Kelly Clarkson- Greatest Hits: Chapter One

 

Comemoram-se os 10 anos de carreira de Kelly Clarkson, e eu, como seguidor atento da sua carreira, não poderia deixar passar ao lado a edição do seu primeiro best of, intitulado Greatest Hits: Chapter One. Esta semana, proponho, por isso, revisitar uma das carreiras mais sólidas e fascinantes da última década. Sigam comigo nesta viagem nostálgica em que os maiores hits de Kelly serão ouvidos de outra perspectiva:

 

1) Since U Been Gone (de Breakaway)- Não há melhor maneira de começar se não com o tema que catapultou a carreira de Kelly a uma outra dimensão. Max Martin e Dr. Luke assinaram este colosso pop/rock com filamentos de electropop, ao qual Kelly se entregou na máxima potência. Não só marcou a viragem da sua carreira como implementou, com sucesso, a receita de hinos efervescentes aos desgostos de amor. 8 anos volvidos é um monumento pop, com toda a honra e toda a glória. (9.5/10)

 

2) My Life Would Suck Without You (de All I Ever Wanted)- O 1º single do seu 4º álbum manteve intacta a temática das várias faces do amor, mas veio acentuar a carga dance pop que anteriores singles já tinham deixado vislumbrar. Confesso que à época demorei a engraçar com o tema, mas hoje em dia coloco-o nos lugares cimeiros dos seus melhores hits. (9/10)

 

3) Miss Independent (de Thankful)- Aqui recuamos ao seu single de estreia, lançado há 9 anos atrás. Remonto aos meus primeiros tempos de melómano e lembro-me de ouvi-lo no extinto TRL (Total Request Live), da MTV. Construído à base de pop rock e R&B, não é dos seus hits mais memoráveis, mas o refrão inflamado já deixava antever que havia aqui um diamante em bruto por lapidar. Curiosidade: descobri agora que foi escrito por Christina Aguilera. (7/10)

 

4) Stronger (What Doesn't Kill You) (de Stronger)- Este ainda está fresco na memória. O tema título do seu mais recente álbum de originais é o seu single mais memorável e comercialmente bem sucedido desde "My Life Would Suck Without You". Emana poder do primeiro ao último segundo e é uma versão evolutiva, mas não menos digna de nota, dos seus êxitos mais antigos. (8/10)

 

5) Behind These Hazel Eyes (de Breakaway)- Foi com este tema que Kelly entrou definitivamente na minha vida. Há pouco falava do TRL e cada vez que oiço este tema lembro-me sempre do referido programa, visto que quebrou os recordes de permanência no nº1 (foram mais de 30 dias, se bem me lembro). De novo com Martin e Dr. Luke ao leme, "Behind These Hazel Eyes" foi um autêntico furacão, potenciado por uma interpretação devastadora. (9/10)

 

6) Because of You (de Breakaway)- É este "o" grande tema de Kelly Clarkson e pelo qual será conhecida para todo o sempre. Escrito pela própria e polido pelo homem que criou "My Immortal", foi inspirado pelo divórcio dos seus pais e é talvez uma das últimas baladonas do séc. XXI. Expôs todo o seu poderio vocal e ainda hoje continua a remexer algo cá dentro. (10/10)

 

7) Never Again (de My December)- Tenho uma grande estima por esta música, talvez porque é dos seus temas mais subestimados e encarado por muitos como uma mancha no seu percurso. Foi o 1º single que antecedeu a negra e caótica era de My December (a sua obra prima) e surgiu na altura pós-Breakaway, quando todos esperavam um novo hit. Não só é o seu single mais irado, como foi o seu grito de revolta contra a opressão que vivia. Aqui Kelly deixou bem claro que não estava para ser uma marioneta nas mãos da editora, e pagou caro por isso. Eu apreciei a coragem. Muito. (8/10)

 

8) Already Gone (de All I Ever Wanted)- É o seguinte: tenho um problema relativamente a esta música. Gosto muito da Kelly e do senhor que a compôs, Ryan Tedder, mas não tenho paciência alguma para ouvir o tema. A razão: é uma versão muito muito parecida a "Halo" de Beyoncé (também escrita por Tedder) e foi lançada contra a própria vontade de Kelly. Apesar de não ter culpa, este sim, é o momento mais infeliz da sua carreira. (6/10)

 

9) Mr. Know It All (de Stronger)- Lançada há pouco mais de um ano, é o perfeito exemplo do porquê de Kelly Clarkson ser uma força e uma voz com que todos se podem identificar. Quem nunca sentiu na pele o que é ser alvo de juízos de valor incorrectos a nosso respeito? Quantos serão aqueles que julgam que nos conhecem mas não sabem nem metade do que somos capazes? É o tema de Kelly com que mais me identifico e que guardo na mão, como um hino sagrado. (8/10)

