mas porque raio os DJ's insistem em cantar? (7/10)
 
6) Mansion- Agora sim, isto é um instrumental digno. Recupero a confiança em Mr. Harris e só tenho pena de não ser um pouco mais extenso, pois até estava a gostar da batida e das suas agradáveis metamorfoses. (7,5/10)
 
7) Iron- Se David Guetta tem um incrível "Titanium" porque não pode Calvin Harris ter um "Iron", por sinal não menos incrível? Numa poderosa colaboração com o DJ holandês Nicki Romero, saltam faíscas por toda a parte. A batida parece saída dos Swedish House Mafia, mas o resultado é mais satisfatório do que o reportório do colectivo. É do mais pesado que Calvin já fez, mas sem ser agressivo. E isso agrada-me muito. (8/10)
 
8) I Need Your Love- Ainda não há muito tempo analisei este tema, mas parece que de lá para cá perdeu algum do seu encanto. É estranho ver Ellie Goulding num território que tanto a nível lírico e sonoro não evidenciam todas as suas potencialidades, apesar de Calvin cumprir com sucesso a sua tarefa. Gosto, mas gosto ainda mais quando tanto o DJ e o intérprete convidado brilham, o que aqui não acontece. (7,5/10)
 
9) Drinking from the Bottle- Ui, vejam só: temos aqui um badass que bebe directamente do gargalo! Pensava que este tipo de clichés estava reservado para DJ's baratos, mas parece que Calvin Harris não hesitou em descer de nível com uma tremenda facilidade. Tanto me faz que seja Tinie Tempah ou outro qualquer, simplesmente não consigo engolir isto. Deixem-me só dar a avaliação que merece antes que a ressaca me tolde os sentidos. (4/10)
 
10) Sweet Nothing- Ahhhh, nada como a magnânime Florence Welch para me fortalecer de novo o espírito. O mais recente single de 18 Months passa por irmão mais novo de "We Found Love", desta feita estrondosamente interpretado por uma Florence que troveja raios de electro house fulminante. Aqui a máquina é outra, mas a toada épica continua presente: é impossível resistir aos encantos desta voz de cabelos flamejantes. (8,5/10)
 
11) School- Novo momento instrumental, novo momento sublime. Algo funky, retro e descontraído, é a autêntica personificação do que Calvin Harris era capaz antes de ter conhecido os holofotes e de se ter rendido aos seus (des)encantos. (7,5/10)
 
12) Here 2 China- Tem precisamente o tipo de fibra que faltou a "Drinking from the Bottle". Com Dizzee Rascal ao volante, tem espírito grime, rimas acertadas e esbanja atitude. É "suja" sem ser reles e vulgar, é curta e vai directa ao assunto. Não só é boa na China como em qualquer outra parte do mundo. (7,5/10)
 
13) Let's Go- Aqui está outra velha conhecida da qual também gosto bastante. Enérgica e deveras contagiante, quase que corre o risco de cair na banalidade, dada a sua mensagem de incitação algo desgastada.  Não seria tão boa se não tivesse sido entregue a Ne-Yo, que, já aqui referi, tem especial apetência para transformar temas banais em hits. (8/10)
 
14) Awooga- Esta também já vem de tempos idos, tendo até sido utilizada num tema dos LMFAO. Começa bem, mas rapidamente entra numa espiral descendente e repetitiva, prolongando-se até a um ponto em que se torna quase insuportável. (6/10)
 
15) Thinking About You- Foi preciso chegar ao último tema para que os meus ouvidos rejubilassem de surpresa. O factor novidade está na desconhecida vocalista, Ayah Marar, que eleva o tema a outro nível. Quando começo a pensar que se assemelha a "Flashback", eis que uma pesquisa me revela que ambos são cantados pela mesma artista. Isso explica tudo: "Flashback" é o meu tema favorito do último álbum e agora cabe a "Thinking About You" essa honra neste disco. (9/10)
 
É chegada a hora de retirar conclusões. Tal como o nome indica, 18 Months teve um parto muito complicado, tendo colocado desde logo a fasquia bastante elevada. O que eu encontrei não foi um álbum dotado de poderes sobrenaturais, mas sim um álbum um tanto ou quanto desequilibrado, pairando ora entre a mediocridade, ora entre a excelência. O que se vê aqui é um DJ dividido entre a sua integridade artística e o compromisso comercial. A sensação que paira no ar, é que Calvin ficou a meio caminho de algo: o melhor seria ter feito um álbum duplo no qual um disco seria composto pelas colaborações e outro pelas suas próprias criações. Deste modo, nem os convidados brilham nem a sua veia criativa pode respirar. Começo a pensar até que ponto "We Found Love" não foi um presente envenenado: já diz o ditado que "com um grande poder vem uma grande responsabilidade" e Calvin Harris vê-se perseguido desde essa altura pelo fantasma de igualar um feito quase impossível. Está muito longe de ser o homem que em 2007 fez I Created Disco e que em 2009 assinou Ready for the Weekend. Das duas uma: ou volta a vestir de novo a sua bata de Mad Scientist e revoluciona a house music ou está condenado a ocupar o trono de David Guetta. Perde-se um revolucionário, ganha-se um novo rei.
 
Classificação: 7,3/10

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