 

10) Breakaway (de Breakaway)- O tema título do álbum que mudou para sempre a sua vida marcou o início de algo belo. Escrito por Avril Lavigne, foi criado para ser integrado no seu álbum de estreia, mas acabou por ir parar às mãos de Kelly, que na altura começava a ganhar asas e a transformar-se a olhos vistos. Foi o tema perfeito para o momento que atravessava e qualquer fã de Kelly guarda por este tema um enorme carinho. (8.5/10)

 

11) Don't You Wanna Stay (de Stronger)- À primeira vista pode parecer um pouco estranho encontrar este tema aqui, mas percebe-se o porquê: foi um dueto muito bem sucedido que demonstrou que Kelly é igualmente poderosa quando pisa território country. E, se qualquer resistência houvesse, dissipa-se quando a sua voz e a de Jason Aldean se unem. (8/10)

 

12) Walk Away (de Breakaway)- Lançado como 5º e último single de Breakaway, é um dos temas mais irresistíveis e contagiantes da sua carreira. Cada vez que o oiço, automaticamente lembro-me do seu vídeo bastante divertido e sou transportado para uma era da qual guardo óptimas memórias. Dou por mim a bambolear as ancas e de sorriso no rosto. (8,5/10)

 

13) Catch My Breath- O primeiro original do best of é uma excelente retrospectiva dos seus 10 anos de carreira, no qual a cantora reflecte sobre os erros do passado, promete não voltar a ser uma marioneta nas mãos de ninguém e encara o futuro de forma animadora. Torna-se melhor e melhor a cada nova audição e é um testemunho do mais genuíno que pode existir. Bravo, Kelly. (8/10)

 

14) People Like Us- Novo inédito, novo momento estupendo. Produzido por Greg Kurstin, encaixava na perfeição em Stronger, mas em boa hora que surge aqui nesta sua reflexão. Soa a algo que Pink poderia ter feito, mas é adequado às circustâncias que Kelly atravessa. Novamente qualquer um se pode identificar com o "us" que o tema retrata e isso é o que o torna tão bom. (8/10)

 

15) Don't Rush- É o 3º e último inédito da compilação e é incrível como cada um é tão diferente do outro. "Don't Rush" aponta novamente ao território country e fiquei de queixo caído logo à primeira audição, completamente rendido aos seus encantos. Andou 10 anos a criar odes aos desgostos de amor e, quando finalmente dá o braço a torcer, o resultado é espantoso. Inesperado, mas extremamente reconfortante. (8/10)

 

16) A Moment Like This (de Thankful)- Aquele que foi o tema que marcou a sua vitória na edição inaugural de American Idol, há 10 anos atrás, é uma balada obrigatória e reproduzida à exaustão. Ouve-se uma Kelly que, com apenas 19 anos, já mostrava um vozeirão de impôr respeito. Mal ela sabia o que a vida tinha reservado para ela... (8/10)

 

17) I'll Be Home for Christmas (de iTunes Session)- Não é a melhor maneira de encerrar um estupendo greatest hits, mas dada a proximidade da época natalícia, perdoo-lhe a inclusão. Além do mais, nunca tinha ouvido um tema alusivo ao Natal cantado por ela e devo-lhes dizer que me imbuiu logo de um espírito natalício. (7/10)

 

Terminada a viagem, chego ao fim com um grande sorriso no rosto. Não só revisitei os seus maiores êxitos, como revivi a minha infância, adolescência e entrada na maioridade. Evocar memórias é algo que a música é perita em fazer, mas quando os artistas nos são especiais, tudo é amplificado e a intensidade com que essas lembranças são revividas é maior. Ao ouvir este greatest hits, posso concluir o seguinte: este é o encerrar de um capítulo fértil em êxitos e conquistas, mas que dificilmente se repetirá. Isto porque de "A Moment Like This" a "Stronger", Kelly Clarkson ganhou fibra, sensibilidade e bom senso, bem como uma carapaça que lhe permite resistir à opressão que a indústria musical obriga. Acredito que daqui para a frente, Kelly se irá distanciar cada vez mais do rótulo de "destroçada" ou "vingativa", libertando-se das amarras do sucesso comercial e experimentando novas tonalidades, sonoridades e uma paleta de emoções mais vasta e garrida. Infelizmente, acho que o mundo ainda não conhece quem Kelly Clarkson verdadeiramente é, mas julgo que os próximos 10 anos se encarregarão de o mostrar. O horizonte é auspicioso, por isso venha daí o 2º capítulo!

 

Classificação: 8,2/10